terça-feira, 4 de novembro de 2025

CHEGA DE MASSACRES *Movimento Impeachment de Claudio Castro/RJ

CHEGA DE MASSACRES
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Manifesto de movimentos, entidades e coletivos pelo impeachment do governador do Estado do Rio

O que aconteceu na terça-feira (28/10) é um alerta para qualquer pessoa que se importe com o povo carioca e fluminense, especialmente aqueles que moram nas favelas deste Estado. Claudio Castro se tornou conhecido pelas Chacinas que promoveu. No Jacarezinho em plena pandemia, no Alemão e na Vila Cruzeiro. Agora, quer se construir através da morte de mais de 120 pessoas, envolvidas ou não com o tráfico de drogas.

O governador vem utilizando o termo “narcoterrorismo” para legitimar a brutalidade e negar qualquer direito mínimo que possa existir. Nessa linha, a principal política de segurança pública se torna “neutralizar” os inimigos, na prática jovens negros, enquanto os verdadeiros patrões do crime seguem lucrando de forma confortável fora das favelas.

A chacina paralisou toda a Região Metropolitana, gerando mais insegurança em vez de promover a suposta ordem. A vida não parou só na favela, mas por todo o Rio. As operações policiais nas favelas não vão acabar com o crime organizado. As maiores apreensões de fuzis aconteceram em condomínios, como no caso Ronnie Lessa, e nos aeroportos. A operação Carbono Oculto, também chamada por alguns como operação na Faria Lima, demonstrou que o melhor caminho é seguir o dinheiro para asfixiar as organizações criminosas.

Essa matança não ajuda em nada a libertar os moradores da opressão do tráfico. O crime organizado certamente vai se reorganizar após essa terça. A tamanha desigualdade e a falta de políticas públicas, que afeta especialmente a juventude negra, vai seguir propiciando mão-de-obra para o tráfico. Se não mexermos na estrutura, só estaremos enxugando gelo a custo de um orçamento público gigantesco, de vidas e do cotidiano já abalado por décadas de uma política que apenas fortalece o crime.

Nas ruas estaremos dando nossa resposta. Mas também exigimos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) que Cláudio Castro seja julgado por seus crimes. Para ele, o julgamento cabível é o impeachment. Castro, assim como seus antecessores, é o responsável pela crise de segurança do Rio e pelo genocídio que vive o povo negro e favelado no Estado.

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Mais de 400 organizações e coletivos organizam manifesto pelo impeachment de Claudio Castro pelos crimes cometidos na Chacina dos Complexos da Penha e do Alemão. 

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    FRENTE REVOLUCIONÁRIA DOS TRABALHADORES/FRT-RJ
PARTIDO COMUNISTA DOS TRABALHADORES BRASILEIROS/PCTB
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sábado, 1 de novembro de 2025

Dependente e ocupado ideologicamente, o Brasil resiste * Roberto Amaral/SP

Dependente e ocupado ideologicamente, o Brasil resiste
Roberto Amaral*

“Onde o poder público descuidou da integridade física dos mais pobres, o regime democrático não passa de uma fachada de papelão esburacada por tiros, chamuscada por pólvora queimada e borrifada de sangue.”
— Eugênio Bucci, O Estado de SP, 30/10/2025


Nascemos como mera feitoria, ponto de apoio para naus sedentas de água, remanso de piratas e aventureiros. Na Colônia, sem povo, nosso destino foi traçado como economia primário-exportadora fundada na escravidão de negros e indígenas, a serviço das demandas do consumo europeu, via Lisboa — a metrópole decadente, salvando-se como entreposto de nosso comércio: pau-brasil, açúcar, minérios, algodão, carne, café... — que exportávamos, e de entrada do que necessitávamos, que era quase tudo.

Essa economia e esse comércio estabeleciam as bases da aliança do latifúndio e da incipiente burguesia comercial (que incluía os comerciantes, os traficantes de gente e os contrabandistas, de um modo geral) com a Coroa portuguesa e seus primeiros agentes — exatores do fisco, militares e o clero. Eram as raízes de uma estranha nação sem povo e, assim, sem projeto.

No Império, exportávamos mão de obra escrava (sob a forma de açúcar, minérios etc.) e tudo importávamos, como reclamava Joaquim Nabuco ainda no Segundo Reinado:
“[...] o Brasil é uma nação que importa tudo: a carne-seca e o milho do Rio da Prata, o arroz da Índia, o bacalhau da Noruega, o azeite de Portugal, o trigo de Baltimore, a manteiga da França, as velas da Alemanha, os tecidos de Manchester, e tudo o mais, exceto exclusivamente os gêneros de imediata deterioração. A importação representa assim as necessidades materiais da população toda, ao passo que a exportação representa, como já vimos, o trabalho apenas de uma classe.” (Discurso no Senado, 1884)
Esqueceu-se de dizer que importávamos também ideologia.

Sobre a mão de obra escrava se estabeleciam a economia e a política do Império, quando — é ainda a voz de Nabuco — “o espírito comercial e industrial do país parecia resumir-se na importação e na venda de africanos”, prenunciando o atraso relativo que se acentuaria nos dois séculos imediatos.

