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terça-feira, 4 de abril de 2023

A América Latina No Olho Do Furacão * Roberto Bergoci / SP

 A América Latina No Olho Do Furacão


o agravamento da crise orgânica do capital na raiz da nova onda golpista em nosso continente.

A América Latina no olho do furacão: o agravamento da crise orgânica do capital na raiz da nova onda golpista em nosso continente.

Toda análise mais profunda, que envolva a totalidade do modo de produção capitalista, tem chegado a conclusões de que, tal regime entrou num longo período de declínio, crises constantes e regresso civilizacional. A crise profunda que hora vivenciamos na América Latina é um momento dessa totalidade, manifesta em uma de suas cadeias mais débeis, que é justamente o capitalismo dependente. Sem uma compreensão desse fenômeno em seu conjunto, fica impossível entendermos o que de fato nos atinge em Nossa América.

A crise contemporânea que abala a sociedade burguesa em seu conjunto, possuí um caráter dialético, pluri causal, como nos ensina Marx em seus três livros que compõem O Capital: neste processo, vemos a combinação e ação recíproca influir uns sobre os outros, os problemas estruturais que envolvem o modo de produção capitalista, como superprodução, queda das taxas de lucro, sobreacumulação, financeirização, etc; em suma, a manifestação da crise de valorização do capital em sua organicidade. Este processo se torna ainda mais dramático, sobretudo pelo fato de que, uma das características do capitalismo atual é ter entrado numa fase de completo amadurecimento e mundialização, onde deslocou já para quase toda parte do globo terrestre suas contradições, como já teorizado por Rosa Luxemburgo em seu importante livro “Acumulação de Capital”.

Na verdade, como disse o economista marxista Robert Kurz em um de seus escritos: “Desde meados dos anos 1970 se multiplicam os sinais de uma séria crise da reprodução do sistema mundial produtor de mercadorias. Taxas declinantes ou estagnadas; desemprego em massa e ‘estrutural’ crescentemente desacoplado dos ciclos conjunturais tanto nos países desenvolvidos da OCDE quanto na periferia do mercado mundial [...] Tudo isso, por sua vez, é superposto pela cada vez mais ameaçadora crise do ecossistema em escala planetária: do “buraco na camada de ozônio” à destruição das florestas tropicais da África e da Amazônia, da propagação das zonas desérticas à contaminação das cadeias alimentares, da destruição dos sistemas ecológicos internos como os do Mar do Norte, dos Alpes e do Mar Mediterrâneo até a irreversível contaminação dos solos e da água potável etc.” (Robert Kurz, “A Crise do Valor de Troca”). Dessa forma, em concordância com outros importantes autores marxistas da contemporaneidade, podemos perceber que a atual crise, ao contrário das anteriores correspondentes ao capitalismo em sua fase de ascenso, atinge a totalidade do regime burguês.

O pensador revolucionário István Mészáros ensina que: “[...] a crise do capital que experimentamos hoje é fundamentalmente uma crise estrutural. Assim, não há nada especial em associar-se capital a crise. Pelo contrário, crises de intensidade e duração variadas são o modo natural de existência do capital: são maneiras de progredir para além de suas barreiras imediatas e, desse modo, estender com dinamismo cruel sua esfera de operação e dominação.”(István Mészáros, “Para além do Capital”). E um pouco mais à frente Mészáros explicita a singularidade da atual crise que, segundo ele, possui um caráter universalizante, atingindo todas as esferas da reprodução social.

Pedindo já perdão ao leitor pelas longas citações-- que ao nosso juízo são essenciais para uma melhor compreensão do que ocorre na América Latina, tema de nosso texto-- segue Mészáros: “A novidade histórica da crise de hoje torna-se manifesta em quatro aspectos principais:

(1) Seu caráter é universal, em lugar de restrito a uma esfera particular (por exemplo, financeira ou comercial, ou afetando este ou aquele ramo particular de produção[...];

(2) Seu alcance é verdadeiramente global (no sentido mais literal e ameaçador do termo), em lugar de limitado a um conjunto particular de países (como foram todas as principais crises do passado);

(3) Sua escala de tempo é extensa, continua, se preferir, permanente, em lugar de limitada e cíclica, como foram todas as crises anteriores do capital;

(4) Em contraste com as erupções e os colapsos mais espetaculares e dramáticos do passado, seu modo de se desdobrar poderia ser chamado de rastejante, desde que acrescentemos a ressalva de que nem sequer as convulsões mais veementes ou violentas poderiam ser excluídas no que se refere ao futuro: a saber, quando a complexa maquinaria agora ativamente empenhada na ‘administração da crise’ e no ‘deslocamento’ mais ou menos temporário das crescentes contradições perder sua energia.”(Idem).

