SÍTIOS HISTÓRICOS DA DOR
Tive a imensa honra de participar nesta terça-feira, 28/11, na condição de artista convidado, da abertura simultânea de dois eventos bastantes significativos, fruto da cooperação internacional entre a Universidade de Licungo de Moçambique e a Fundação Souzândrade (Universidade Federal do Maranhão), a saber:
- 1ª Conferência Internacional sobre Contextos, Desafios e Possibilidade: Cooperação Fundação Souzândrade e Universidade Licungo de Moçambique.
- 2ª Conferência Internacional sobre Educação, Tecnologia e Cultura no contexto dos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável.
Na breve fala que me concederam, antes de apresentar a canção inédita de minha autoria “Pequena Grande África”, fiz menção a dois acontecimentos que têm um elo de ligação bastante estreito: o tráfico e a comercialização de milhares de meus ancestrais escravizados, trazidos do continente africano, e desembarcados nestes espaços, onde estão sendo erguidos monumentos vinculados a estas memórias – o Cais de Valongo e o Monumento à Diáspora Africana.
O primeiro, localizado na região reconhecida popularmente como Pequena África, que compreende os bairros da Saúde, Santo Cristo e Gamboa, na cidade do Rio de Janeiro; o segundo, na recém inaugurada Praça das Mercês, no coração do Centro Histórico de São Luís, no tradicional bairro do Desterro.
Por ter passado grande parte da infância, adolescência e juventude nesta região da capital ludovicense, as águas da memória me conduzem, literalmente, para outras águas, quando ainda não havia sido construído o Aterro do Bacanga, e costumávamos tomar banho de maré, saltando de uma enorme pedra, situada nas imediações da Fábrica Oleama, uma das maiores indústrias oleaginosas da época do Maranhão.
Lembro também de muitas peladas disputadas num campinho, naquela localidade que chamávamos de “Dique”, e de uma curiosidade das irregularidades geográficas deste inusitado estádio, que abrigou memoráveis partidas entre times formados por inesquecíveis nomes do nosso futebol: Djalma Campos, Assis, Pindura, Pelé, Campos (goleiro do Moto Clube) etc. Este local, de certa forma também nos protegia das investidas da polícia, que costumava caçar os dedicados peladeiros, associados à vadiagem.
Além do completo desnivelamento, quem estivesse postado em uma das cidadelas (trave na linguagem popular) não conseguia enxergar a outra, pois o prédio de uma usina de arroz (Cruzeiro, se não me engano) impedia a visualização completa da outra meta. Só mesmo muita secura de bola para atuar naquelas condições e circunstâncias totalmente improváveis, com direito a torcida e ao concorrido “desafiado”.
No livro “Tia Ciata e a Pequena África no Rio de janeiro”, do pesquisador e cineasta carioca Roberto Moura, há uma destacada referência ao mercado de escravos de Valongo (1774 – 1831), situado na Pedra do Sal (memória da migração dos baianos e da criação dos ranchos carnavalescos). Logradouro também lembrado pela letra do poeta e compositor Aldir Blanc, na música em parceria com o também compositor e cantor João Bosco, censurada pelo regime militar, “O Mestre-Sala dos Mares”: “Salve o navegante negro / Que tem por monumento / As pedras pisadas do cais”. Na letra original o verso continha a expressão “almirante negro”, o que era considerado um verdadeiro acinte para as forças armadas.
A premiada arqueóloga carioca Tania Andrade Lima, em 2011, durante escavações na zona portuária do Rio de Janeiro, descobriu vestígios do Cais de Valongo, que haviam sido propositadamente soterrados; quem sabe para esconder a vergonhosa chaga da escravidão, e o local por onde se estima terem aportado mais de um milhão de africanos escravizados. Em 2017, o Cais de Valongo entrou para o rol dos doze sítios históricos da dor, assim reconhecidos pela Unesco, como locais de memória e testemunho de verdadeiras tragédias pelas quais passaram consideráveis contingentes de pessoas humanas. Agora, Patrimônio Mundial.