A preeminência dos interesses agrários, conservadores do statu quo, sobre o desenvolvimento das demais forças produtivas — o comércio e a indústria — sobreviverá na Primeira República: um longo pacto que assegurará os interesses da lavoura.

No nascimento da República, o Brasil era ainda uma feitoria colonial. Rui Barbosa, seu primeiro ministro da Fazenda, atualizaria as palavras do grande tribuno do Segundo Império:
“Sem indústrias manufatureiras, [o Brasil] é exportador só de produtos da lavoura e matérias-primas, que recebe depois, em produtos fabricados, pelo duplo do seu valor. É exportador de moeda, não só porque tem de pagar juros da grande dívida externa e de capitais estrangeiros empregados aqui, como também porque supre as grandes despesas dos nossos compatriotas que vivem na Europa, ou por lá passeiam exibindo sua ociosidade, nenhuma compensação nos vindo desses fatos, porque os estrangeiros não procuram o Brasil para consumir suas rendas; ao contrário, por dolorosa experiência sabemos quanto nos custa o seu capital empregado aqui.” (Relatório de 1891)

No século XX, exportávamos mão de obra sobre explorada na forma de commodities. No século XXI, ainda economia periférica, prosseguimos no mesmo destino e na mesma dependência, cumprindo o papel de supridores do centro hegemônico com alimentos (que faltam à mesa de nosso povo), minérios in natura e commodities, e importadores de tecnologia, ciência e conhecimento — além de ideologia.

Nossa classe dominante, colonizada, reproduz os valores e os interesses do colonizador. Exportamos minério de ferro e importamos lingotes. Exportamos soja e proteína animal, enquanto importamos valores, hábitos e tecnologia.

A modernização se dá naqueles setores necessários à produção de matérias-primas de baixo custo para o consumo dos países desenvolvidos — o motor da expansão do agronegócio, que alimenta o PIB com divisas, ao preço da devastação ambiental e do despovoamento do campo.

A dependência ao capital estrangeiro não é, pois, um acaso. A crise, como lembrava Darcy Ribeiro, é um projeto.

Em que implica uma economia voltada para fora? O comerciante, o latifundiário, o senhor de engenho no Nordeste e os traficantes de escravos e mercadorias, os mineradores de Minas Gerais e do Centro-oeste e os grandes estancieiros do Sul não careciam de um país rico para desenvolver seus negócios; não careciam de mercado interno para o consumo de seus produtos. Essa elite — ou essa classe dominante — estava, nestes termos, desvinculada dos destinos do país e de seu povo, os pobres e os não brancos, com os quais jamais se identificou.

Qual seria a classe dominante produzida por essa economia? Meia dúzia de latifundiários, uns poucos comerciantes exportadores/importadores, uma sociedade sem povo e uma classe dominante dependente dos negociantes do mercado internacional, que ditavam o que comprar, como comprar e a que preço comprar.

Preocupava-a, então, a movimentação da bolsa de mercadorias de Londres — como hoje se volta para os indicadores de Wall Street, as políticas do FED e os humores da Faria Lima. Economia voltada para fora não precisa cuidar da formação de mercado interno; daí sempre desinteressar-se pelo desenvolvimento nacional, fazer vistas grossas para a miséria e as desigualdades sociais.

Esse é o caráter da casa-grande que chega aos nossos dias descomprometida com o destino do país — ou seja, sem identidade a perseguir. Não havia no passado, e não há no presente, por que pensar ou cuidar de um projeto nacional. E não há ainda a consciência de povo, uma comunidade imaginária unificada por um coletivo de valores comuns. Há, sim, população: um coletivo disperso pela desigualdade social.

Ainda hoje, o país se move não para prover às necessidades de seu povo, mas para manter o enriquecimento da minoria dominante — seja o senhor de engenho do século XVI, sejam os rentistas do sistema financeiro — ontem como hoje, de costas para as necessidades nacionais e a serviço de interesses que não são os nossos.

Na Colônia e no Império era o mercado externo quem decidia o que deveríamos importar e o que deveríamos ou poderíamos produzir. Na contemporaneidade, os países da periferia do capitalismo — nosso caso — estão submetidos à lógica da economia globalizada. O Estado dependente cede o poder de regular sua própria economia.
Refletindo sobre a sociedade capitalista de nossos dias, Celso Furtado observa:
“As decisões sobre o que importar e o que produzir localmente, onde completar o processo produtivo, a que mercados internos e externos se dirigir, são tomadas no âmbito da empresa [transnacional], que tem sua própria balança de pagamentos externos e se financia onde melhor lhe convém.”

Para o autor de Formação econômica do Brasil, a subordinação do crescimento econômico à iniciativa das grandes empresas multinacionais, em países ainda em formação, como o Brasil, é a boa receita para a inviabilização de um projeto de país — e a boa explicação para os bolsões de miséria em que tentam viver milhões de brasileiros, acossados pelo desarranjo social, o crime organizado e a violência do Estado.

Não há, portanto, qualquer surpresa em que o Brasil, sendo uma das dez maiores potências econômicas do mundo, seja também uma das campeãs em desigualdade social. Em 2024, o índice de Gini medido pelo IBGE ficou em 0,506 (a escala de Gini varia de 0 a 1; quanto mais perto de 0, menos desigual é o país). Há razões de surpresa para a tragédia social?