Pensamos que no geral, este seja o caldo de cultura do atual período de instabilidade e golpes de Estado envolvendo praticamente todos os países latinoamericanos. Isso não exclui, pelo contrário, se combina dialeticamente com as características próprias dos países em nosso continente, marcados pela dependência e subdesenvolvimento, tornando dessa forma os efeitos da crise orgânica do capitalismo mundial muito mais perversos em nossa Grande pátria.

Instabilidade, golpes e geopolítica do caos: a América Latina e o imperialismo diante da crise estrutural

AJUDA HUMANITÁRIA IMPERIALISTA


Nesta nova etapa do capitalismo mundial, marcado pela hegemonia do capital financeiro fictício, o padrão de acumulação que caracteriza os países latinoamericanos é justamente o neoliberalismo. O padrão de acumulação neoliberal é em si, a expressão da crise da produção de mais-valia, como consequência dos processos de intensificação da automação industrial poupadora de trabalho vivo, humano, o que Marx conceitualizou como o aumento da composição orgânica do capital.

O regime neoliberal de acumulação trás em seu bojo, o incrível incremento da superexploração dos trabalhadores, desemprego crônico, recrudescimento da transferência de valor e de riquezas dos países dependentes para as metrópoles imperialistas, pauperismo absoluto das massas trabalhadoras e das classes médias, intensificação da marginalização e “lupenização” de vasta parcela das massas populares e etc.

A América Latina vive entre os fins dos anos 1980 e inicio dos anos 1990, sua primeira onda neoliberal. Na época, o continente estava marcado pela crise da divida, fuga de capitais, desinvestimentos, grande estagnação econômica e etc. O imperialismo estadunidense e toda gangue representante do grande capital financeiro internacional e sua imprensa, aliados das oligarquias latinoamericas, viam sérios riscos quanto às suas condições de lucros e espólio. Nascia assim o famigerado Consenso de Washington, pilar da generalização neoliberal-neocolonial em nossa região.

Este período se caracteriza entre outras coisas pelo assalto descarado aos ativos estatais por parte das multinacionais, através das privatizações. Boa parte das conquistas sócias foram destruídas pela via das “reformas estruturais”: trabalhistas, previdenciárias, etc. Saindo dos sanguinários regimes militares, o continente foi dominado pela ditadura do “deus” mercado, onde nossos povos eram literalmente imolados nesse altar da barbárie.

Não tardou para que as revoltas operárias e populares colocassem um duro freio a esse genocídio social. Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador entre outros países, foram sacudidos por verdadeiros processos de insurreições e\ou explosões sociais, derrotando duramente os governos títeres da Casa Branca. Na sequencia, o continente hegemonizado politicamente pelos governos nacionalistas burgueses, colocaram certo freio nas políticas neoliberais. O crescimento da economia mundial no período, sobretudo a ascensão da China como importante ator e importador de matérias primas, estimulou a valorização dos produtos agrominerais, importante base de exportação de nossas economias dependentes.

Tal conjuntura “favorável”, permitiu relativa melhora nas contas externas de nossos países, transformados em importantes concessões aos povos trabalhadores e a pequena burguesia. No entanto, os pilares da dependência e do subdesenvolvimento jamais foram tocados pelos chamados governos “progressistas”. A submissão aos imperativos da divisão mundial do trabalho, a superexploração da força de trabalho, a crônica transferência de valor e riqueza para os países imperialistas não foram revertidos, apenas “aliviados”. Em suma, as relações de exploração e opressão se mantiveram com algum freio, mas em essência continuamos sendo países dependentes.

A América do Sul em particular, se distanciou relativamente do Consenso de Washington, criando a ALBA, ou fortalecendo outros fóruns de integração regional como o Mercosul. Além disso, houve no período uma importante aproximação de países adversários dos EUA no âmbito geopolítico como Rússia e China, além da constituição dos BRICS e sua relação com a América Latina, que na prática, embora sua moderação, afrontava na região a odiosa hegemonia da Casa Branca.

De forma muito sumária, podemos afirmar que tais fatores, conjugados com a explosão em 2007-2008 de mais um momento da crise estrutural do capitalismo mundial, foram determinantes para por fim ao período que se inicia no começo dos anos 2000 em nosso continente, abrindo assim as condições objetivas para a atual quadra de barbárie em nossos países.

