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sábado, 6 de julho de 2024

OS EUA E O MUNDO SOB SUA REGÊNCIA * Roberto Amaral/SP

OS EUA E O MUNDO SOB SUA REGÊNCIA
Roberto Amaral*
https://ramaral.org/

“Roma desabara, afinal, ao peso de tanta grandeza e de tanto crime” (Afonso Arinos de Melo Franco, Amor a Roma)

No teatro elisabetano, o coro era figura sem presença na trama, inventada para anunciar ou esclarecer passagens futuras na tragédia ou no drama. Com a tosca aparição nas telas da CNN, no último 15 de junho, os atuais postulantes da Casa Branca ilustraram a decadência política da sociedade estadunidense, da qual são fruto legítimo, assim como foi produto inevitável o lento e previsível declínio do império romano, ensandecido pela loucura do poder supremo e universal.

Qualquer que seja o resultado das eleições dos EUA no próximo 5 de novembro, o constrangedor debate (pelo que anunciou) já pode se candidatar como um dos fatos históricos mais relevantes da década. Porque, na sua comédia e na sua tragédia, a cena bufa de atores medíocres mais do que revelar, em imagem de corpo inteiro, o declínio do império, projetou o inevitável fim de sua hegemonia, que não tem data para tomar forma, tanto quanto não se sabe o preço que ainda cobrará à humanidade, em sua marcha presente para um “fascismo de outro tipo”, que a imprensa e a academia batizaram de extrema-direita.

Sendo o epicentro, os EUA não encerram, porém, o universo das nuvens cinzas. A história presente nos acena com um processo político cujas pinças se espalham pelo mundo e ameaçam engolfar a Europa, fazendo-nos rever os anos 20-30 do século passado –desta vez, porém, com um elemento distintivo crucial: se naquele então os EUA cumpriam o papel militar e ideológico de esteio democrático, hoje, mil vezes mais poderosos, são a fortaleza da reversão protofascista, que, na loucura do dever missionário auto-atribuído, procuram levar ao mundo inteiro, porque seu código de valores mudou nas pegadas do capitalismo financeiro monopolista.O débil presidente de direita e o meliante que o desafia carecem de relevância. Desgraçadamente, Trump, tanto quanto Biden, ou quem venha substituí-lo na campanha mal iniciada, não constituem um ponto fora da curva na história política do império norte-americano.

A política, na parte do mundo que nos toca, regida pelos mesmos astros, marcha na toada dos tempos. Após o suicídio já quase longínquo da URSS, seguem-se a derrocada da socialdemocracia e o avanço continuado ora da direita, ora da extrema-direita. O sinal mais trágico já nos foi enviado pela Itália, e pode ser repetido por franceses no próximo domingo, como pelos alemães no ano que vem. O Fratelli d’Italia alçado ao poder pelo voto democrático – como antes foram Mussolini e Hitler, como foram recentemente as caricaturas Bolsonaro e Milei –-, colocou na chefia do governo a neofascista Giorgia Meloni. Na Alemanha, a socialdemocracia desmorona enquanto crescem os grupos nazistas (que também já proliferam por aqui). Lá, até os verdes são de direita. As eleições gerais para renovação do Bundestag devem ocorrer em 2025, e além da derrota do primeiro-ministro Olaf Scholz, e de seu SPD, que nas pesquisas recentes ocupa o terceiro lugar nas referências dos eleitores, é previsível a ascensão de uma direita patologicamente intoxicada pelo chorume nazista que nos levou ao que todos sabem, porque falou à alma profunda do pangermanismo, como o Duce sintetizou, com o fascismo, o sonho italiano de reviver as glórias de um império perdido nas brumas da história.

As eleições norte-americanas não alterarão o processo histórico: navegam em sua vaga. O governo de Meloni, que acompanha as diretrizes dos EUA na OTAN, não tem término aprazado. O movimento está na França, com o fim já proclamado da hegemonia do Em Marche de Emmanuel Macron, que, todavia, permanecerá mais três anos habitando o Palais de l’Élysée, qualquer que seja o anúncio das eleições de domingo. É delas, portanto, que devemos tratar.