A dependência política e econômica, a renúncia a um projeto próprio de soberania e desenvolvimento, foi — e é, ainda — a opção da classe dominante brasileira, desde os primeiros momentos de construção do país, engenho político-administrativo que antecedeu a Nação.

Furtado apresenta a disjuntiva: a) saber se temos um futuro como nação que conta na construção do devir humano, ou b) se prevalecerão as forças que se empenham em interromper nosso processo histórico de formação de um Estado-nação.
Até aqui, as forças do atraso é que têm prevalecido — e nada está a indicar sua próxima derrogação.

Nossa classe dominante é herdeira legítima do país-colônia: supostamente branca, refratária à miscigenação, reacionária, beneficiária do statu quo, de que dependem seus privilégios e o mando, que se expressa sobre todas as formas possíveis — a miséria, a segregação, a violência estatal —, que se abate preferentemente nas periferias das grandes cidades, onde os pobres mais pobres tentam sobreviver.

Por isso, a classe dominante não se confunde nem com os interesses do povo nem com os do país, e reage negativamente a qualquer sinal de reforma — principalmente daquelas que possam alterar o estatuto da propriedade, base do mando que é o mesmo da Colônia à República dos nossos dias, de um país que, em pleno terceiro milênio, ainda trata a reforma agrária como tabu.
Produtor de devastação ambiental, concentração fundiária e expulsão do camponês de seu habitat, além de pressão inflacionária e commodities que não enchem barriga de gente, o agronegócio é a grande vedete dos nossos dias. Anúncios veiculados insistentemente na maior rede de televisão do país enaltecem o modelo predatório: “Agro é pop, agro é tech, agro é tudo”. Por volta dos anos 1950, cerca de 80% da nossa pauta de exportações e do ingresso de dólares derivavam das vendas de café para o exterior; hoje, quando o Brasil parecia haver alcançado o estágio da industrialização, cerca de 60% dependem do agronegócio.

Nos anos 1940/1950, nossa atrasada classe dominante ainda discutia a díade agricultura–industrialização. Eugênio Gudin, ícone do pensamento conservador, certamente o mais influente economista brasileiro do século XX, delegado brasileiro à Conferência Monetária Internacional de Bretton Woods (1944), ministro da Fazenda de Café Filho (1954–1955), criticava a industrialização e defendia o que denominava “vocação agrícola” do país.

Não é de estranhar a destruição da indústria manufatureira, levada a cabo pelo neoliberalismo. A participação da indústria no PIB nacional, que já foi de 35,8% em 1984, caiu para os atuais 13%, quando essa participação chega a 43,1% na China, 30,4% na Coreia do Sul e, para citar um país da Europa desenvolvida, chega a 20,8% na Alemanha (dados da ONU para 2021).

O passado não é só herança; ajuda a explicar o presente, mas não o determina, pois a história é um processo vivo — uma construção humana. Já sabemos o que devemos evitar e sabemos o que devemos fazer.

E, nada obstante tantos fracassos, há registros de conquistas, como a resistência do processo democrático burguês, resistência tão mais significativa quanto mais ameaçador é o avanço, entre nós, do projeto da extrema-direita. O fato de havermos vencido a tentativa de golpe de Estado de janeiro de 2023 e sustentado até aqui um governo inspirado por princípios social-democratas, que serve de contenção ao avanço do fascismo, indica ganhos que devem ser festejados pelo povo brasileiro.
Mais uma chacina

 — Comandado há muito pelo reacionarismo mais tosco, sem política de segurança pública digna de qualquer consideração, o Rio de Janeiro amanheceu de luto na última terça-feira (28/10), após catastrófica operação policial nos complexos proletários do Alemão e da Penha, na capital, deixar mais de 130 mortos — muitos deles com claros sinais de execução, alguns degolados. E o massacre ainda está por ser apurado. É a maior chacina de uma história de chacinas recorrentes. Um Carandiru a céu aberto.

Mais uma chacina II

— Na velha imprensa, comentaristas aplaudem a operação como “bem-sucedida e necessária”, embora os mais empertigados disfarcem a euforia, ressalvando que a brutalidade policial (planejada, e sabidamente inútil como tática de repressão ao crime organizado) “talvez tenha sido excessiva”. Entre o desamparo e a atração pelo fascismo, parte da população — exatamente aquela mais exposta à violência — aplaude o morticínio e vê com bons olhos a conversão de policiais em bestas-feras, dispostos a agir com o máximo de letalidade e o mínimo de inteligência. E, dentre estes, boa parte não se percebe, ainda, como vítima potencial de uma política assassina.