O neocolonialismo imperialista e o Ascenso do fascismo


A América Latina vive atualmente um período de grande turbulência e caos econômico, político e social. A intensificação da crise mundial capitalista é a base do recrudescimento de todas as contradições que envolvem o capitalismo dependente.

A burguesia imperialista e seus sócios menores na America latina tem levado adiante, como resposta à crise, uma verdadeira reestruturação do capitalismo em nosso continente: as formas políticas e jurídicas sustentáculos dos regimes políticos, estão sendo transformadas, “adaptadas” dialeticamente às novas necessidades de acumulação. Podemos dizer que um “novo” patamar de acumulação, baseado num grau muito mais intenso de superexploração e dominação neocolonial, esta sendo gestado em toda a América Latina.

Fatores geopolíticos de primeira ordem também influem neste processo. A esse respeito, o imperialismo leva adiante uma verdadeira batalha de vida ou morte para minar a influencia de Rússia e China na região e estabelecer sua “nova” doutrina Monroe, através da dominação do Spectro Total, como dizia Moniz Bandeira . A luta pela sua hegemonia incontestável, pelo controle ferrenho de fontes de matéria prima e energéticos no continente, além da dominação de importantes reservatórios de água potável, são a base da atual ofensiva imperialista contra a América latina.

Semelhanças com o que fizeram no Oriente Médio não é mera coincidência: Washington tenciona trazer o caos planejado para a nossa região, através das chamadas “guerras hibridas”, ou seja, a intensificação de conflitos irregulares e indiretos, como tem demonstrado o importante estrategista Andrew Korybko. O papel desempenhado por exemplo, das igrejas neopentecostais nos atuais golpes de Estado no continente, em muito se assemelham as atuações fundamentalistas dos wahabitas sunitas islâmicos no Oriente Médio.

A militarização da região e o ascenso de agrupamentos fascistas tem sido outro instrumento mobilizado pela Cia e Mossad atualmente. Para levar adiante a espoliação radical de nossos povos, o grande capital imperialista tem de lançar mão de seu reservatório fascista contra as organizações de luta da classe trabalhadora e quebrar a resistência das massas.

A política de roubo e pilhagens do capital financeiro atualmente na America latina, somente pode ser conseguido até suas últimas consequências, através do terrorismo de Estado. O narco Estado colombiano é um modelo que os imperialistas planejam generalizar. O crescimento das milícias bolsonaristas no Brasil, suas relações com o narcotráfico, com as Policias Militares e com o alto Comando das Forças Armadas é sintomático disso. As repressões selvagens contra as massas no Chile e na Bolívia pelos golpistas fascistas, também são exemplos do que pode se generalizar no continente, tendo como caldo de cultura a intensificação da crise de dominação burguesa.

A América Latina Resiste!

OTAN - COMANDO SUL

Os povos latinoamericanos resistem bravamente aos bárbaros ataques das burguesias nativas e do imperialismo. Os trabalhadores chilenos são um exemplo a ser seguido por nossos povos. O recrudescimento das mobilizações contra o carniceiro Sebastian Piñera tem colocado a burguesia pinochetista chilena contra a parede e promovido uma verdadeira crise de dominação no país.

O povo boliviano, como em outros momentos históricos se levanta contra o golpismo em seu país. Os golpistas lupens, verdadeiros peões da Casa Branca, Jenine Áñez, “Macho” Camacho e toda a quadrilha que usurparam o governo boliviano tem de promover um genocídio de fato contra as massas, para garantir o roubo mais vil à nação em favor do capital estrangeiro.

Equador, Haiti e Argentina, dão mostras das tendências revolucionárias do povo latinoamericano no próximo período.
No Brasil, a classe trabalhadora deste país precisa entrar em cena e por abaixo a gerencia entreguista do bandido miliciano Jair Bolsonaro. Os trabalhadores brasileiros podem desestabilizar o jogo de forças na região e arrastar a America latina para um grande ascenso antiimperialista revolucionário; para isso precisam romper a camisa de força de suas direções hegemônicas, comprometidas com a estabilidade do regime burguês decadente.

De qualquer forma, não há no próximo período, qualquer sinal de recuperação consistente da economia capitalista. Pelo contrário, o que se vê no horizonte é o aprofundamento da crise estrutural e das consequentes turbulências políticas, que podem de fato generalizar na América Latina, a crise de dominação das burguesias nativas, fator que põe na ordem do dia a luta anti imperialista e a revolução socialista continental, em direção a Grande Pátria Latinoamerica Socialista!