Como os astros e as pesquisas aparentemente cientificas anteciparam, o primeiro turno confirmou o avanço do ultradireitista Front National, de Marine Le Pen, mas sem assegurar-lhe a maioria absoluta no parlamento (faltaram-lhe preciosos nove votos). A prevista derrota das esquerdas (comunistas, socialistas, ecologistas, progressistas) todavia, não se deu. O desempenho eleitoral da Frente de Esquerda surpreendeu, colocando-a em segundo lugar, a cinco pontos de Le Pen. O grande derrotado, qualquer que seja o resultado de domingo, é Macron. Esta é a única unanimidade entre os analistas e Marine Le Pen, anunciada candidata à sua sucessão, insinua a conveniência da renúncia do presidente em face de eventual derrota acachapante. Inábil jogador de xadrez, embaralhou as pedras com a dissolução da Assembleia e a consequente convocação das eleições, na frustrada expectativa de repetir o lance usual nas táticas da direita: apresentar-se como a alternativa salvadora entre a ameaça dos extremos. No momento em que escrevo, o professor Marco Antônio Rodrigues Dias lembra a inutilidade de qualquer tentativa de antevisão do segundo turno, por absoluta ausência de segurança empírica. Valem tanto quanto a quiromancia. Ademais, por que tanta aflição se estamos já a um passo do pleito? Tratemos, pois, daquilo que, segundo nosso ponto de vista, parece hoje definido.
Deve ser tido como favas contadas o avanço da extrema-direita, e, seja nosso consolo, a sobrevivência da esquerda, desta feita se superando numa política de frente que interrompe o divisionismo de muitas eras, vencido no Brasil em 2022. Melhorou seu desempenho em face das últimas eleições. O medo, como se vê, pode ser bom conselheiro. Descartada a vitória do En Marche, a única alternativa será a coabitação – repetindo as experiências do socialista François Mitterrand (1986-1988) com a centro-direita de Jacques Chirac, e Chirac-Jospin (1997-2002) – trazendo à tona a quase certeza da instabilidade política que, partindo da França (que com a Alemanha constitui seu centro econômico-político hegemônico) pode atingir a Comunidade Europeia e mesmo a OTAN.

É preciso, porém, pôr de manifesto o distanciamento político daquelas passadas coabitações, compreendendo esquerda e centro-direita, com a expectativa do lamentável encontro da direita de Macron com a extrema direita protofascista. A querida Rosa Freire d’Aguiar lembra que a França da Liberté, Égalité, Fraternité é a mesma que a menos de oitenta anos foi governada por um primeiro-ministro fascista, Pierre Laval, isso na “República de Vichy” chefiada pelo Marechal Philippe Pétain, a serviço do exército alemão invasor. A humilhante derrota para a Alemanha é muitas vezes invocada para explicar a indigência moral. Mas o que dizer de hoje, quando boa parte dos franceses pode estar elegendo um novo Vichy?

Tímida aragem chega da Grã-Bretanha, com a confirmação da derrocada do Partido Conservador, após 14 anos de mando e desmandos. Mas o Partido Trabalhista que controlará a Câmara dos Comuns e nomeará o primeiro-ministro não guarda raízes com o Labour Party de Jaremy Corbyn. A política externa permanecerá intocável, e o novo governo se limitará a enfrentar as consequências da desastrada saída da Comunidade Europeia. O ex-império está tão doente quanto a família real, e permanecerá como província de sua ex-colônia.

Nosso continente vive seus abalos. O Brasil, graças ao carisma e ao sacrifício de Lula, conteve a continuidade da extrema-direita. Teve, porém, o PT, na campanha e no governo, de aliar-se a setores conservadores, e, minoritário, enfrenta a oposição ativa do mais reacionário Congresso de quantos conheceu a República. E, pela primeira vez, assistimos, em país flagrantemente dividido, uma extrema-direita organizada e mobilizada, enraizada em grandes setores populares, alimentada por setores da ordem econômica, apoio que se reflete na oposição que os grandes meios de comunicação movem contra o governo de centro-esquerda.