Mais uma chacina III

 — O horror atiça o campo da direita, desorientado em face dos sinais — tímidos embora — de avanço social, e que, afora a violência, nada tem a oferecer ao país. Governadores esboçam uma frente neofascista, na esperança de levar uma população amedrontada às urnas em 2026. Há os que insuflam a retórica do “narcoterrorismo”, ansiosos por uma intervenção estrangeira no Brasil (o exemplo de Nayib Bukele, que transformou El Salvador num grande presídio privado internacional a céu aberto, os faz sonhar). É, sem dúvida, um momento desafiador para as forças progressistas, que precisam ofertar à sociedade uma política sensata de segurança pública — a PEC que tramita no Congresso pode ser um primeiro passo, bem como a ADPF das Favelas (mas, sempre, apenas um primeiro passo). Do luto e da indignação surge uma oportunidade para apresentarmos um outro projeto de país, um outro modelo civilizatório. Precisamos, antes de tudo, saber de que lado estamos — e repelir a barbárie.
O chefão ainda impune

 — O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) foi preciso na denúncia: o bandido mais perigoso do estado do RJ está solto, dando entrevistas e despachando no Palácio Guanabara. Acumula uma extensa ficha corrida, repleta de crimes covardes e brutais, e com ela espera se cacifar para novos mandatos. A carnificina produzida nesta semana desperta na cidadania uma dúvida que reflete nossos tempos: a que facção criminosa o governador terá buscado beneficiar, ao atacar redutos do Comando Vermelho, impondo um revés pontual a essa organização? Dada a deletéria situação do comando político do estado, uma autópsia independente dos cadáveres recolhidos pelos moradores (abandonados pelo poder público) é uma exigência inegociável.

* Com a colaboração de Pedro Amaral.

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

DE GAZA AO RIO DE JANEIRO FORA GENOCIDAS * Frente Revolucionária dos Trabalhadores/FRT

DE GAZA AO RIO DE JANEIRO, FORA GENOCIDAS!
FORA GENOCIDAS
FORA GENOCIDAS
NARCO/ESTADO/IMPERIALISMO
UM DIÁLOGO ENTRE CAMARADAS:

CAMARADA 1

- Seria o momento de abordar o narco como instrumento do imperialismo. O desgaste que um ataque desse tipo, coordenado em várias cidades de um Estado como o Rio de Janeiro, tomando toda a região metropolitana, com milhões de habitantes, paralisando toda atividade econômica, é exatamente o tipo de evento que interessa às figuras tipo Trump para decretar intervenção militar estrangeira, a título de que o governo local não tem condições para combater o narcotráfico. Ou seja, a acusação de terrorismo que antes era a ferramenta para justificar essas intervenções, agora é um simples "sacode " do crime organizado contra uma população indefesa exposta a todo tipo de violência, desde a inoperância do governo de plantão até a inexistência de articulação das forças militares institucionais.


CAMARADA 2

- Olha, camarada. Esse fortalecimento dos "exércitos" de lumpens desclassados, tem se dado em todo o Brasil praticamente. São Paulo, o centro burguês do Brasil, também está sendo tomado pelo crime.

O narcotráfico e os ganhos com as drogas de tipo mafioso, tem sido uma forma alternativa de acumulação capitalista num contexto marcado pela queda das taxas de lucros na economia real, devido ao que Marx caracterizou como avanço da composição orgânica do capital, ou seja, a sobreposição do trabalho morto sobre o vivo.

No outro lado da moeda estão os contingentes de jovens desempregados estruturalmente, expulsos do mercado formal de trabalho, viraram massas sobrantes na sociedade burguesa tardia, que não pode mais inserir produtivamente enormes quantidades de seres humanos. Esse "dejeto" humano-pela ótica do capital-é a mão de obra não qualificada desse crime "organizado" que cresce em todo o nosso continente, e são os soldados razos, buchas de canhão nessa guerra informal que atinge os centros urbanos nas grandes cidades de nossa América. Expressão clara, objetiva da decomposição mesmo da civilização burguesa.

O que fica claro, é que as políticas de militarização exacerbada e encarceramento sistemático das massas empobrecidas, faliram inapelavelmente. O narcotráfico é um dos grandes negócios no mundo business e fonte de ganhos bilionários no capitalismo em crise estrutural. Portanto, na fase de decomposição geral da civilização burguesa, o mundo do crime é algo que se confunde com a forma de ser da sociedade do capital.

Material e espiritualmente, o narcótico tornou-se algo
que não mais pode ser superado dentro do capitalismo.

CAMARADA 1

....a direita está encurralada tanto pelas políticas internas quanto externas do Lula. A aproximação com Trump fudeu a porra toda, até ao Trump. Com isso, a direita tem que buscar saídas e a pauta segurança é um ponto franco na visão da direita porque o Lula está propondo o uso da inteligência ao invés do ataque frontal ao crime organizado. Esse é  o X da questão. E esse massacre foi pura armação do C. Castro, porque o narco não precisa disso. Ele deu um banho de sangue gratuito até porque o Crime sabe antecipado quando vai ter operação. Quem foi preso ou morto também foi decisão do crime.

Veja que o local escolhido foi só pra fazer mídia, pois esse local - Penha/Complexo do Alemão - é dos mais tranquilos da cidade, não tem disputa com milícia nem concorrente.

Até poderia me estender mas essa cena faz parte do teatro exigido pelo imperialismo pra tentar manter a ofensiva. São atores do segundo e terceiro planos de uma peça que todos sabemos o final: ou Vietnam/Afeganistão ou Líbia/Iraque/Síria.

Mas o ingrediente neste momento inclui Colômbia, onde toda a política "gustavopetrina" não tem sido suficientemente ofensiva pra embananar a direita, o que faz o Trump ficar no ataque o tempo todo. Inclui também a Bolívia, o Peru, Chile, Argentina e todo o cone sul. A exceção é o Brasil. Isso devido as políticas sociais do Lula, que apesar do cerco neoliberal/centrão, tem posto o Lula no topo rumo a 2026. E inclusive Trump com suas taxações esdruxulas, tem concorrido pra isso. 

