Assim escreveu pós inspiração
Eni Carajá Filho/MG
Nhé Eky Iny povo nosso também aqui, na miséria ofertada no despotismo do tirano, onde a insensibilidade e a negação são seus principais pontos de um plano. Nós indígenas não daremos sossego, juntas e juntos a desmontar esse plano viu, resgatar a terra que vivemos, onde esse branco com as cores da bandeira segue a usurpar, mundo ocidental onde impera a desordem e o caos, mas em pó se implodirá e até mesmo na composição dessa fumaça que expulsa trem ruim. Vamos chamar o Grande Espírito, Tupã junto aos demais Deuses referenciados e cultuados por indígenas se juntarão numa só força, verão tudo isso que vem ocorrendo nessa vida em que se valoriza mais o dinheiro e o comércio e deixa o ser humano para trás, mundo racializado, onde tudo precisa ser mudado e a nossa casa voltar, ainda percebendo a doença Coronavírus de muita letalidade e omissão dos registros de nossos parentes que se foram ao encantamento de luz, convoca os indígenas de real efetividade e originalidade a sentar nessa roda a beira de uma linda e representativa fogueira, evocaremos as perdas para o desmatamento que não acaba, e que permite levarem nossas matas como se fossem meras madeiras ou lenha que caem dos galhos, mas com firmeza e muita ação de caboclo e dos protetores dessa florestas vamos mostrar que com a mãe Terra e a natureza não se brinca, seguiremos repasassando as forças espirituais e ancestrais aos Pajés, Xamãs, Rezadeiras, Benzedeiras, Erveiras, as Mulheres indígenas que também são contracoloniais, os plantadores e artesãos a seguirem na ação coletiva defendendo cada ser indígena frente aos desatinos verbais e reais que são desferidos para acobertar os madeireiros, garimpeiros, mineradores na essência do dono do capital que é o ser neoliberal, reproduzidos nos mandantes genocidas, até que todos caiam um sobre o outro enterrando a maldade e propiciando assim novas florestas, reflorestamentos, esparramento de sementes, novas irmãs da Mãe terra, novas germinações dos que eles consideravam extintos. Somos raízes, somos troncos vindos de sementes que jamais deixarão de germinar, de provocarem a chegada das flores e de espalhar indígenas pelo mundo pois indígena é indígena onde ele estiver.
Desse jeito estaremos também lutando por aqueles que se encontram nas cidades.
ENI CARAJA/MG
Missa Afro em minha vida: testemunho pessoal de um padre negro (por que não a Lei 10639/03 na Igreja?)
Hoje, 20 de novembro de 2021, Dia da Consciência Negra, celebramos 40 anos da Missa dos Quilombos. Nossos passos vêm de longe... É, seguramente, um grande patrimônio na marcha do catolicismo no Brasil, ponto inicial para a Pastoral Afro Brasileira, que integra a CNBB, construir, na força do Espírito antirracista de Deus, a denominada "Missa Afro". 40 anos não são quarenta dias ou quarenta meses. Aclamada, atacada, perseguida e desejada, as missas afro, de certo, constituem, de forma pública, um dos pouquíssimos momentos, no interior da Igreja Católica, marcadamente branca, de diálogo com as Áfricas e a história do negro no Brasil.
A propósito, da minha parte, considero que qualquer diocese do Brasil que tenha se beneficiado exaustivamente do sangue dos escravizados e não tenha abraçado, como ato de reparação e alinhamento com emancipação da população Negra, a Lei 10639/03, que faz obrigatório o Ensino da história da África e no Negro no Brasil, está, ipso facto, de algum modo, desautorizada a falar que é solidária à causa do Negro. Quantas dioceses no Brasil (seminários, institutos, escolas católicas e universidades) abraçaram a Lei 10639/03?
Como a Igreja pode amar aquilo que não quer conhecer?
A ignorância é combustível da Intolerância!
O Documento da V Conferência do Episcopado Latino Americano e Caribenho (Documento de Aparecida) reconhece o olhar de menosprezo que a sociedade tem para com a cultura e religiosidade do povo negro e fala da necessidade da "descolonização das mentes". Mas, como descolonizar sem investir no conhecimento?
Seguramente, a maior parte do olhar, da suspeita e dos ataques (e silenciamentos também) que a Igreja produz com relação às produções culturais e religiosas da população negra, incluindo a Missa Afro", está marcada pela mentalidade colonizadora.
Dizendo de outro modo, é impossível a Igreja ser aliada da afirmação e emancipação da população negra, como afirma o Documento de Aparecida, sem mudar a sua mentalidade COLONIALISTA; que, inclusive, se dá o absurdo direito de decretar o que é "Afro"e o que é "pseudo Afro".