OTAN
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segunda-feira, 20 de março de 2023

Operação Peter Pan * Carmen Diniz / Brasil de Fato

Operação Peter Pan: 
uma gigantesca "fake news" contra Cuba nos anos 60
Criada pelos EUA, campanha afirmava que crianças e adolescentes cubanos seriam enviadas para a União Soviética
Carmen Diniz*
Brasil de Fato | São Paulo (SP)

Operação Peter Pan: mais de 14 mil crianças e adolescentes cubanos viajaram para os EUA separados de suas famílias - Barry University


Foram incontáveis os atentados praticados contra Cuba pelos diferentes governos estadunidenses: atentados a bombas em diversos locais, ataques com explosões em hotéis de turismo, inoculação de vírus e bactérias,como a gripe suína, dengue hemorrágica, pragas na agricultura (entre essas, várias que afetariam o cultivo do tabaco), além de um bloqueio criminoso e mais de 600 tentativas de assassinato do presidente Fidel Castro. Uma infinidade de tentativas de derrotar o governo constitucional de Cuba, de asfixiar o povo cubano com a reconhecida intenção – porque os documentos secretos dos EUA assim declaram – de fazer com que o povo cubano, sofrendo reveses econômicos e financeiros derrubasse seu sistema de governo. Não tiveram nenhum êxito...

Assim sendo, desde 1959, essa verdadeira obsessão dos diversos governos dos EUA em destruir o socialismo da Ilha através de atos terroristas seguiu durante todo o período, desde o triunfo da Revolução Cubana até os dias de hoje, inclusive com a utilização de uma máquina de propaganda que não é novidade para os cubanos.

Os EUA sempre utilizaram essa estratégia: inicialmente com voos que partiam de Miami para jogar panfletos em Havana, a fim de sublevar a população contra o governo, depois com a instalação da Radio e TV Martí através da qual enviaram – e enviam – programas para subversão popular. Não são bem sucedidos na iniciativa, mas seguem tentando, apesar de um dos seus presidentes ter reconhecido a inutilidade do bloqueio. Não há como subjugar um povo culto e soberano.

Assim, um dos episódios de propaganda e de impressionante "fake news" foi protagonizado pelo governo dos EUA junto com a Igreja Católica cubana, que sempre se posicionou contra a Revolução: a chamada Operação Peter Pan.

Em outubro de 1960, começou a ser montada pelo Departamento de Estado dos EUA, CIA, Igreja Católica de Miami e Vaticano, uma gigantesca operação para a infância cubana denominada The Cuban Children´s Program. Em uma construção midiática para aterrorizar a população, especialmente as mães e os pais cubanos, estes atores inventaram uma suposta lei (que nunca existiu de fato) chamada "Lei da Perda do Pátrio Poder". A suposta lei (confeccionada nos EUA) foi amplamente distribuída de forma clandestina pelo território cubano.

Além disso, por meio de uma rádio instalada em território hondurenho, eram transmitidas notícias a respeito da falsa lei, alertando os pais de crianças entre 5 e 18 anos que o governo revolucionário lhes tiraria os filhos, destituindo-os do pátrio poder e enviando estas crianças para a então União Soviética, com a finalidade de educá-los nos princípios comunistas para que assim fossem convertidos em soldados e/ou...em carne enlatada[1].

Algumas das transmissões eram bem aterrorizantes:

"Mãe cubana, ouça só, a próxima lei governamental será tirar seus filhos dos cinco aos 18 anos", comentário que se alternava com "mãe cubana, não deixe seu filho ser levado embora! É a nova lei do governo (...), quando isso acontecer, eles serão monstros do materialismo. Fidel vai se tornar a mãe suprema de Cuba".

"Atenção, cubana! Vá à igreja e siga as orientações do clero" era também uma das frases proferidas através da rádio.

O pânico que se espalhou entre as famílias fez com que fossem transportados mais de 14 mil crianças e adolescentes cubanos entre 6 e 16 anos, desacompanhados, em voos de companhias aéreas estadunidenses para o território norte-americano. Cabe destacar que a grande maioria das crianças e adolescentes estudavam em escolas privadas e descendiam de famílias da então burguesia cubana, predominantemente branca. Dali, elas eram transferidas para orfanatos, casas de famílias que as adotavam (muitas vezes como empregados), acampamentos, alojamentos e até mesmo centros de detenção para menores infratores. Muitos deles jamais voltariam a ver seus pais.

