Novos tempos para o sindicalismo brasileiro
Rio de Janeiro, 23 de janeiro de 2023
Ouvimos neste último dia 18 a proposta do presidente Lula sobre uma nova estrutura sindical. Em reunião com a presença do ministro do Trabalho e representantes sindicalistas, nosso presidente prometeu mudanças na economia e no Imposto de Renda, além de receber demandas de setores sindicais sobre o salário mínimo. Tendo parte de minha vida dedicada à luta sindical, posso afirmar que recebi com muita esperança esses sinais de que estamos diante de novos tempos para os sindicatos de nosso país.
O período entre 2013 e 2022 é de suma importância para entendermos a necessidade de estarmos atentos às propostas de reestruturação no mundo do trabalho e seus movimentos de defesa aos direitos trabalhistas adquiridos ao longo de décadas de lutas dos trabalhadores organizados. Dentro desta década, passamos por um processo de intensos ataques ao Estado nacional através da criminalização da política e dos partidos de esquerda. Através das fissuras causadas no tecido social nestes tempos, passamos a conviver com a ascensão da extrema-direita e suas investidas sobre as pautas sociais. Destaco neste processo o evidente conluio entre grandes corporações empresariais e a grande mídia nacional, reunidas para fortalecer a Operação Lava Jato, o impeachment da presidente Dilma Rousseff e as propostas reformistas, que destruíram os alicerces sindicais de nosso país.
É importante falarmos o quanto a vitória de Jair Bolsonaro em 2018 é produto direto e final de toda a caminhada de desestabilização social e política nessa década arrasadora para a nossa história. Entretanto, passados os episódios de embate de narrativas, derrotamos Bolsonaro nas urnas, mas a ideia ainda continua viva. É de suma importância, com isso, sabermos guiar os rumos deste novo e promissor momento para nossos sindicatos.
Façamos um exercício estratégico ancorado nesta nossa nova realidade mundial. Assim como o mundo do trabalho exige que façamos a constante autocrítica sobre nossos posicionamentos, o movimento sindical precisa estar atento aos avanços de outros movimentos sociais e apostar em um amplo diálogo. Não podemos ignorar, por exemplo, avanços nas pautas dos movimentos negros, femininos, de juventude, de gênero e outros mais. Além disso, é urgente estarmos atentos às novas tecnologias de comunicação e interação; o mundo digital já é mais do que uma realidade em nossos dias. Como vamos nos posicionar diante deste fato social, o qual nossas vidas passam também pelos aplicativos de celulares?
Com o avançar dessas novas ideias intimamente ligadas às realidades digitais, avançou sobre o corpo social os discursos do empreendedorismo que abraçaram a realidade de muitos trabalhadores e trabalhadoras que se viram desamparadas diante do desmonte causado pelas reformas neoliberais. A ideia de que o Estado e os movimentos organizados em nada contribuíram ou contribuem para manutenção de direitos e do bem-estar foi amplamente vendida para a grande massa de compatriotas que se lançaram às incertezas de trabalhos que antes deveriam ser paliativos, mas se tornaram rotineiros, passando a ser o único sustento de famílias.
O estrago causado pela ideologia do “faça você mesmo” nos levou à “uberização” do trabalho. Quantos jovens sequer conhecem os benefícios dados pela legislação trabalhista e que repetem discursos negativos sobre o Fundo de Garantia e a previdência?
Estejamos alertas para nossa nova realidade! É necessário não perdermos o bonde da História! Avançamos alguns passos quando, por exemplo, voltamos a ter um Ministério do Trabalho, instituição histórica nesta luta dos trabalhadores. Agora, não podemos deixar de ampliar nossas frentes junto aos movimentos que estão, passo a passo, fazendo avanços e recuos, ganhando e cedendo espaços para contar vitórias expressivas nesta conjuntura que se desenha sobre esperanças para os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil.
Vamos juntos e juntas, companheiros e companheiras, caminhar sobre as estradas desses novos tempos para o sindicalismo brasileiro!
Carlos Santana
Ex-deputado federal por cinco mandatos pelo PT-RJ; Presidente do Sindicato dos Ferroviários da Central do Brasil; Presidente estadual da CUT-RJ; Professor universitário; Doutor em História pela UFRJ e Bacharel em Direito.
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