O Paraguai segue na estabilidade dos governos de direita. O Partido Colorado permanece no poder praticamente desde 1887. São desanimadoras as perspectivas do Peru e do Equador. Na Bolívia, vítima de guerra híbrida, o governo conseguiu conter mais uma tentativa de golpe militar. Mas a guerrilha inexplicada entre Evo Morales e Luís Arce poderá afastar a esquerda nas próximas eleições, além de constituir um desserviço para a educação política das massas. Há, contudo, o que comemorar, como as indicações de que a Frente Ampla de José Mujica pode voltar ao poder no Uruguai. O grande feito, de qualquer modo, é a eleição de Claudia Sheinbaum no México, com 60% dos votos e conquistando dois terços o Congresso.

Que esse panorama ajude a esquerda e as forças populares de um modo geral a compreenderem o desafio político-ideológico das nossas eleições municipais deste ano.

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Os tropeços da pequena política- Em evento recente no Rio de Janeiro, a inauguração de um conjunto habitacional, o presidente Lula saudou Eduardo Paes como “o melhor prefeito que esse país já teve”. Uma inverdade e uma injustiça. Para citar poucos, Lula menosprezou as administrações paulistanas de seus correligionários Luiza Erundina (então no PT), Marta Suplicy e Fernando Haddad, com quem, aliás, estivera minutos antes.

Silêncio tonitruante – A louvável coragem exibida por Lula na defesa de Julian Assange, jornalista duramente perseguido pelo estado que se dizia paladino da liberdade de imprensa, bem como na denúncia do genocídio palestino (a que a “comunidade internacional” assiste perplexa e imóvel), é digna de aplauso e nos enche de orgulho. Em face dela, machuca os ouvidos o silêncio do nosso governo sobre o episódio da detenção e deportação - sumária - do professor palestino Muslim Abuumar e sua família, inclusive a esposa grávida de sete meses. Abuumar, os apoiadores de Lula e a sociedade como um todo merecem uma explicação.

-COLABORAÇÃO: PEDRO CESAR BATISTA-
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sexta-feira, 19 de maio de 2023

DEMOCRACIA SEGUNDO TIO SAM * Frente Revolucionária dos Trabalhadores/FRT

DEMOCRACIA SEGUNDO TIO SAM
Os Estados Unidos se apresentam como uma democracia, mas na realidade são uma ditadura disfarçada. Seu sistema eleitoral é injusto e antidemocrático, pois não respeita o voto popular dos cidadãos, mas se baseia em um colégio eleitoral de representantes que podem votar contra a vontade da maioria. Além disso, os Estados Unidos são dominados pelo capitalismo, um sistema econômico e social que explora os trabalhadores. O capitalismo é uma ditadura do capital, que impõe seus interesses acima dos direitos humanos e da preservação do planeta. Por essas razões, os Estados Unidos não são uma verdadeira democracia, mas uma ditadura que oprime seu povo e o resto do mundo.
FRENTE REVOLUCIONÁRIA DOS TRABALHADORES

segunda-feira, 2 de maio de 2022

O SINDICATO DOS TRABALHADORES DA AMAZON E O DESPERTAR DA CLASSE TRABALHADORA AMERICANA * Ulien Arseneau / USA

O SINDICATO DOS TRABALHADORES DA AMAZON E O DESPERTAR DA CLASSE TRABALHADORA AMERICANA
O SINDICATO DOS TRABALHADORES DA MAZON E O DESPERTAR DAS CLASSE TRABALHADORA AMERICANA

Uma onda de sindicalização nos Estados Unidos está empolgando e inspirando trabalhadores nos EUA e em todo o mundo. O primeiro armazém da Amazon em Staten Island, Nova York, agora é representado pelo sindicato independente Amazon Labor Union (ALO). Agora vemos o mesmo processo de sindicalização em dezenas de cafeterias Starbucks e seu início nas lojas da Apple, entre outros estabelecimentos.