O colonizador nunca (e nunca mesmo) vai abrir mão da pretensão de dizer com arrogância o que é verdadeiro e o que é falso, o que é belo e o que feio, o que deve viver e o que deve morrer.
Em minha experiência pessoal, as Missas Afro foram decisivas em meu processo de construção da consciência negra e, consequente, enegrecimento.
Praticar missa Afro, estudar e refletir com agentes de pastorais negros, certamente, forjou o homem que sou e fez com que despertasse em mim o desejo e a missão de dedicar parte significativa dos meus estudos acadêmicos, por exemplo, aos saberes africanos e diaspóricos: no doutorado em ciência da religião (PUC-SP) tratei sobre Abdias e Exu, no mestrado em Teologia (PUC-RJ) sobre candomblé e cristianismo, no TCC em psicologia.(PUC-RJ) sobre roda de samba e mandala, na pós em psicologia Junguiana (IBMR) sobre Exu e o inconsciente coletivo e na pós em História da África e do Negro no Brasil (Cândido Mendes) sofre oralidade.
Entre outros campos de atuação, atuei na Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro (CCIR). Em 2010, pelo Centro de Articulação das Populações Marginalizadas (CEAP), ganhei o prêmio Camélia da Liberdade, na categoria de personalidade do ano, pela luta em defesa da população negra.
Como a Missa Afro não enegreceu o meu viver?
Confessadamente, a Missa Afro teve em minha vida um poder enegrecedor de real grandeza. Fez parte decisiva do meu enegrecimento. E quando falo "Afro" estou falando muito mais que uma localização geográfica; da mesma forma, quando falo "Negro" falo de algo muito além da cor da pele. As coisas não são tão simples assim... Tornar-se Negro é um processo, uma caminhada; é uma descoberta. E é isso que o catolicismo colonialista e ESCRAVOCRATA teme e tenta impedir; mas o Espírito Santo de Deus é antirracista!
Há liturgias que levantam a nossa cabeça e nos ajudam a quebrar os grilhões da escravidão (que estão dentro e fora de nós). Essas liturgias eu não encontrei no Seminário! Lá nunca, mas nunca mesmo, ouvi sequer o nome de Zumbi dos Palmares.
Repito: a ignorância é combustível da intolerância!
Eu devo muito à Missa Afro; mas só missa não basta: por que não a Lei 10639/03 na Igreja?
É hora de "descolonizar as mentes" e os corpos... Escreve Franz Fanon em tom de prece: "Ô meu corpo, faça sempre de mim um homem que questiona!". Então, "A quem serve o silêncio dos tambores?".
Não estou discutindo ritos, teologias ou normas litúrgicas. Estou falando de minha vida... Ou isso não vale?
Mas, o padre Jesuíta Luis Corrêa Lima, doutor em História e professor de Teologia da PUC-RJ, escreve num artigo que a Missa dos Quilombos (40 anos hoje!) "é pioneira nesta causa, unindo as vidas negras à memória sacramental da morte e ressurreição de Jesus".
E quarenta anos não são quarenta dias... Merece respeito!!!
"Querem acabar com o samba. Madame não gosta que ninguém sambe. Vive dizendo que samba é vexame. Pra que discutir com madame?".
Valeu Zumbi... E viva Cristo Rei!
PADRE GEGÊ
Como dizem os Poetas;
"Ninguem nasce com racismo,
Isso é uma arte criada pelos adultos.
Consciência
A consciência não é um sentimento,
É uma escolha...
E esse garimpo, devemos estar explorando a cada segundo...
Ela está no oculto de cada pensamento..
Uns, cheio de espinhos,
Outros, transbordando odores..
Mas,
Nem tudo que é espinho, é letal,
E nem toda fragrância, vem das flores...
Sou Negro
Genildo Mateus
Sou negro, não sou mercadoria
Sem cor me cativo, sem identidade,
Sou África sem dor
Reencarnação de uma luta
De um reinado em esplendor
Em uma nação, sem honra e conduta
Jorra o sangue enxerto fecundo
Pelas correntes em lacre
De um tronco raso e profundo
Sou negro, sem alma
Sou negro de cor,
Sou negro da África
Negro feito de dor
Sou negro, não sou mestiço
Com seu corpo feito escudo,
O chicote grita em açoite
Numa cor emergente
Entre o dia e a noite
Corta a carne de um valente
No silêncio em crendice
Dos espíritos que invoca
Num rito de curandice…
Tentou apagar minha trajetória
Calúnias, difamação
Atacou minha moral, minha honra.
Mas, eu continuo andando, vou seguindo em frente
Quando tentei participar
Boicotou-me?
Justificava que era pelo bem
E me pergunto, de quem?