A operação seguiu levando crianças de Cuba para os EUA até 1962, quando o governo estadunidense rompeu relações diplomáticas com Cuba, suspendendo o tráfego aéreo entre os dois países.

Sem dúvida, essa foi a maior manipulação da infância ocidental com finalidade política e um dos mais tristes episódios dentro do continente. Mais um triste episódio de atentados perpetrados pelos governos dos EUA contra Cuba e que não pode ser esquecido.

Algumas crianças/jovens conseguiram superar seus traumas, estudar e ali permanecer como sendo seu próprio país. Outras não tiveram sorte... Com relação a seu país de origem, algumas se tornaram anti-cubanas, enquanto outras se tornaram defensoras do sistema socialista cubano. Uns regressaram a Cuba, outros criaram a Brigada de Solidariedade a Cuba (Brigada Antonio Maceo), em Miami, onde realizam anualmente uma série de atividades a favor de Cuba.

As consequências para cada um/uma foi diferente, dependendo das circunstâncias com que se depararam, mas não se pode negar o tamanho do prejuízo físico, moral e sentimental que os "Peter pan" e suas famílias sofreram com mais esse ataque insensível e cruel criado pelas agências dos EUA, pela Igreja católica e demais cúmplices.

Mas, mais uma vez, não conseguiram 'dobrar' o povo cubano.

"Temos memória"

Em Cuba, na primeira semana de setembro, teve início a Jornada Temos memória. Solidariedade x Bloqueio, que segue até dia 10 de outubro. A jornada, realizada anualmente, homenageia as vítimas de atos terroristas patrocinados pelo governo dos EUA contra Cuba desde o triunfo da Revolução.

O símbolo da jornada lembra um dos mais terríveis atentados praticados contra o povo cubano: o conhecido Crime de Barbados, quando um voo civil da Cubana de Aviação explodiu no ar devido a uma bomba, em 1976, matando todos os passageiros. O ataque foi realizado por dois confessos terrorristas, que viveram livres e impunes em Miami até o fim dos seus dias, protegidos pelo governo estadunidense. O atentado matou as 73 pessoas que estavam a bordo, dentre eles, uma equipe jovem de esgrima.

[1] Não foi essa a primeira vez em que a absurda lenda de que "comunista come criancinha" foi utilizada. Isso já tinha ocorrido na Itália fascista no fim da Segunda Guerra Mundial quando a máquina de propaganda de Mussolini 'alertava' os soldados italianos que, caso se rendessem ao Exército Vermelho, seriam mortos, triturados e enlatados para saciar a fome de milhões de soviéticos. Nem originais o governo do EUA e a Igreja souberam ser.

*Carmen Diniz é coordenadora do capítulo Brasil do Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade aos Povos
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domingo, 12 de março de 2023

A MÍDIA E A SUA NOVA LAVA JATO * Ângela Carrato/MG

 A MÍDIA E A SUA NOVA LAVA JATO

Ângela Carrato

Jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG


Qualquer pessoa razoavelmente informada e intelectualmente honesta sabe que o roubo do pré-sal brasileiro e o desmonte da Petrobras estão no cerne do golpe que depôs a presidenta Dilma Rousseff, em 2016. 


Sabe que essas ações foram a principal razão para que a Operação Lava Jato tentasse, por todas as maneiras, desmoralizar a principal empresa estatal brasileira e a maior da América Latina, e, sobretudo, se valesse de denúncias infundadas de corrupção, para derrubar Dilma, prender Lula e evitar que ele pudesse disputar as eleições de 2018, quando era franco favorito.


Sabe também que esse golpe não foi do tipo tradicional, com tanques nas ruas, como aconteceu no Brasil em 1964 e historicamente ao longo de décadas em países da região.


O golpe que depôs Dilma atende pelo nome de guerra híbrida, uma combinação de ações e guerras não convencionais para substituir governos em diversas partes do mundo. 


Os Estados Unidos não são os únicos, mas seguramente é o país que mais se valeu e continua se valendo deste tipo de expediente, para o qual conta com o apoio de setores da classe dominante dos países alvo e da mídia corporativa.


Na guerra híbrida, o objetivo é fomentar e manejar a opinião pública contra governos progressistas ou considerados adversários com vistas a depô-los para rapinar as riquezas nacionais sem que a participação do Tio Sam e de seus aliados fique evidenciada. 