“Em princípio, as condições econômicas transformaram a massa do país em trabalhadores. A dominação do capital criou nesta massa uma situação comum, interesses comuns. Assim, essa massa torna-se uma classe contra o capital, mas ainda não por si mesma. Na luta... essa massa se reúne, constituindo-se uma classe para si mesma. Os interesses que eles defendem tornam-se interesses de classe. Mas a luta de classes contra a classe é uma luta política.

Karl Marx, Pobreza da Filosofia . 1847

Uma onda de sindicalização nos Estados Unidos está empolgando e inspirando trabalhadores em todo o mundo. O primeiro armazém da Amazon em Staten Island, Nova York, agora é representado pelo sindicato independente Amazon Labor. Toda semana, dezenas de cafeterias Starbucks iniciam o processo de adesão ao Starbucks Workers United. Vemos o mesmo em um primeiro grupo de trabalhadores de uma loja da Apple para ingressar no Communication Workers of America. Houve 589 inscrições sindicais no National Labor Relations Board até agora em 2022, o dobro em comparação com os primeiros quatro meses de 2021.

Essas lutas para organizar são todas parte do mesmo processo. A crise do capitalismo está esmagando os trabalhadores e eles estão começando a revidar. Eles entendem cada vez mais que só podem contar com seus próprios meios.

Os Estados Unidos são a nação capitalista mais poderosa do mundo. O socialismo não pode alcançar a vitória sem o sucesso da classe trabalhadora americana. As lutas que estamos vendo agora são apenas o começo do despertar desse colosso que mudará o curso da história.

Nada vem do nada

Os trabalhadores americanos sofreram reveses constantes por décadas. Enquanto a produtividade cresceu 70% entre 1979 e 2019, os salários cresceram apenas 12% no mesmo período. Não surpreendentemente, isso coincide com um declínio no movimento sindical. A filiação sindical caiu de 20,1% em 1983 para escassos 10,5% em 2018. Os trabalhadores são cada vez mais explorados, enquanto as principais organizações através das quais se defendem diminuíram.

A juventude carrega o peso da crise. Os “Millennials” e a “Geração Z” – os nascidos nos últimos 40 anos – nada sabem da era de ouro do capitalismo. Empregos precários são a regra. As casas são impossíveis de comprar e os aluguéis estão subindo. A taxa de sindicalização é mais baixa entre os jovens: 9,4% entre os 25 e 34 anos e míseros 4,2% entre os 16 e 24 anos.

O COVID-19 atingiu uma classe trabalhadora já espremida como um limão. As vendas online dispararam com a pandemia, colocando os trabalhadores da Amazon sob enorme pressão: os funcionários tiveram que fazer xixi em garrafas para acompanhar. Os trabalhadores de serviços de repente se tornaram "heróis", "trabalhadores essenciais", mas ficaram com salários de fome e condições cada vez piores. Os trabalhadores americanos estão entre os mais estressados ​​do mundo: 57% relatam estar estressados ​​diariamente, em comparação com uma média global de 43%.

Acrescente a isso a taxa de inflação atual, que atingiu 8,5% nos EUA, um recorde histórico em décadas. Então, quem não recebe um aumento de 8,5% está recebendo um corte salarial. Enquanto isso, os CEOs receberam bônus recorde de US$ 14,2 milhões em 2021!

Esse coquetel de salários em queda, piora das condições, inflação e aumento da desigualdade estava destinado a causar uma explosão mais cedo ou mais tarde.

mudança de consciência

Uma mudança na consciência dos trabalhadores e jovens nos Estados Unidos tem sido evidente há algum tempo. Nós comentamos muitas vezes nos últimos anos sobre as muitas pesquisas mostrando o crescente interesse pelo socialismo e comunismo nos EUA.

