É PRECISO QUE A CRÍTICA GERE EFEITO PRÁTICO
O avanço da extrema-direita se apoia na destruição do tecido social. As políticas de ajuste ultraliberal geram, além de desemprego, precariedade e perda de direitos, grande ressentimento social. É desse ressentimento que a extrema-direita se nutre para propagar sua demagogia de aparência antissistêmica. Mas, no fundo, ela se mostra hábil em manipular essa decepção generalizada com o reformismo sem reformas, para aprofundar a política de ajuste ultraliberal.
No momento em que muitos se perguntam como se faz um eficaz combate a extrema-direita, respondemos que a única alternativa possível é a de enfrentar as políticas de ajuste ultraliberal, sempre apoiado na mobilização popular. Só por esse meio se derrotará o campo liberal-fascista em nosso país. E na conjuntura atual, o elo mais débil desse domínio é o controle que os parasitas do sistema financeiro têm sobre ramos fundamentais do aparelho de Estado. Especialmente do Banco Central, cuja política é o de privilegiar exclusivamente os interesses da especulação financeira.
Ainda em junho o presidente do Banco Central “autônomo”, Roberto Campos Neto, um pau mandado dos banqueiros indicado para a presidência do BC por Bolsonaro, provocou um ataque especulativo contra a moeda brasileira. Como a estrutura produtiva do Brasil tem sido desmontada, aumentou-se a dependência do país de importações. Com um aumento do dólar os custos de produção provocariam elevação de preços e, consequentemente, da inflação.
Pelas regras da política econômica em curso, o único remédio para conter a inflação é o Banco Central elevar a taxa básica de juros, a Selic. Mas se essa medida faz a alegria de grandes setores burgueses cujos lucros dependem do controle da dívida pública, por outro encarece o custo dos empréstimos e desestimula a atividade econômica. Em suma, para que grandes setores burgueses, principalmente bancos, continuem a ter lucros fabulosos, é preciso proibir qualquer tipo de desenvolvimento no Brasil do capital funcionante, que nos termos propostos por Marx seria o capital produtivo (comércio e indústria).
Lula, ao perceber o movimento de Campos Neto, fez uma crítica correta ao presidente do BC. Acusou-o de agir contra os interesses do povo e em favor dos banqueiros. E sua descarada aproximação com Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, deixa explícita sua intenção de conduzir o país a recessão como forma de reduzir a já estreita margem de aprovação do governo em relação ao regular e ruim. Com isso, Campos Neto age para pavimentar o retorno à presidência de uma candidatura do campo liberal-fascista, como Tarcísio. E ainda ganharia como prêmio pelos serviços prestados o cargo de ministro da Fazenda.
Porém, as críticas de Lula não avançaram para além de uma troca de farpas. Na semana passada, num claro sinal de recuo, o governo anunciou corte de R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias para o projeto de Orçamento de 2025. O peso maior cairá, como é de praxe, nos benefícios sociais. Tudo para alcançar a prometida política de déficit zero do ministro Haddad e manter intocados os interesses da alta burguesia, cujos grandes lucros dependem da especulação financeira.
Essa tática do morde-assopra, feita costumeiramente pelo governo, provoca muita gritaria sem qualquer consequência prática. Se o governo quiser realmente barrar a ameaça de retorno da extrema-direita em 2026 é preciso desmontar a política de ajuste ultraliberal. Para tanto ele precisa produzir efeito pertinente ao discurso, enfrentar o campo liberal-fascista e convocar o povo à luta. Só assim se
derrotará a extrema-direita nas urnas e, principalmente, na consciência
popular.
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O capitalismo está podre. Todos sabemos disso. Mas ele não cai sozinho