Como não há crime perfeito, as digitais dos envolvidos acabam aparecendo. 


Se no golpe de 1964 foram necessárias várias décadas para que a atuação da Casa Branca ficasse amplamente comprovada, contra Lula e Dilma foi bem mais rápido. 


Em junho de 2019 vinham a público, através de vazamentos, as conversas entre o então juiz Sérgio Moro e o promotor federal Deltan Dallagnol, ambos da Operação Lava Jato, com setores do Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ). 


Por essas conversas ficava evidente não só o interesse dos Estados Unidos na desmoralização e destruição da Petrobras, como o esforço para prender Lula e mantê-lo fora das eleições de 2018. 


Aos olhos de hoje, o objetivo é claro: se Lula fosse eleito naquele ano, como tudo indicava, o golpe de 2016 chegaria ao fim, pois ele desfaria as atrocidades cometidas por Michel Temer contra o pré-sal e a Petrobras e o governo neofascista de Jair Bolsonaro  nem teria existido.


Se uma das primeiras providências do golpista Temer foi entregar o pré-sal brasileiro para a exploração das multinacionais, isentando-as de impostos, e alterar a lei das estatais, retirando poderes do governo sobre a Petrobras, Bolsonaro aprofundou a destruição da empresa.


Foi sob o comando dele e de seu ministro da Economia, Paulo Guedes, que a Petrobras foi obrigada a privatizar, a preço de banana, vários de seus ativos, a exemplo de refinarias, gasodutos e da BR Distribuidora, além de ter adotado uma modalidade para cálculo do preço dos combustíveis que os elevou às alturas. 


Visando exclusivamente os interesses estrangeiros, a Petrobras passou a praticar uma política que a transformou em mera vendedora de petróleo cru e importadora de gasolina. Política profundamente lesiva aos interesses nacionais, uma vez que o Brasil é autossuficiente em petróleo e poderia continuar refinando-o aqui, como já fazia, ao invés de passar a importá-lo em preços dolarizados. 


Em meados do ano passado, por exemplo, o litro de gasolina chegou próximo a R$ 9,00 em várias capitais brasileiras. Esse valor só foi reduzido, por apenas 60 dias, às vésperas da eleição, porque Bolsonaro temia o impacto nas urnas.


Bolsonaro e seus apoiadores internos e externos apostaram tudo na vitória.  Inconformados com a derrota nas urnas, estimularam os atos terroristas de 8 de janeiro. 


Após a nova derrota, tentam, a partir de então, transformar Lula, neste terceiro governo, numa espécie de rainha da Inglaterra, aquela que reinava sem governar.


O caminho escolhido é o de acionar as “bombas” neoliberais deixadas em vários setores da economia,  com a finalidade de travar a retomada do crescimento e do desenvolvimento, jogando o Brasil numa estagnação ou mesmo recessão.


O caso da Petrobras é, sem dúvida, dos mais emblemáticos.


Uma das principais promessas de campanha de Lula foi a redução dos preços dos combustíveis, com o fim da PPI, a paridade de preços internacionais. 


Para o cidadão comum, bastaria Lula mudar a direção da Petrobras e o problema estaria resolvido. Porém, a situação é muito mais complexa e os golpistas e seus aliados já começam a explorá-la contra Lula.


A lei das estatais de 2016 retirou do governo federal os principais instrumentos para gerir a Petrobras, mesmo sendo o seu acionista majoritário. 


O nome indicado por Lula para presidir a empresa, Jean Paul Prates, só assumirá plenamente o cargo no final de abril, quando deverão ser escolhidos os diretores e novos integrantes para os conselhos de administração e fiscal. 


Até lá, a Petrobras continuará sendo comandada por bolsonaristas e da forma que interessa exclusivamente ao chamado “mercado”. 


Na prática os interesses de grandes fundos internacionais de investimentos como o Black Rock são os que continuam mandando e desmandando na empresa.


É isso que explica, por exemplo, o fato de em pleno governo Lula, a estatal manter o pagamento de dividendos astronômicos para seus acionistas e não dispor de orçamento para investimentos, mesmo tendo acabado de anunciar um lucro recorde de R$ 188,5 bilhões em 2022, o maior de sua história.


Os golpistas desvirtuaram de tal maneira o papel da Petrobras como empresa indutora do desenvolvimento, que sua participação no PIB brasileiro nos governos petistas foi de quase 18% e agora caiu para 6%  e continuará caindo, se Lula não conseguir estancar esta sangria e recuperar a empresa para os brasileiros.