Mas um fenômeno relacionado é o aumento da popularidade dos sindicatos. Apesar da baixa densidade sindical, a aprovação dos sindicatos é de 68%, o nível mais alto desde meados da década de 1960. Entre os 18-34 anos, o número é de 77%.

Não surpreendentemente, o entusiasmo pelas recentes iniciativas de organização também é alto. No caso da Amazon Labor Union (ALU), 75% dos americanos concordam que os trabalhadores da Amazon precisam de um sindicato. Esse número sobe para 83% entre os jovens de 18 a 34 anos e chega a 71% entre os apoiadores de Donald Trump! O entusiasmo atinge todos os estratos da classe trabalhadora, além da habitual divisão partidária na política americana. Também mostra que muitos apoiadores de Trump poderiam ser atraídos por políticas baseadas em classes, se houvesse um verdadeiro partido dos trabalhadores nos EUA para defender tais políticas.

Os recentes movimentos de organização demonstram o que os marxistas vêm dizendo há muito tempo. Quantas vezes ouvimos dizer que a política de classe está morta porque “a classe trabalhadora mudou”, ou pior, que não existe mais? Sim, no tempo de Marx havia operários, mineiros, mas hoje “é diferente”? Claro, não é preciso muita percepção para perceber que a classe trabalhadora mudou muito em 150 anos. O setor de serviços, varejo e entretenimento em particular, explodiu nas últimas décadas.

Mas a mesma velha dinâmica da luta de classes também chegou a esses setores. Trabalhadores de restaurante, trabalhadores de varejo, trabalhadores de armazém, trabalhadores de tecnologia, todos eles vendem sua força de trabalho por salários, a mais-valia é arrancada de suas costas e eles começam a perceber a necessidade de se defender contra a ganância de seus clientes. Isto é o que estamos vendo agora. Para citar Karl Marx, é assim que os trabalhadores passam de uma classe “em si” para uma classe “para si”.

O que está acontecendo nos Estados Unidos desmente todos os cínicos que abandonaram a classe trabalhadora. Algumas pessoas disseram que os empregos na indústria de fast food não eram sindicalizáveis, por exemplo. As estatísticas parecem provar que os opositores estão certos, já que a taxa de sindicalização no serviço de alimentação é de apenas 1,2%. Além disso, as principais federações sindicais parecem ter abandonado esses trabalhadores, buscando organizar em sua maioria grandes locais de trabalho e, ao fazê-lo, gerar grandes quantias de contribuições sindicais.

E, no entanto, a campanha Starbucks Workers United está se fortalecendo. Mais de 200 locais de trabalho estão em processo de votação sindical desde a primeira vitória em Buffalo. Bastou um bom exemplo para fazer a bola rolar!

A luta na Amazônia é particularmente emblemática da versão da luta de classes do século 21. Aqui temos Jeff Bezos, o segundo homem mais rico da história da humanidade, enfrentando uma campanha sindical independente liderada por Chris Smalls, um ex-funcionário da Amazon demitido em 2020 por entrar em greve para protestar contra a falta de proteções contra o COVID. -19. Foi até revelado que os executivos da Amazon queriam que Chris Smalls se tornasse o rosto do esforço de sindicalização da Amazon porque achavam que ele "não era nem inteligente nem eloquente". Seu desprezo saiu pela culatra espetacularmente.

Também aqui fomos levados a acreditar que a sindicalização na Amazon não era possível. O Washington Post disse no ano passado, após a fracassada campanha de sindicalização no armazém Bessemer:

“Os trabalhadores hoje podem dirigir a uma hora de distância e não é tão fácil chegar até eles. A própria produtividade que torna a Amazon economicamente atraente para se organizar deixa pouco tempo para os trabalhadores fazerem uma pausa e fazer amizade com seus colegas de trabalho, construindo redes sociais que os sindicatos podem acessar.