Excluída e deprimida continuei andando
Vou seguindo
Recebo luz e vou iluminando por onde passo
Minha luz é igual ao sorriso da Oxum
Que lembra e representa força
Toda esperança necessária
Continuo andando
Queria me destruir?
Humilhar e me deixar na pior?
Fragilizada e lágrimas pelo chão,
Tolhida, reprimida e sem amigos?
Minha confiança incomodava?
Óbvio que sim!
Porque mesmo entre os destroços
Que você me colocou
Eu continuo andando e
Transformando o mundo enlamaçado
Que você me jogou
Continuo andando!
Eu continuo!
Ressurgindo!
EXAME DE CONSCIÊNCIA
Você, que detesta pretos
Será que tem coração?
Perdido em um coreto
Gritando: “Separação”!
Você e eu, todos nós
Repletos de preconceito
Erguendo a nossa voz
Falando assim desse jeito
Como se eles fossem lodo
Somente por sua cor
Com petulância e arrogância
Desdenhamos seu valor.
Seguindo assim pelo mundo
Com essa soberba vã
Taxamos negro de imundo
afastando a pele irmã.
Mas fico pensando agora
e quando chegar minha hora?
Ah, meu Deus! E se eu morrer
Hoje, agora, amanhã?
Num'a viagem esquisita
Com gente feia e bonita
Lá eu fosse recebida
Sem ser amada ou querida
Por um porteiro aleijado
como aqueles que eu gozei?
Viesse abrir a porta
Olhando minha vista torta
Igual a que eu critiquei?
Se a sua mão calejada
Tateasse pela entrada
Como as mãos de muitos cegos
Que eu nunca ajudei!
Se os choros que provoquei
Ecoassem em meu ouvido
Mostrando o quão iludido
Eu fui pela vida afora
Se uma criança agora
Me tomasse pela mão,
Entoando uma canção
Daquelas que eu não cantei
E sorrindo me levasse
Por um corredor florido
Perfumado colorido
Com flores que eu não plantei?
Se eu sentisse o chão frio
Me provocando arrepios
Como aqueles dos presídios
Que eu jamais visitei?
Se eu visse cair as paredes
De orfanatos e creches
Que eu nunca ajudei?
E se a criança tirasse
Os corpos pelo caminho
Que eu, ser muito mesquinho
Corpos que eu não levantei
Dizendo que eles eram
Epiléticos, embriagados
E os deixava jogados
Largados pelo caminho
Que ser humano mesquinho
Atende pelo meu nome
Julguei fossem vagabundos
Mas era somente fome!
Meu Deus!
Que fiz eu?
Agora me envergonho
Em pronunciar seu Nome.
E se mais um pouco adiante
A criança num rompante
Cobrisse o corpo nu
Da prostituta que eu usei
Do pobre que eu não olhei,
Da idosa que ignorei
Da mulher que eu desrespeitei
Ou da mãe que nunca amei?
O corpo de alguém exposto
Largado ali na calçada
Jogado por minha causa
Pois não estendi a mão
Magoei-lhe o coração
Sei lá, eu só dei desgosto?
E no fim do corredor
Vejo meu livro exposto
Inicia a decepção.
Que raiva, que desespero,
Se eu visse o mecânico
O operário, o vizinho
O maldito funcionário
E até mesmo o padeiro
Sorrindo todo faceiro
Todos riem, não sei de quê
Ah! Sei sim
É da minha decepção.
Deus não está vestido de ouro. Mas como?
Trajes de couro?!
Tão simples como eu não fui
Humilde como eu não sou
Debochei até do amor
Deus na cor que eu não queria,
Deus nas faces que eu não via
E sem a classe imponente
Deus simples! Deus negro!
Deus negro?
E Eu…?
E agora eu descubro
Que sou um trapo de gente
Fui racista e egoísta
E só soube perseguir
Naquela pessoa preta
Tinha prazer de cuspir
Nunca lhe dei um sorriso
Nunca lhe apertei a mao
Mas meu Deus, você é negro!
Tremenda decepção!
Eu aqui vou ter morada
Ou vou dormir na escada?
Que nada!
Ele vai me dar apenas
Aquilo que eu plantei
Ao preto não empreguei
Somente o rosto virei
Será que me dá um canto?
Ou me cobre com seu manto?
Acho que vai me lembrar
Da bofetada que eu dei.
Eu não podia adivinhar
Que eu ia te encontrar
Naquele preto engraxate
Que da minha porta expulsei.
Pregaram você na cruz
E você me prega uma peça
Eu me esforcei a bessa
Mas não acertei em nada
Apenas dei gargalhada
Se me falavam de amor.
Hoje sei que não sou nada
Pois via somente a cor .
Autoria da professora Alba, poetisa do entorno/ GO
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