GRITOS DE INDEPENDÊNCIA E OUTROS GRITOS
No final do século 18, o Brasil-Colônia tinha pouco mais de 3 milhões de habitantes. A metade era formada por escravos. Eles faziam as atividades produtivas mais importantes da Colônia: agricultura, produção do açúcar, mineração, transporte, abastecimento de água, limpeza urbana, serviços domésticos.
Havia ainda as pessoas livres e pobres. No campo, cuidavam das roças, dos animais e do gado. Nas cidades, trabalhavam no comércio, eram vendedores ambulantes, artesãos ou aprendizes, soldados, empregadas domésticas...
Escravos ou pessoas livres e pobres eram uma gente sem direitos. Só valia quem pertencesse às grandes famílias, ou fosse alto funcionário do governo, grande comerciante ou fazendeiro.
Para as famílias dominantes, o Brasil existia para exportar matérias-primas e produtos agrícolas para o mercado europeu e importar produtos manufaturados.
Toda a riqueza que saía da Colônia ia para Portugal, mas não ficava lá. Portugal era apenas um intermediário. Quem comprava a produção do Brasil era a Inglaterra que aproveitava para vender seus produtos a Portugal por preços muito mais altos. Assim, era a Inglaterra que mais enriquecia com a produção do Brasil.
Que vantagens levavam nisso tudo o Rei de Portugal e sua corte?
Eles também enriqueciam com os impostos que os senhores de engenho e os comerciantes deviam pagar sobre a produção e as mercadorias.
Mais ou menos no começo do século 18 (ano de 1700), começou a extração do ouro em grande quantidade em Minas Gerais. Os proprietários das minas tinham que pagar altos impostos à Coroa Portuguesa.
Outra fonte de enriquecimento para os portugueses era o comércio. Os portugueses dominavam o comércio dos artigos importados: produtos alimentícios, roupas, ferramentas, material de construção, tudo. Mas, o abuso na cobrança de impostos e a exploração no comércio começaram a irritar os proprietários ricos do Brasil.
Esse descontentamento contra o domínio do Rei de Portugal por parte dos colonos brancos expressou-se de diversas formas, inclusive através dos movimentos nativistas. No Maranhão, por exemplo, em 1684, houve a Revolta de Beckman. Em Minas Gerais, no começo do século 18, houve a Guerra dos Emboabas. Na mesma época, houve a Guerra dos Mascates, no Nordeste.
Mas, o que estava acontecendo, na verdade, começa a ser percebido por muito mais gente: a decadência de Portugal. A produção era pouca e a Corte gastava tudo em banquetes e compra de artigos de luxo da Inglaterra e da França. E o Brasil tinha que compensar tudo isso.
Começa a surgir o desejo da Independência
Situa-se aqui a Inconfidência Mineira, com Tiradentes à frente. No mesmo período, surge também a Conjuração Baiana.
A Inglaterra também queria livrar-se dos intermediários e vir negociar diretamente com o Brasil. Ela estava passando por um grande desenvolvimento de suas indústrias e necessitava dos produtos brasileiros: açúcar, ouro, algodão, couro, madeiras e outros.
Mas, enquanto Portugal dominasse o Brasil, não permitiria que outra nação viesse negociar diretamente aqui. Os lucros dos intermediários e os impostos da Coroa Portuguesa encareciam as mercadorias para a Inglaterra. Sem Portugal no meio, a Inglaterra compraria mais barato o que precisava do Brasil.
Assim estava a situação lá por 1800: os ricos do Brasil e da Inglaterra queriam livrar-se do domínio português sobre o Brasil.
Um fato apressa a Independência
Em 1808, a França estava em guerra com a Inglaterra, disputando mercados. Para prejudicar a Inglaterra, o Imperador da França, Napoleão Bonaparte, mandou que todas as nações da Europa fechassem seus portos para os navios ingleses. Assim, a Inglaterra não poderia mais negociar com ninguém.
Portugal era tradicional “aliado” e devedor da Inglaterra. De início, não obedeceu a determinação de Napoleão. Depois, foi obrigado a ceder e fechou os portos à Inglaterra. Esta enviou uma esquadra à Portugal e ameaçou bombardear Lisboa.
Ao mesmo tempo, a Inglaterra apresentou uma solução: os ingleses ajudariam a Corte Portuguesa a fugir para o Brasil e, além disso, comprometiam-se a ajudar as tropas portuguesas a enfrentar o exército de Napoleão.
O Rei de Portugal, Dom João Sexto, foi obrigado a aceitar a proposta e partiu para o Brasil com nobres e ricos lotando 36 navios.
Chegando aqui, os ingleses pediram um favor em troca de sua proteção na viagem. Exigiram que o Rei abrisse os portos às “nações amigas”.
Quem eram estas “nações amigas”? Na prática, era apenas a Inglaterra mesmo. As outras nações estavam em guerra junto com a França e, portanto, eram inimigas. Além disso, Portugal fez um tratado comercial com os ingleses. Por este tratado, os ingleses tinham muitas vantagens nos impostos. Vantagens que não seriam concedidas a outras nações.
O tratado ainda deu direito aos comerciantes ingleses de abrirem suas casas comerciais aqui. Agora, a Inglaterra podia negociar diretamente com o Brasil, ganhando maiores lucros.
Independência para quem?
Em abril de 1821, o Rei voltou para Portugal. A guerra já havia terminado, mas não havia mais condições do Brasil continuar como Colônia Portuguesa.
Negociando diretamente com os ingleses, os proprietários e comerciantes daqui já não precisavam de Portugal para nada. Por isso, convenceram o Príncipe Dom Pedro I, que tinha ficado no Brasil, a proclamar a Independência.
O Príncipe assim o fez, com o apoio dos navios de guerra ingleses que ancoraram em nossos portos. Ele, então, passou a ser o Imperador Dom Pedro I.
A Independência do Brasil foi proclamada em 7 de setembro de 1822. A partir daí, nossa terra passou a ter seu próprio governo formado pelo Imperador, com representantes das classes proprietárias e comerciantes do Brasil. Mas, agora, nosso país dependia muito mais economicamente e financeiramente da Inglaterra.
Os escravos e trabalhadores pobres não ganharam nada com a Independência do Brasil. Para eles, tudo continuou igual. Quem levou vantagem foram as classes dominantes daqui e da Inglaterra.
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