Uma das artistas negras maranhenses selecionadas para construir um dos painéis do Monumento à Diáspora Africana, a ser inaugurado no próximo dia 30 de novembro na citada Praça das Mercês, a escultora Tassila Custodes, em publicação divulgada recentemente na internet pelo Instituto Cultural Vale, ressalta a importância do monumento com a seguinte ressalva: “Obviamente, sem esquecer ou até mesmo sem romantizar todo o processo criminoso a que nossos antepassados foram submetidos.”
Conforme informações contidas nesta mesma postagem do Instituto Cultural vale: a Praça das Mercês abrigará o Monumento da Diáspora Africana, que busca visibilizar a contribuição do povo negro para a cultura e a identidade do Maranhão. Informações sobre as datas, os nomes dos portos de embarque, os nomes dos navios e a quantidade de africanos de diversas nações desembarcados no Maranhão entre os anos de 1693 e 1844. Oito artistas negros do estado elaboram painéis que irão compor um monumento para resgatar o enraizamento afro cultural deixado na culinária, na fé, na dança, nos ofícios e nos modos de fazer.
Cotejando estes informes históricos e arqueológicos, podemos inferir que também por aqui tivemos o nosso sítio histórico da dor, local matizado pelo desembarque de milhares de negros escravizados trazidos do continente africano. As proporções podem não ser equivalentes, porém a tragédia não pode e nem deve ser minimizada e/ou banalizada.
“Valongo, portal de tanta desdita / Um sítio, memória da nossa dor / Merece uma outra versão escrita / Com a letra e a tinta / Dos versos retintos da minha cor”
(*) poeta e compositor
Infelizmente, isso é um processo inerentemente no capitalismo. E sim, a descolonização da África, da Ásia e das Américas não foi 100% completa. Assim como a Ucrânia está passando por um processo de pseudodescolonização trocando o que é soviético e russo pelo que é dos EUA, da OTAN, e da UE. Só mesmo com o fim do capitalismo e do neoliberalismo para termos um mundo realmente melhor. E claro, sempre devemos lembrar do Abismo e dos deuses, como um abzuniano, os buracos negros e a heat death do nosso universo realmente me fazem lembrar que temos totais condições de sermos uma civilização futurista no sentido de um cyberpunk positivo de esquerda radical e comunal. Mas infelizmente, a humanidade está bem longe de abraçar o abismo e os deuses...
ResponderExcluirUnfortunately, this is inherently a process in capitalism. And yes, the decolonization of Africa, Asia and the Americas was not 100% complete. Just as Ukraine is going through a process of pseudo-decolonization, exchanging what is Soviet and Russian for what is from the USA, NATO, and the EU. Only with the end of capitalism and neoliberalism will we have a truly better world. And of course, we must always remember the Abyss and the gods, as an Abzunian, the black holes and the heat death of our universe really remind me that we are fully capable of being a futuristic civilization in the sense of a radical left-wing and communal positive cyberpunk . But unfortunately, humanity is far from embracing the abyss and the gods...
Desafortunadamente, esto es inherentemente un proceso en el capitalismo. Y sí, la descolonización de África, Asia y América no fue completa al 100%. Así como Ucrania está atravesando un proceso de pseudodescolonización, intercambiando lo que es soviético y ruso por lo que es de Estados Unidos, la OTAN y la UE. Sólo con el fin del capitalismo y el neoliberalismo tendremos un mundo verdaderamente mejor. Y, por supuesto, siempre debemos recordar el Abismo y los dioses, como abzuniano, los agujeros negros y la muerte por calor de nuestro universo realmente me recuerdan que somos plenamente capaces de ser una civilización futurista en el sentido de una izquierda radical. y cyberpunk positivo comunitario. Pero lamentablemente la humanidad está lejos de abrazar el abismo y los dioses...