Em várias oportunidades, Lula já se posicionou contra este tipo de rapinagem, lembrando que nenhuma empresa séria no mundo destina todo o seu lucro para pagamento de dividendos, sem se preocupar em fazer novos investimentos, sem se preocupar com pesquisa e inovação, especialmente numa área como a de energia, onde a concorrência é brutal.


Durante a cerimônia de lançamento do novo Programa Bolsa Família, Lula voltou ao assunto, renovando não só suas críticas, mas deixando claro que em seu governo a Petrobras retomará o papel para o qual foi criada. Vale dizer: uma empresa pautada pela inovação e pelo desenvolvimento nacional.


Se o Brasil tivesse uma mídia corporativa minimamente comprometida com esses interesses, era para a situação da Petrobras estar sendo mostrada, em detalhes, para a população, bem como os esforços de Lula para recuperá-la.


Como historicamente esta mídia sempre jogou a favor dos interesses internacionais,  agora  ela oscila entre esconder do respeitável público o que se passa ou distorcer a realidade para divulgar apenas o que lhe é conveniente. 


Os telejornais da Globo e da Record, por exemplo, não fazem qualquer referência às críticas de Lula à situação atual da Petrobras, enquanto jornais diários criticam "interferências" do governo na empresa e  abertamente combatem qualquer mudança na politica de distribuição de dividendos.


Pior ainda. A mídia corporativa brasileira faz de tudo para destacar o lucro recorde da empresa como algo extremamente positivo, sem qualquer alusão às condições em que se deu.


As manchetes e notícias de jornais como O Globo, Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo descontextualizam a situação de tal forma, que induzem o leitor a pensar que se a empresa teve lucro recorde, tudo vai às mil maravilhas e o governo Lula não tem nada para mudar ali. 


Não é dito, por exemplo, que esse lucro só foi conseguido a custa da venda de ativos  da empresa e dos preços astronômicos dos combustíveis. 


Os dividendos bilionários que os grandes acionistas receberam se devem aos altíssimos preços pagos pela população pelos combustíveis.


Com esta absurda transferência de renda, meia dúzia de bilionários ficam cada vez mais ricos à custa da pobreza e da miséria de amplos setores da população brasileira.


O festival de canalhices contra a Petrobras teve sequência,  quando da primeira entrevista coletiva do seu novo presidente.


A mídia corporativa estava presente em peso - só do grupo Globo havia cinco repórteres. Todos perguntaram as mesmas coisas: a nova gestão pretende mudar a política de preços? Como fica o pagamento dos dividendos? 


Não se ouviu uma pergunta sequer sobre as propostas do novo dirigente ou sobre os seus planos para a empresa. 


Nada. 


A única coisa que interessava aos repórteres, na realidade aos seus patrões, era saber se os acionistas continuarão recebendo os dividendos tal como vem acontecendo.


Para um toque mais canalha ainda, o jornal o Globo, em editorial, na sexta-feira (3/3) praticamente ameaçou o presidente Lula com o extermínio de sua popularidade, caso insista na defesa da retomada da Petrobras para o povo brasileiro.


Minha surpresa em relação a esse tipo de atitude da mídia corporativa brasileira é zero. 


Desde sempre estes “barões da mídia” estiveram ao lado dos lobbies internacionais e contra o Brasil quando o assunto é petróleo, Petrobras e desenvolvimento nacional. 


Assis Chateaubriand e Roberto Marinho, adversários nos negócios, se uniram nas décadas de 1950 e 1960 no combate à criação da Petrobras e ao seu desenvolvimento. 


Uma das razões do suicídio de Getúlio Vargas foram as pressões que passou a enfrentar, por ter criado a empresa, em outubro de 1953. 


Uma das razões do golpe contra João Goulart, em 1964, foi a lei da remessa de lucros aprovada em seu governo, que inverteu a política econômica dos anos anteriores, que dava tratamento privilegiado aos capitais estrangeiros.


Pelo visto, a mídia corporativa brasileira, Grupo Globo à frente, reassume o papel de porta-voz, que nunca abandonou, dos lobbies internacionais e da “casa grande” e, na cara dura, ameaça Lula.


Vale destacar que no episódio das joias dadas pelo governo saudita à Michelle e a Bolsonaro, a mídia corporativa insiste em tratar como "presentes" o que é  descaradamente propina.


Não existe presente no valor de mais de R$ 16 milhões! E, por qual razão, o governo saudita presentearia a família Bolsonaro com joias tão valiosas? 


