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sábado, 13 de julho de 2024

PEGA LADRAO * Ruy Castro.FSP

PEGA LADRAO 
 Ruy Castro.FSP

Durante três anos de Bolsonaro, esta coluna o chamou de corruptor. De corruptor, não de corrupto. Embora fosse evidente sua prática de comprar o Exército para costurar o regime de força que viria no segundo mandato, não se sabia que roubasse além da prática familiar da rachadinha, que lhe rendeu mais de 50 imóveis. Só quase no quarto ano percebi o óbvio: não existe corruptor sem corrupção. Bolsonaro não estava usando seu dinheiro para subornar os militares. Estava usando dinheiro do Estado, e isso é corrupção.


Alguns dirão que, diante das facilidades da Presidência, Bolsonaro viu a oportunidade de meter a mão, como no caso das joias. É a velha ideia de que a ocasião faz o ladrão. Mas Machado de Assis, em seu romance "Esaú e Jacó" (1904), já corrigiu esse equívoco: "A ocasião faz o furto. O ladrão já nasce feito". A prova é que, manipulando os bilhões do Orçamento à sua vontade, Bolsonaro foi apanhado pungando objetos que poderia muito bem comprar, e até com dinheiro vivo, como de praxe nos Bolsonaros.


Bolsonaro reduziu o Palácio da Alvorada a uma caverna de Ali Babá, com suas arcas de relógios, brincos, colares, anéis, braceletes, pingentes, canetas e abotoaduras de ouro e diamantes, e fez de seus auxiliares, civis e militares, a horda dos 40 ladrões —pelo menos 11 até agora. Em seguida, transformou o Alvorada num camelódromo, para vender esses bens que não lhe pertenciam. Vendidos, tiveram de ser vergonhosamente recomprados quando a Justiça deu por falta deles. Raro um contrabandista tão desastrado.


O Houaiss dá várias definições para o ato de se apossar do que é alheio: afanar, agafanhar, assaltar, defraldar, desfalcar, despojar, empalmar, furtar, gatunar, larapiar, pilhar, piratear, rapinar, subtrair, usurpar —em suma, roubar. Há vários nomes para quem se dedica a essas práticas.

Mas há um bem simples e que resume Bolsonaro: ladrão.


Folha de São Paulo, 10/07/2024

domingo, 3 de setembro de 2023

QUEM PARIU BOLSONARO * Jair de Souza/RJ

QUEM PARIU BOLSONARO
Jair de Souza

Por que devemos continuar empregando o termo bolsonarismo?

Justificativas linguístico-filosóficas para o emprego do termo bolsonarismo

Muita gente tem reclamado do uso do termo “bolsonarismo” para fazer referência à corrente política de extrema direita que começou a ganhar destaque em nosso país a partir de meados da década passada.

O que se costuma alegar para justificar tal contrariedade é, fundamentalmente, o fato de que a pessoa de cujo nome o termo se deriva não contaria com a envergadura requerida para ser reconhecido como o idealizador de uma corrente de pensamento político.

De acordo com quem levanta esta objeção, não é justo que um sujeito tão inculto, tosco, falto de caráter e desprovido de qualquer brilhantismo intelectual venha a gozar de uma importância tão significativa a ponto de ter seu próprio nome servindo como base para a designação de uma linha de visão política, seja ela de que orientação for.

É inegável que, se os critérios a respeitar nesta questão forem realmente os mencionados no parágrafo anterior, seríamos forçados a reconhecer que os que levantam essa objeção estão cobertos de razão.

Não há dúvidas de que o ex-capitão que é visto como a Alma Mater do bolsonarismo pode ser considerado um dos políticos mais abjetos de que se tem notícia no cenário político brasileiro desde tempos imemoriais. Afora a circunstância de ter sido eternamente arredio ao trabalho, ele jamais se envolveu em nenhuma atividade que não fosse exclusivamente em seu próprio benefício.

Além do mais, sua cultura e sua capacidade intelectual nunca foram seus pontos fortes, muito pelo contrário.
Em vista do que expusemos até o momento, não deveríamos evitar recorrer a essa designação daqui para frente?

Não está mais do que evidente que alguém com qualificações tão escabrosas não é merecedor de ser fonte para a nomeação de nenhuma força atuante no jogo social?

Bem, embora eu tenha ciência de que vou frustrar as expectativas de várias pessoas, quero deixar bem claro que sou favorável a que não apenas continuemos a empregar a expressão, senão que passemos a utilizá-la com muito mais frequência.

As justificativas para este meu posicionamento é o que vou me esforçar por explicar nas seguintes linhas.
Em primeiro lugar, precisamos entender que, neste caso específico, esta expressão não tem o objetivo de louvar aquele de quem ela etimologicamente se derivou, e sim o de desmascarar a todos os que engendraram a monstruosidade e depravação que ela carrega consigo.

Em outras palavras, ao escrevê-la ou proferi-la oralmente e vinculá-la com certas pessoas ou grupos, nossa intenção é revelar toda a podridão que caracteriza aos que com ela estão associados.