Essas são desvantagens estruturais que o sindicato pode enfrentar em qualquer instalação da Amazon visada. Portanto, embora o nome da cidade possa ser diferente em futuras campanhas de organização, o resultado pode ser muito semelhante.”

O Sindicato dos Trabalhadores da Amazônia provou que todos os pessimistas e céticos estavam errados. Como resultado, mais de 50 lojas entraram em contato com a ALU desde a vitória em Staten Island!

Esses grandes eventos estão tendo repercussões além das fronteiras dos Estados Unidos. Um Starbucks em Calgary, Canadá, está tentando se juntar ao United Steelworkers. Os membros da Unifor distribuíram panfletos para organizar os armazéns da Amazon na Colúmbia Britânica, Ontário e Quebec, bem como no Canadá, fazendo referência explícita à vitória de Staten Island. O Canadá atualmente está atrasado em relação à radicalização da esquerda na classe trabalhadora americana. Mas não se engane: a inflação e a erosão salarial, o aumento dos aluguéis e a desigualdade também estão chegando ao país vizinho. E a classe trabalhadora também se mobilizará no Canadá, mais cedo ou mais tarde.

lições

Não é apenas o próprio fato da sindicalização na Amazon, Starbucks e afins que interessa aos marxistas. Mais do que isso, é a forma como esses resultados são alcançados que deve ser assimilado pelos ativistas trabalhistas.

Os trabalhadores da Amazon sofreram uma derrota no ano passado em Bessemer, Alabama. Mas a campanha de organização não incluiu demandas concretas. Nessas condições, não surpreende que centenas de trabalhadores estivessem céticos.

A mesma dinâmica parece ter sido replicada na campanha de organização da Amazon do ano passado em Alberta pelo Teamsters Local 362. Os trabalhadores relataram que era difícil encontrar organizadores sindicais para responder às suas perguntas, com o vice-presidente local dizendo: "Nós não estamos aqui ." para receber seus US$ 30. Estamos aqui para ajudar a melhorar o local de trabalho, ver se podemos negociar aumentos salariais mais altos... Não podemos garantir nada a vocês." Vimos melhores exemplos de inspiração!

A campanha de Staten Island contrastou fortemente com essa abordagem. A ALU apresentou abertamente demandas ousadas: um salário de precisamente US$ 30 por hora, e dois intervalos pagos de 30 minutos e uma hora de almoço paga. Assim, a campanha ofereceu a promessa de resultados tangíveis, em vez de simplesmente se concentrar em conseguir um sindicato. Ao contrário de um equívoco comum, exigir mudanças pequenas e “razoáveis” não é mais realista. Pelo contrário: os trabalhadores não correrão riscos e gastarão tempo e esforço lutando por pequenas e inúteis mudanças. Mas eles vão lutar por demandas ousadas que valem a pena.

O que também diferencia a campanha da ALU é sua natureza de base. O presidente do sindicato, Chris Smalls, ex-funcionário demitido por tentativas anteriores de organização, acampou perto do armazém JFK8 de Staten Island por 10 meses. Ele e Derrick Palmer, um funcionário do armazém, tiveram tempo para conversar com os trabalhadores, engajá-los e responder suas perguntas. A campanha foi financiada por meio de uma campanha de arrecadação de fundos online, GoFundme, que arrecadou US$ 120.000, em comparação com os US$ 4 milhões que a Amazon gastou lutando contra a ALU. Um artigo do The City explica bem como os dois líderes construíram o movimento:

“Enquanto Smalls passa a maior parte de seus dias fora do JFK8 ou no ponto de ônibus, Palmer continua trabalhando dentro do prédio de quatro andares, conversando com os trabalhadores e indo para a sala de descanso durante seu tempo livre para avaliar o apoio. trabalhando no setor de embalagem...

Ambos os homens, e um punhado de outros organizadores, passaram as últimas semanas ligando para todos os trabalhadores do JFK8 que são elegíveis para votar nas próximas eleições sindicais: cerca de 8.300 funcionários.