Nesse caldo todo, o isolamento da direita e o enquadramento do Bolsonarismo pela via judicial, o resultado é o desespero. É isso que estamos vendo no ataque "netanyahuano" de Claudio Castro. Mas tem um detalhe: todas as câmaras corporais dos policiais estavam desligadas durante a operação. Esse dado é o ônus da prova pra incriminar o ainda governador.

Sobre o tema, sugiro os livros:

"Los Narcos Gringos", de Jesus Esquivel;
"As Delícias do Crime ", de Ernest Mandel;
"O Terrorismo de Estado na Colômbia", de Hernando Calvo Ospina


Frente Revolucionária dos Trabalhadores/Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros
FORA CLAUDIO CASTRO GENOCIDA! INTERVENÇÃO FEDERAL NO RIO DE JANEIRO PARA ACABAR COM A MATANÇA!

Claudio Castro é o promotor do maior massacre policial da história do Brasil. São 128 mortos contabilizados e o número de corpos não para de aumentar. São números de países em guerra.

Como primeiro resultado, a operação trouxe cenas indescritíveis. Dezenas de corpos enfileirados em praça pública, a população em desespero, com sinais de tortura. Alguns corpos decapitados, inclusive. Crimes hediondos sendo cometidos sob pretexto de combater o crime. O cenário estarrecedor corre o mundo, e mostra a face da política de segurança pública dirigida por um governador fascista.

O crime organizado domina vastos territórios no Rio de Janeiro, tanto na forma de grupos de traficantes de drogas quanto de milícias. Esse domínio, que oprime a população social e economicamente, se espalha com o beneplácito de autoridades governamentais e policiais. O crime organizado elege parlamentares, influencia o poder judiciário e o executivo.

As atividades criminosas se convertem em um dos mais lucrativos meios de acumulação de capital. Recentes operações dos órgãos de controle revelaram vasto esquema de lavagem de dinheiro que envolve instituições financeiras situadas na avenida Faria Lima. Políticos e autoridades são partícipes dos esquemas.

Periodicamente, a secretaria de segurança pública do Rio de Janeiro realiza operações com grande aparato, resultando em dezenas de mortes. Essas operações são comprovadamente ineficazes, gerando medo na população e prejudicando o cotidiano das cidades. As circunstâncias das mortes, e a identificação dos mortos, nunca são esclarecidas. Membros das forças de segurança, inclusive, engrossam o número de vítimas.

A operação é criminosa em todos os sentidos - sem planejamento, colocando em risco a vida da população e dos policiais, criando o caos, violando direitos e procedimentos regulamentares. Grave, também, é a motivação da operação, de caráter político e eleitoral.

O governador Cláudio Castro enviou para o consulado dos EUA no Rio de Janeiro, relatório do setor de inteligência da segurança pública do Estado. Consta que tal relatório corrobora a narrativa de narcoterrorismo do governo Trump, que justifica os ataques à Colômbia e à Venezuela. Castro trabalha, comprovadamente, com serviços de informações estrangeiros, o que configura traição nacional.

A legislação brasileira tipifica o crime de terrorismo por sua motivação político-ideológica. As facções criminosas têm como motivação ganhos financeiros. Aceitar o conceito de narcoterrorismo é expor o país à intervenção militar estadunidense, desejo expresso dos filhos do ex-presidente.

Está claro que o massacre promovido pelo governador fluminense tem motivação desestabilizadora. Enquanto os governos brasileiros e estadunidenses negociam tarifas e sanções, a ações de desestabilização e desgaste acontecem sem limites.

O governador Cláudio Castro tem de ser afastado do cargo e o Rio de Janeiro sofrer intervenção federal. A possibilidade de uma operação de GLO deve ser afastada. A presença das Forças Armadas só agravaria a situação e configuraria uma ingerência militar em uma questão eminentemente civil, que é a segurança pública.

O fascismo nacional, agente do imperialismo estadunidense, é uma ameaça à classe trabalhadora e ao povo. Deve ser combatido e derrotado. Os fascistas não se furtam de lançar mão da força armada para atingir seus objetivos. Os acontecimentos desse 28 de outubro servem de alerta e mostram a necessidade de mobilização para derrotar essa ameaça.

Liga Comunista Brasileira
A MEGA OPERAÇÃO GENOCIDA NO RIO DE JANEIRO

 Os Estados Unidos vêm exercendo intensa pressão sobre o Brasil na luta contra o narcotráfico desde a posse de Donald Trump. Para intensificar ainda mais essa pressão, Trump aumentou as tarifas de exportação para os Estados Unidos em até 50%. Diante dessa imensa pressão política, o governo Lula resistiu a aceitar essas medidas. Após vários meses de pressão dos EUA e da oligarquia brasileira, o governo brasileiro foi forçado a uma luta completa e implacável contra o narcotráfico, condicionada à normalização do comércio bilateral. O resultado dessa negociação foi uma mega operação nas favelas do Rio de Janeiro, que resultou em um genocídio horrível com mais de 120 mortos, mais de 500 feridos e centenas de detidos. Essa política dos EUA deverá se estender por toda a América Latina.
Gaza é o Rio de Janeiro. Gaza é o mundo inteiro.
Gaza é o Rio de Janeiro. Gaza é o mundo inteiro.