De modo nenhum almejamos equiparar um energúmeno a um filósofo gestador de uma nova maneira de sentir e refletir o mundo em que estamos inseridos, ou seja, devemos considerar sua aplicação como uma severa punição daqueles que são, em realidade, os responsáveis pela existência de todas as mazelas que o termo simboliza e transmite.

Não nos iludamos, não foi o ex-capitão miliciano o inventor das monstruosidades com as quais sua imagem está indissoluvelmente ligada.

A bem da verdade, ele é o fruto mais completo de toda a sordidez comportamental e de caráter que vem marcando nossas classes dominantes desde os primórdios de nossa constituição como sociedade.

Portanto, mesmo sem ser criador de nada, sua figura reflete todas as aberrações cultivadas e praticadas pelos setores que sempre agiram como senhores absolutos de tudo e de todos.
À continuação, vamos tentar expor e elucidar as principais características do bolsonarismo.

Em sua base, está um furibundo ódio contra as maiorias populares e uma profunda aversão a tudo que possa favorecer as camadas mais despossuídas.

Em consequência, sempre houve uma enorme resistência a qualquer medida que viesse a contribuir para diminuir o nível de desigualdade social. Este traço tem se evidenciado em nossas terras desde os primórdios da colonização europeia.

Não podemos nos esquecer que, com a chegada dos colonos portugueses, instalou-se por aqui um regime de cruel exploração, com a coisificação da mão de obra aborígene e daquela trazida da África na condição de escravos.

No entanto, com o passar do tempo, este ódio ao povo não deixou de existir. Tão somente adquiriu novas facetas e até se acentuou.

Hoje em dia, esta ira histórica contra os menos privilegiados continua presente e permanece como um dos fundamentos de nossos exploradores e, como não poderia deixar de ser, do bolsonarismo.

Em segundo lugar, mas não menos importante para sua constituição, está a hipocrisia. Seria impossível definir o bolsonarismo sem levar em conta este fator.

Porém, uma vez mais, não foi o ex-capitão e nem seus aduladores mais achegados os introdutores do hábito de fingir e falsear posicionamentos para levar vantagens na vida política de nosso país.

Poderíamos, sim, dizer que o bolsonarismo conseguiu a proeza de sintetizar e potencializar quase todas as variantes de hipocrisia que há muito vêm sendo destiladas em profusão por nossas classes dominantes.

Em suma, ele tão somente se transformou no desaguadouro natural das variadas torrentes de manipulação farsante de cunhos pseudo-nacionalista, pseudo-moral, pseudo-cristão, entre outros, oriundas dos eternos sanguessugas da nação brasileira.

Sabemos que o bolsonarismo foi gestado nas casernas e nos círculos de militares retirados inconformados com a possibilidade de acerto de contas com a Comissão da Verdade criada por Dilma Rousseff. Para ganhar musculatura, se apropriaram das cores de nossa bandeira e dos símbolos nacionais.

Por isso, tornou-se corriqueiro em manifestações bolsonaristas o vestir camisetas verde-amarelas de nossa seleção de futebol, cantar o hino nacional e bradar loas à Pátria.

Tudo isso para justificar a entrega de nossas reservas petrolíferas às multinacionais gringas, o desmantelamento e inviabilização da Petrobrás, a privatização e transferência da Eletrobrás a grupos capitalistas estrangeiros e nacionais, e por aí vai.

Ou seja, nunca antes os símbolos da Pátria tinham sido manipulados tão descaradamente para favorecer nossa espoliação e submissão aos desígnios de potências estrangeiras.

 Porém, o bolsonarismo foi reflexo e consequência de um espírito entreguista de longa data, e não a razão causante do mesmo.
Como exemplo do moralismo hipócrita que permeia os meios de comunicação corporativos do Brasil, é fundamental observar como esses órgãos atuaram para ancorar e fortalecer o lavajatismo-morismo e sua pretensa luta contra a corrupção.

Agora, já está mais do que comprovado que o lavajatismo-morismo foi um dos mais nefastos instrumentos arquitetados pelas forças do imperialismo e do grande capital local para travar o avanço de nosso país pelos caminhos da soberania nacional.

Sob o pretexto de combater a corrupção, esses meios se lançaram com tudo na campanha de endeusamento do ex-juiz suspeito Sergio Moro e a justificação de todas as arbitrariedades por ele cometidas.

Além de destruir grande parte da infraestrutura industrial do Brasil, de causar e expandir a miséria como nunca antes a todos os rincões de nossa pátria, o lavajatismo-morismo acabou se mostrando como uma das mais insidiosas máquinas de corrupção de toda nossa história, estando envolvido em desvios ilegais que ultrapassariam a casa dos dois bilhões de reais.

Em outras palavras, o lavajatismo-morismo levava em seu bojo a hipocrisia típica de nossas classes dominantes. Cresceu e se nutriu com base no apoio total e articulado da rede Globo e do restante da mídia corporativa.

Atuou sempre em consonância com os interesses das classes que o patrocinaram. Em decorrência, como não podia deixar de ser, o lavajatismo-morismo ajudou a abrir as portas para a chegada do bolsonarismo ao comando do Estado.