Malheureusement, il s’agit d’un processus inhérent au capitalisme. Et oui, la décolonisation de l’Afrique, de l’Asie et des Amériques n’était pas achevée à 100 %. Tout comme l’Ukraine traverse un processus de pseudo-décolonisation, échangeant ce qui est soviétique et russe contre ce qui vient des États-Unis, de l’OTAN et de l’UE. Ce n’est qu’avec la fin du capitalisme et du néolibéralisme que nous aurons un monde véritablement meilleur. Et bien sûr, nous devons toujours nous souvenir des Abysses et des dieux, en tant qu'Abzunien, les trous noirs et la mort thermique de notre univers me rappellent vraiment que nous sommes tout à fait capables d'être une civilisation futuriste au sens d'une gauche radicale. et un cyberpunk communautaire positif. Mais malheureusement, l'humanité est loin d'embrasser les abysses et les dieux...
Leider ist dies ein inhärenter Prozess im Kapitalismus. Und ja, die Dekolonisierung Afrikas, Asiens und Amerikas war noch nicht zu 100 % abgeschlossen. Gerade als die Ukraine einen Prozess der Pseudo-Entkolonialisierung durchläuft, bei dem das Sowjetische und Russische gegen das eingetauscht wird, was aus den USA, der NATO und der EU stammt. Erst mit dem Ende des Kapitalismus und Neoliberalismus werden wir eine wirklich bessere Welt haben. Und natürlich müssen wir uns immer an den Abgrund und die Götter erinnern, denn als Abzunianer erinnern mich die schwarzen Löcher und der Hitzetod unseres Universums wirklich daran, dass wir durchaus in der Lage sind, eine futuristische Zivilisation im Sinne einer radikalen Linken zu sein und gemeinschaftlicher positiver Cyberpunk. Aber leider ist die Menschheit weit davon entfernt, den Abgrund und die Götter zu umarmen ...
ExcluirHelaas is dit inherent een proces in het kapitalisme. En ja, de dekolonisatie van Afrika, Azië en Amerika was niet 100% voltooid. Net zoals Oekraïne een proces van pseudo-dekolonisatie doormaakt, waarbij wat Sovjet- en Russisch is, wordt ingewisseld voor wat afkomstig is van de VS, de NAVO en de EU. Alleen met het einde van het kapitalisme en het neoliberalisme zullen we een werkelijk betere wereld hebben. En natuurlijk moeten we ons altijd de afgrond en de goden herinneren, als Abzuniaan herinneren de zwarte gaten en de hittedood van ons universum me er echt aan dat we volledig in staat zijn een futuristische beschaving te zijn in de zin van een radicaal-linkse en gemeenschappelijke positieve cyberpunk. Maar helaas is de mensheid nog lang niet in staat de afgrond en de goden te omarmen...
Sfortunatamente, questo è intrinsecamente un processo nel capitalismo. E sì, la decolonizzazione dell’Africa, dell’Asia e delle Americhe non era completa al 100%. Proprio come l’Ucraina sta attraversando un processo di pseudo-decolonizzazione, scambiando ciò che è sovietico e russo con ciò che proviene dagli Stati Uniti, dalla NATO e dall’UE. Solo con la fine del capitalismo e del neoliberismo avremo un mondo veramente migliore. E, naturalmente, dobbiamo sempre ricordare l'Abisso e gli dei, come Abzuniano, i buchi neri e la morte termica del nostro universo mi ricordano davvero che siamo pienamente capaci di essere una civiltà futuristica nel senso di una sinistra radicale e cyberpunk positivo comunitario. Ma sfortunatamente, l’umanità è lontana dall’abbracciare l’abisso e gli dei…
К сожалению, это по своей сути процесс капитализма. И да, деколонизация Африки, Азии и Америки не была завершена на 100%. Точно так же, как Украина переживает процесс псевдодеколонизации, обменивая советское и российское на то, что принадлежит США, НАТО и ЕС. Только с концом капитализма и неолиберализма у нас будет действительно лучший мир. И, конечно же, мы всегда должны помнить о Бездне и богах, поскольку, как абзуниец, черные дыры и тепловая смерть нашей Вселенной действительно напоминают мне, что мы вполне способны быть футуристической цивилизацией в смысле радикального левого толка. и общинный позитивный киберпанк. Но, к сожалению, человечество далеко от объятий бездны и богов...