Raúl Zibechi
29 de outubro de 2025

Não há palavras suficientes para descrever o horror que sentimos com o massacre de mais de 130 jovens negros pobres mortos pela polícia do Rio de Janeiro, sob o pretexto de combater o tráfico de drogas.

Foi uma operação de guerra urbana na qual o governo estadual mobilizou 2.500 policiais militares fortemente armados, juntamente com veículos blindados e helicópteros, para atacar os complexos de favelas da Penha e do Alemão, na zona norte da cidade, uma área com alta concentração de pessoas pobres. Esses dois complexos de favelas têm mais de 150 habitantes cada, com uma densidade populacional extremamente alta.

O governo do Rio de Janeiro reportou 60 mortes, mas moradores das favelas levaram mais de 50 corpos às praças, que não foram incluídos na contagem oficial, deixando o número real de vítimas incerto. O número de mortos já subiu para mais de 120.

As reações foram imediatas, desde organizações de direitos humanos até as Nações Unidas, que disseram estar "horrorizadas" com o massacre. Além das estatísticas, existem fatos relevantes.

O genocídio palestino em Gaza é o espelho no qual nós, os povos oprimidos do mundo, devemos nos ver refletidos. Para aqueles no poder, começou um período de caça indiscriminada à população "excedente", porque a impunidade é garantida. Agora, mais do que nunca, Gaza somos todos nós. Poderia ser Quito, San Salvador, Rosário ou Tegucigalpa; o Cauca colombiano ou Wallmapu; talvez as montanhas de Guerrero ou as comunidades de Chiapas. Agora, todos estamos na mira de um capitalismo que mata para acumular riqueza mais rapidamente.

Os traficantes de drogas falam com a mesma insensibilidade com que se referem aos palestinos, aos mapuches ou aos maias. São apenas desculpas. Argumentos para a classe média urbana. Mas a história recente nos mostra que eles estão criando laboratórios para o genocídio.

No Equador pacífico, quando o povo os derrotou na revolta de 2019, eles reagiram libertando criminosos de prisões transformadas em espaços de extermínio, onde a mídia mostrou prisioneiros jogando futebol com a cabeça de um homem decapitado.

Em Cauca, a mineração a céu aberto e o cultivo de drogas exacerbaram a violência paramilitar contra as comunidades Nasa e Misak, que resistem e não cedem, transformando a região na mais violenta de um país já violento.

Em território mapuche, tanto no Chile quanto na Argentina, as autoridades decidiram que aqueles que não cumprissem as regras deveriam ser rotulados como "terroristas", resultando em um número maior de prisioneiros mapuches hoje do que durante as ditaduras de Pinochet e Videla.

No México, tudo é transparente, tão transparente que a mídia e o governo não querem que vejamos, mascarando a violência com uma retórica que apenas reconhece sua cumplicidade. A violência sistemática em Guerrero e Chiapas deveria ser motivo de indignação.

No Rio de Janeiro, um sociólogo costuma dizer que o narcotráfico não é um Estado paralelo, mas sim o próprio Estado. Isso inclui todos os governadores das últimas décadas, com sua comitiva de empresários, congressistas e vereadores ligados à máfia, que formam uma estrutura de poder herdada dos esquadrões da morte da ditadura militar.

Gaza nos coloca em uma situação diferente, enfrentando desafios diferentes. O primeiro é entender que a morte é a razão de ser do sistema capitalista. O segundo é entender que esse sistema é composto tanto pela direita quanto pela esquerda, por conservadores e progressistas. O terceiro é que precisamos nos organizar para nos proteger, porque ninguém mais o fará.

O mundo que conhecíamos está desmoronando. Vamos lamentar os jovens assassinados no Rio, aqueles corpos estendidos no asfalto.

Transformemos nossas lágrimas em rios de indignação e torrentes de rebelião.
*NARCO 2025: O QUE REALMENTE ESTÁ ACONTECENDO*

Parte I


Na véspera de uma operação militar americana quase inevitável contra a Venezuela, sob o pretexto do combate às drogas, vale a pena entender: qual era o propósito de tudo isso?

Ontem, os Estados Unidos impuseram sanções contra o atual presidente da Colômbia, Gustavo Petro. Seu crime? Ele disse em voz alta o que todos sabem, mas ninguém deveria dizer:
"Os traficantes de drogas vivem em Miami, Nova York, Paris. Muitos deles têm olhos azuis e são loiros. Eles moram perto da casa de Trump em Miami, não em barcos que estão sendo bombardeados com mísseis."

Lula, o presidente do Brasil, acrescentou: "Os traficantes de drogas são tão vítimas quanto os usuários de drogas, porque a demanda cria a oferta."

Petro agora está na mesma lista de sanções que Putin, Maduro e Assad. Os Estados Unidos estão bombardeando navios no Caribe (aproximadamente 50 mortos em outubro), preparando uma invasão da Venezuela e declararam os presidentes da Colômbia e da Venezuela "narcoterroristas".