Para sacramentar essa questão da hipocrisia, convém escrever algumas palavras sobre a mais significativa fonte de sustentação numérica de massas do bolsonarismo: as igrejas ditas evangélicas, mormente as neopentecostais.

Neste caso, temos o mais flagrante descaramento de ver como se usa o nome de Jesus para defender tudo aquilo contra o que o próprio Jesus lutou durante toda sua vida.

Os capitalistas donos dessas igrejas não se envergonham de passar a seus seguidores a ideia de um Jesus avarento, sequioso por dinheiro, vingativo, guerreirista e profundamente preconceituoso. Ou seja, procuram transformar a imagem de Jesus em algo completamente contrário ao que Jesus foi.

São essas igrejas que dão ao bolsonarismo uma certa expressividade numérica junto ao povo. Essas igrejas neopentecostais bolsonaristas recebem aos que vão a procura da bondade de Jesus e procuram reencaminhá-los na rota do diabo.

Por tudo o que argumentamos até este ponto, defendemos que o termo bolsonarismo continue sendo usado para fazer referência a toda a podridão de nossas classes dominantes.

Entendo isto como uma maneira de puni-los por todo o mal que vêm causando a nosso povo.

*Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.
Paulo Henrique Amorim
Senador Fabiano Contarato.PT/ES
ALEXANDRE DE MORAIS

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

ANISTIAR BOLSONARO E SUA MILÍCIA JAMAIS * Waldir Porfírio - PB

 ANISTIAR BOLSONARO E SUA MILÍCIA JAMAIS

Waldir Porfírio - PB


Paira no ar um apelo de certos setores da sociedade para que possamos esquecer o que se passou nos últimos quatro anos e olhar para frente. Está incluso nesse plano repetir 1979, quando os generais anistiaram todos os agentes públicos que, em nome do Estado, não respeitaram as regras constitucionais e as convenções internacionais que o Brasil havia aderido. Anistiaram assassinos e torturadores de presos políticos, que violaram os direitos humanos, dando carta branca para que maus policiais militares dessem continuidade para práticas nas comunidades pobres, ao arrepio da lei, de violação de lares, sequestros, torturas, assassinatos e desaparecimento forçados. 


A história não pode repetir esse erro do passado. São inúmeras as violações aos direitos humanos durante o governo Bolsonaro, que transformou o Brasil num estado de exceção, onde sua vontade política desrespeitava as regras constitucionais e legais, utilizando-se da quebra dessas regras até mesmo para tentar ganhar as eleições. Tentou ao máximo subjugar os poderes legislativo e, especialmente, o judiciário, para seus objetivos de normalizar as anomalias que os agentes do Estado estavam praticando. 


Para resolver esse problema, deve-se recorrer à teoria da justiça de transição, que tem como pilares o direito à memória e à verdade (como, por exemplo, as circunstâncias sobre as mortes e a falta de assistência do governo federal às vítimas da COVID); o direito à justiça (investigação e punição para todos que concorreram para essa tragédia); o direito à reparação econômica aos familiares (calcula-se que mais de 170 mil crianças e adolescentes de até 17 anos ficaram órfãs no Brasil); e, por fim, uma reforma nas instituições para fortalece-las no enfrentamento futuro de atrocidades semelhantes. 


Com o título de “Pacificação”, a jornalista Milly Lacombe, em sua coluna no UOL, de 5 de novembro do corrente ano, denuncia a tentativa de intelectuais liberais em defender a anistia e pacificação para os promotores da barbárie que ocorreu no Brasil. Denuncia que estes mesmos intelectuais ficaram calados diante de um governo que afundou o país “violências de todos os tipos, da lentidão para compra de vacinas” e “inúmeros sigilos de 100 anos em qualquer suspeita de malfeito ou corrupção”. Conclui que “não haverá pacificação sem punição” e que “Agora é a hora de colocar todo esse horror na mesa e fazer uma autópsia do que passamos”.


Não resta a menor dúvida de que Milly Lacombe está com toda razão. Não é revanchismo, mas uma oportunidade para que a sociedade tome consciência dos acontecimentos ocorridos. A justiça de transição oferece os elementos necessários para que o Brasil possa voltar à normalidade e desvendar, por meio de uma investigação séria, com participação da sociedade civil, os horrores praticados por esse governo que finda no último dia de 2022. 


Para que isso possa acontecer, os partidos políticos democráticos, dirigentes de entidades representativas do povo e dos movimentos sociais, intelectuais, parlamentares federais, estaduais e municipais, e demais interessados devem exigir das instituições formadas pelos três poderes a realização de investigações sobre as violações aos direitos humanos e o que levou a milhões de pessoas a seguir e defender um governo autoritário, como o que se finda.


-PAPUDA NELLLES-


(Waldir Porfírio: Escritor, psicólogo, advogado, mestre em direitos humanos, políticas públicas e cidadania, ex-membro da Comissão Estadual da Verdade da Paraíba, e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano)

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