Excluir不幸的是,这本质上是资本主义的一个过程。 是的,非洲、亚洲和美洲的非殖民化并未100%完成。 正如乌克兰正在经历一个伪非殖民化的过程,将苏联和俄罗斯的东西换成美国、北约和欧盟的东西。 只有资本主义和新自由主义的终结,我们才会拥有一个真正更美好的世界。 当然,我们必须永远记住深渊和众神,作为一个阿布祖尼亚人,我们宇宙的黑洞和热寂确实提醒我,我们完全有能力成为激进左翼意义上的未来文明和公共积极的赛博朋克。 但遗憾的是,人类距离拥抱深渊和诸神还很遥远……
لسوء الحظ، هذه عملية متأصلة في الرأسمالية. ونعم، لم تكن عملية إنهاء الاستعمار في أفريقيا وآسيا والأمريكتين كاملة بنسبة 100%. تماماً كما تمر أوكرانيا بعملية إنهاء استعمار زائفة، حيث يتم مبادلة ما هو سوفياتي وروسي بما هو من الولايات المتحدة الأمريكية، ومنظمة حلف شمال الأطلسي، والاتحاد الأوروبي. فقط مع نهاية الرأسمالية والليبرالية الجديدة سيكون لدينا عالم أفضل حقا. وبالطبع، يجب أن نتذكر دائمًا الهاوية والآلهة، كأبزوني، تذكرني الثقوب السوداء والموت الحراري لكوننا حقًا بأننا قادرون تمامًا على أن نكون حضارة مستقبلية بمعنى اليسار المتطرف. والسايبربانك الإيجابي المجتمعي. لكن للأسف البشرية بعيدة كل البعد عن احتضان الهاوية والآلهة...
На жаль, це невід’ємний процес капіталізму. І так, деколонізація Африки, Азії та Америки не була завершена на 100%. Так само, як Україна переживає процес псевдодеколонізації, обмінюючи радянське та російське на те, що приносить США, НАТО та ЄС. Тільки після закінчення капіталізму та неолібералізму ми матимемо справді кращий світ. І, звісно, ми повинні завжди пам’ятати про Безодню та богів, як абзуніанець, чорні діри та теплова смерть нашого Всесвіту справді нагадують мені, що ми цілком здатні бути футуристичною цивілізацією в сенсі радикальних лівих і комунальний позитивний кіберпанк. Але, на жаль, людство ще далеке від обіймів безодні та богів...
Excluirלרוע המזל, זהו מטבעו תהליך בקפיטליזם. וכן, הדה-קולוניזציה של אפריקה, אסיה ואמריקה לא הושלמה ב-100%. בדיוק כפי שאוקראינה עוברת תהליך של פסאודו-דה-קולוניזציה, ומחליפה את מה שהוא סובייטי ורוסי במה שמגיע מארה"ב, נאט"ו והאיחוד האירופי. רק עם סיום הקפיטליזם והניאו-ליברליזם יהיה לנו עולם טוב יותר באמת. וכמובן, עלינו לזכור תמיד את התהום והאלים, בתור אבזוני, החורים השחורים ומוות החום של היקום שלנו באמת מזכירים לי שאנחנו מסוגלים לחלוטין להיות ציוויליזציה עתידנית במובן של שמאל רדיקלי. וסייברפאנק חיובי קהילתי. אבל למרבה הצער, האנושות רחוקה מלחבק את התהום ואת האלים...