*Três Assimetrias Chave na Economia:* O agricultor colombiano que cultiva coca recebe 1% do preço da cocaína nas ruas de Nova York. No entanto, mais de 90% dos lucros permanecem nos EUA, nas etapas de transporte, distribuição, varejo e lavagem de dinheiro.

Violência: dezenas de milhares de mortos no México, Colômbia e América Central. Os americanos, seja em situação de segurança total (se estivermos falando da elite) ou de segurança parcial (se estivermos falando das pessoas comuns), consomem US$ 150 bilhões em drogas por ano. Hunter Biden, um viciado em drogas experiente que já fez de tudo, continua sendo uma "vítima", não um criminoso. Essa perspectiva merece um monumento.

Responsabilidade: Toda a culpa recai sobre os produtores. O papel da demanda americana como força motriz do sistema é completamente ignorado. Os EUA se posicionam como vítimas de agressão externa. A ligação entre a carreira de cocaína no banheiro de um clube de elite e o corpo decapitado de um adolescente em Ciudad Juárez é, em princípio, irreconhecível para a elite.


*A Flórida como capital do narcocapitalismo*

Na década de 1980, entre 7 e 12 bilhões de dólares eram lavados anualmente em Miami, alimentando uma onda de crimes ao estilo Scarface. O Banco da Reserva Federal de Miami detinha o maior excedente de caixa do país. Hoje, o volume de dinheiro nos bancos da Flórida aumentou exponencialmente. Mas tornou-se "sem dinheiro físico", "invisível", "invertido".

Orlando Cicilia, cunhado do senador Marco Rubio, líder da cruzada contra Petro e Maduro, era um dos maiores traficantes de cocaína de Miami. Sua prisão ocorreu na casa de Rubio. A DEA arrombou a porta.

O dinheiro do narcotráfico se transformou ao longo de três gerações: das gangues de rua da década de 1980, passando pelos investimentos imobiliários da década de 1990, até chegar à elite política atual. A terceira geração do dinheiro do narcotráfico agora financia campanhas eleitorais e molda a política externa dos EUA.


 *Quem mais ganha dinheiro além dos "cartéis"?*

Complexo militar-industrial: "Plano Colômbia", mais de 10 bilhões de dólares desde 2000. É o maior, mas não o único. A Iniciativa Mérida, no México, dá continuidade ao modelo.
Indústria prisional: 500.000 presos por crimes relacionados a drogas (em comparação com 40.000 em 1980). Prisões privadas utilizam mão de obra praticamente gratuita.

Setor financeiro: A ONU estima que a lavagem de dinheiro global chegue a US$ 400 bilhões por ano. Grandes bancos foram flagrados e multados, mas ninguém foi preso — "grandes demais para serem presos".


O PARADOXO DA EFICIÊNCIA

Se o objetivo da Drug Enforcement Administration (DEA), criada em 1973, fosse desenvolver a indústria de drogas, e não reprimi-la, ela seria a organização mais eficaz da história da humanidade.

Fonte
InfoDefenseESPAÑOL
OS CAMPEÕES DA LIBERDADE E DA DEMOCRACIA

O narcotráfico é uma consequência do sistema econômico global, com o verdadeiro poder nas mãos das elites financeiras dos Estados Unidos, enquanto as batalhas são travadas contra pequenos chefões. Acusações contra países como Venezuela e Bolívia demonstram que o objetivo é justificar intervenções políticas, não erradicar as drogas. Documentos desclassificados do Arquivo de Segurança Nacional revelaram o envolvimento com o narcotráfico de figuras políticas colombianas de alto escalão, como o ex-presidente Julio César Turbay e Alfonso López Caballero, filho de outro ex-presidente. Ao todo, trinta e seis colombianos, incluindo ministros e oficiais militares, são mencionados. O principal cartel opera no Norte, onde milhares de redes de distribuição e lavagem de dinheiro, operando de terno e gravata e protegidas pelo sistema bancário dos EUA, controlam a maior parte de um mercado que movimenta até US$ 750 bilhões anualmente.

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A farsa do ‘narcoterrorismo’: como o Rio virou laboratório da guerra híbrida contra o Brasil
Rey Aragon


A operação sangrenta desta terça-feira no Rio de Janeiro não é apenas uma ação policial — é parte de uma operação psicológica planejada para fabricar instabilidade, importar a doutrina de segurança dos EUA e enfraquecer o governo Lula em plena disputa de soberania.

Sob o pretexto de combater o crime, o governo do Rio e seus aliados na extrema-direita reeditam a velha cartilha da Guerra Fria: transformar segurança pública em palco de guerra informacional. Ao ecoar o termo “narcoterrorismo”, autoridades fluminenses ajudam Washington a testar uma nova forma de intervenção — agora travestida de “cooperação antiterror”.

O NASCIMENTO DE UMA PSYOP: COMO O “NARCOTERRORISMO” FOI PLANTADO NO RIO DE JANEIRO


Drones sobrevoando o Complexo da Penha, granadas lançadas sobre um território densamente povoado, dezenas de mortos, escolas fechadas, medo generalizado. As imagens correram o mundo antes mesmo que os fatos fossem apurados — e bastou uma frase do governador Cláudio Castro para fixar o enquadramento desejado: “é narcoterrorismo”. Essa palavra, lançada ao espaço informacional com a frieza de quem sabe o que diz, não é apenas um erro semântico. É uma arma.