Alguns dos trabalhadores contatados por telefone pediram para se encontrar pessoalmente com os organizadores para discutir o esforço de sindicalização. Os trabalhadores que têm dúvidas geralmente se concentram nas taxas sindicais e em como trabalham, disse Smalls.

"Uma vez que respondemos às suas perguntas, é fácil convencê-los porque eles entendem que a Amazon está dando informações falsas."

Os trabalhadores não aceitaram simplesmente as táticas antissindicais da Amazon. Em reuniões antissindicais obrigatórias, os trabalhadores interrompiam os consultores para desacreditar seus argumentos mentirosos. Os trabalhadores ainda coletaram informações sobre os consultores e distribuíram panfletos que os identificavam com fotos para que os trabalhadores não falassem com eles! Os trabalhadores se recusaram a ser pressionados e responderam a cada golpe com métodos criativos que pegaram o patrão e seus agentes antissindicais altamente pagos de surpresa.

O próprio Smalls diz que sua campanha foi muito diferente das campanhas sindicais usuais: “Eles [sindicatos tradicionais] gostam de se organizar de forma diferente do que estamos fazendo. Estamos mais presentes. Você não vai encontrar outro presidente de sindicato que acampe por 10 meses.”

Muitas vezes, as campanhas sindicais são realizadas de forma burocrática, sem envolver as bases e sem enfrentar de frente as táticas sujas do empregador. Quase parece que os dirigentes sindicais não confiam nos trabalhadores. E, como vimos, muitas vezes eles se concentram apenas na própria organização, sem vinculá-la a demandas reais que possam inspirar os trabalhadores.

O que a campanha da ALU mostra é que o movimento trabalhista precisa desesperadamente reviver os métodos da democracia dos trabalhadores. Nas greves, nos piquetes, nas campanhas dentro do movimento operário, deve haver o máximo de espaço para os trabalhadores tomarem as coisas com as próprias mãos. O impulso da ALU mostra o que pode ser alcançado quando você engaja as bases e permite que os trabalhadores expressem sua criatividade, e quando você não tem medo de fazer reivindicações ousadas.

“ A revolução está aqui”

Tais foram as palavras de Chris Smalls após a vitória da ALU. Compartilhamos plenamente o entusiasmo desses ativistas que alcançaram o que muitas pessoas pensavam ser impossível. Os dirigentes dos principais sindicatos têm muito a aprender com os métodos de luta usados ​​nesta primeira vitória na Amazônia.

Com as greves dos professores em 2018 e 2019, o maior movimento de massa da história dos EUA após os eventos em torno de George Floyd em maio-junho de 2020, e o aumento das greves no outono passado (" Striketober "), a impressionante onda de sindicalização é uma continuação do retorno da classe trabalhadora americana. Eventos semelhantes também ocorrerão em Quebec e Canadá.

Não será uma linha reta, mas a própria experiência do sistema capitalista empurrará os trabalhadores para a luta. A inflação, que não vai acabar, tornará cada vez mais difícil para centenas de milhares de trabalhadores pagarem suas contas.

Escusado será dizer que os patrões não deixarão os trabalhadores se organizarem e lutarem sem resistência. Lutas de classes de proporções épicas estão se formando. Estamos apenas no início de um processo que levará cada vez mais pessoas à conclusão de que o próprio capitalismo deve ir e dar lugar a uma sociedade socialista onde seja dirigido por trabalhadores, e não por uma minoria de ricos.

Deixaremos a última palavra para um artigo da revista americana Newsweek , que chega à mesma conclusão dos marxistas:

“Os salários, o preço da compra de uma casa ou aluguel, os custos dos alimentos e a batalha para baratear os custos entre os empresários e o destino das empresas menores contra os oligopólios serão as questões definidoras. A política de classe que há muito domina a Europa está aqui para se vingar e permanecerá até que seja abordada.

Sob sua lápide em Hampstead Heath, Karl Marx deveria estar sorrindo."