Além de não mencionar em momento algum o termo propina, não ocorreu à  mídia corporativa brasileira atentar para uma coincidência basica: os tais presentes aconteceram no exato momento em que Bolsonaro privatizava, por menos da metade do seu valor, a refinaria Landulfo Alves, que pertencia à  Petrobras e foi comprada por um fundo de investimento árabe.


A Federação Única dos Petroleiros (FUP) tem feito esta denúncia e exigido apuração.


Como a mídia corporativa reage? Começa a tirar o caso das joias das manchetes e volta para o que realmente lhe interessa: apontar riscos para uma recessão em 2023, ao mesmo tempo em que ressalta que 2022 foi um ótimo ano para a economia brasileira.


Dispensável dizer que o objetivo é criticar a política econômica de Lula e rasgar elogios para a atuação do ultraneoliberal Paulo Guedes.


Mais uma vez, minha surpresa é zero.


Tudo leva a crer que a mídia brasileira, Globo à  frente, sonha em retomar uma espécie de Operação Lava Jato em nova roupagem, para tentar obrigar o governo a manter a Petrobras como "vaca leiteira" dos oligarcas nacionais e internacionais.


Espero que Lula esteja bem consciente e preparado para o tamanho da guerra que o aguarda.


Espero, igualmente, que a população brasileira, depois de tudo o que sofreu nos últimos seis anos, não caia novamente no canto da sereia da mídia golpista.


 Não há fim à vista para a guerra híbrida no Brasil. Onde andam as forças populares e esquerda para fazer este debate, organizar e mobilizar o povo em defesa da soberania e do desenvolvimento nacional?


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

O XADREZ DOS FALSOS ANJOS * Adão Alves dos Santos / SP

 O XADREZ DOS FALSOS ANJOS

(CRÔNICAS PARA DESEMBURRECER TOMO DCLX)

Adão Alves dos Santos / SP


Assim como na guerra fria, "guerra publicitária que o mundo viveu até a queda do muro de Berlim", o mundo está vivendo, mais uma guerra publicitária. Assim como esta, em toda e qualquer guerra, há um lado que parece mais simpático, mas será que há simpatia numa guerra?


O jogo de palavras qual chamamos de democracia, nos faz referendar as atividades do tio Sam, como simpáticas, será?


A atual guerra publicitária, explode nas mídias, como: "a eminente invasão da Ucrânia pelos militares russos, primeiro preciso lembrar, que apesar de não morrer de amores por nenhum integrante de polícias secretas, mas, para talhar o leito dos odiadores do comunismo, mesmo antes da queda do muro de Berlim, a Rússia, já não era comunista, assim o medo sem motivos, continua como um enorme medo sem motivos.


Se infelizmente, por trás desta guerra publicitária, ainda é puro e simples entulho da guerra fria, por outro as chances de uma invasão é tão real quando "as faraônicas inexistentes obras cíveis, feitas por uma papelaria de Curitiba, num triplex do Guarujá" a única coisa real do triplex é que ele foi construído, a única coisa real da invasão, é que a Ucrânia existe.


Mas, voltando a causas da tensão. Quando da queda do muro de Berlim, havia dois blocos militares para tentar equilibrar os poderios militares, a (OTAN, "Organização de Tratado do Atlântico Norte" e o Pacto de Varsóvia. Com o fim do da União Soviética, o Pacto de Varsóvia, deixou de existir, não fazia mais sentido a existência da OTAN, só que a OTAN, não apenas não deixou de existir, como tem dobrado o número de países membros. Esta é a razão de toda a crise, que virou a guerra publicitária que estamos vivendo. De um lado o presidente aparentemente bonzinho, o governo do tio Sam, que insiste em ter o mundo como seu quintal e os governos que não querem ser quintal do tio Sam.


Não pense que esta guerra publicitária do tio Sam com o Putin, não tem nada haver com o Brasil, o golpe contra a Dilma, ocorreu exatamente porquê o Brasil estava não apenas entre os não alinhados, como tinha papel de protagonismo no cenário político mundial. O golpe contra a Dilma, em todos os detalhes tem muito mais que o dedo da "CIA, Central de Inteligência Americana", tem corrupção e das bravas de agentes públicos brasileiros. Mas como aqui, a sabuja elite brasileira se vende. Os tanques do Tio Sam já desfilam em nossas fronteiras, lá na Venezuela?


Adão Alves dos Santos / SP