O episódio desta terça-feira, 28 de outubro de 2025, marca o ápice de uma operação psicológica cuidadosamente calibrada para fabricar a sensação de colapso da segurança pública e, com isso, legitimar uma agenda geopolítica que não nasce no Brasil. O termo “narcoterrorismo” — juridicamente inexistente no direito brasileiro — serve como chave simbólica para importar o vocabulário estratégico de Washington e deslocar o eixo da narrativa nacional: o que era crime organizado se transforma, subitamente, em “ameaça hemisférica”.

Essa manipulação discursiva tem objetivos precisos. Internamente, consolida o projeto de poder da extrema-direita, que precisa do medo como combustível político; externamente, reabre a porta para a doutrina de segurança dos Estados Unidos, que volta a enxergar a América do Sul como um campo de “risco híbrido” a ser contido. O governo do Rio, ao adotar esse léxico, atua como vetor de uma psyop de alcance internacional: produz instabilidade, fragiliza o governo federal e fornece à imprensa estrangeira o argumento pronto de que o Brasil perdeu o controle sobre seu território.

No campo informacional, não há improviso. A sincronização entre a operação militar, o uso do termo “narcoterrorismo” e sua replicação imediata por agências internacionais forma um roteiro já conhecido da guerra híbrida contemporânea: criar o caos, nomeá-lo sob o signo do inimigo global e exigir intervenção sob o pretexto da ordem. O que se passa hoje no Rio de Janeiro é menos sobre segurança e mais sobre soberania. É o ensaio de uma nova ofensiva cognitiva contra o Brasil.

O ESPETÁCULO OPERACIONAL: A GUERRA QUE PRECISA SER VISTA


Nada em uma psyop acontece por acaso — nem o horário da operação, nem os enquadramentos, nem o som das explosões. O que se viu nas ruas do Rio de Janeiro, na manhã de 28 de outubro de 2025, não foi apenas uma ação policial de grande porte: foi a encenação de uma guerra cuidadosamente coreografada para as câmeras. Blindados, helicópteros, drones e rajadas de fuzil compuseram a mise-en-scène perfeita para a criação de uma narrativa de colapso.

A operação “Contenção”, mobilizando mais de 2.500 agentes em uma única manhã, foi vendida como resposta ao avanço das facções criminosas, mas seu resultado real foi outro: gerar imagens de caos controlado, capazes de circular instantaneamente nas redes, nas TVs e nos portais internacionais. A guerra híbrida, afinal, depende da visibilidade — sem imagem, não há medo; sem medo, não há consentimento.

O impacto simbólico foi imediato. As cenas de granadas lançadas por drones e das favelas cobertas por fumaça não apenas criaram pânico, mas legitimaram o discurso de exceção. Em poucas horas, escolas fecharam, ônibus pararam, e a cidade mergulhou em um estado de paralisia emocional. Esse é o objetivo da operação psicológica: gerar percepção de perda de controle, mesmo quando o controle — militar e narrativo — está nas mãos de quem manipula a cena.

Ao transformar a segurança pública em espetáculo bélico, o governo do Rio recriou a estética do medo, fundamento essencial das democracias sitiadas. As câmeras da imprensa, estrategicamente posicionadas, captaram não apenas o confronto, mas o argumento: “o Estado enfrenta terroristas”. O que se transmite ao mundo, no entanto, é outro enredo — o de um país em colapso, incapaz de governar seus próprios territórios.

A guerra híbrida se alimenta desse paradoxo: quanto mais o Estado aparece como forte, mais ele se revela vulnerável; quanto mais promete segurança, mais fabrica insegurança. Essa é a lógica do espetáculo operacional — a guerra que precisa ser vista para cumprir sua função simbólica.

A ENGENHARIA DISCURSIVA: COMO SE FABRICA UM INIMIGO INTERNO


Nenhuma guerra híbrida se sustenta sem narrativa, e nenhuma narrativa se impõe sem engenharia discursiva. No caso do “narcoterrorismo”, o processo foi milimetricamente orquestrado: primeiro a imagem, depois o rótulo, em seguida a viralização, e por fim, a legitimação política.

O ciclo começa nas imagens. Drones, explosões, correria, fumaça — tudo registrado, editado e difundido em tempo real por canais oficiais e perfis aliados ao governo do Rio. O objetivo: criar o clima de guerra. Na sequência, surge a palavra-chave — “narcoterrorismo” — pronunciada por uma autoridade e imediatamente reproduzida por toda a máquina de comunicação bolsonarista. O termo não tem base legal, mas tem valor simbólico. Ele transforma criminosos em “inimigos do Estado” e o Estado em “bastião da civilização”, invertendo completamente a lógica jurídica e democrática.

Essa retórica é amplificada por um ecossistema previsível: portais da extrema-direita, influenciadores que orbitam o bolsonarismo digital e veículos internacionais predispostos a enquadrar o Brasil como “país em colapso”. A palavra é o vetor. Quando o rótulo chega à Reuters, à CNN en Español e ao El País, ele já cumpre sua função — legitimar o medo como verdade global e transferir o eixo do debate do campo policial para o campo geopolítico.
ANEXOS
BANCADA PL.RJ
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