terça-feira, 31 de dezembro de 2024

O QUE É OLIGARQUIA * Roniel Sampaio-Silva/Café com Sociologia

O QUE É OLIGARQUIA

A oligarquia é um conceito político que descreve um sistema de governo onde o poder está centralizado nas mãos de um grupo restrito de indivíduos ou famílias. Este grupo, frequentemente composto por elites financeiras, políticas ou sociais, exerce controle significativo sobre as decisões políticas, econômicas e sociais de uma sociedade. A palavra “oligarquia” tem raízes etimológicas no grego antigo, combinando “oligos” (poucos) e “arkein” (governar), denotando claramente a governança por uma minoria.

Essa forma de governo se distingue pela exclusividade no acesso ao poder. Os membros da oligarquia geralmente mantêm sua influência por meio de uma combinação de riqueza, conexões familiares, controle de recursos cruciais ou domínio sobre instituições-chave do Estado. Esse controle estreito muitas vezes resulta em políticas que beneficiam os interesses do grupo oligárquico em detrimento das necessidades e aspirações da maioria da população.

Historicamente, a oligarquia tem sido observada em várias formas e contextos. Na Grécia Antiga, algumas cidades-estado eram governadas por uma elite aristocrática, onde apenas os cidadãos com determinado status social e financeiro tinham voz ativa na política. Na Idade Média europeia, algumas monarquias também se inclinavam para uma forma de oligarquia, onde conselhos de nobres detinham grande influência sobre os reis.

Nos tempos modernos, embora muitas sociedades se autodenominem democráticas, a presença de oligarquias ainda é percebida. Em muitos casos, a influência financeira desproporcional de certos grupos ou corporações pode moldar as políticas governamentais, influenciando a legislação em seu favor e mantendo um controle indireto sobre as decisões políticas.

A concentração de poder nas mãos de poucos pode resultar em diversas consequências prejudiciais para a sociedade. Uma delas é a perpetuação da desigualdade. As políticas favorecendo a oligarquia podem reforçar divisões econômicas, levando a disparidades sociais cada vez maiores. A falta de representação igualitária também pode minar os princípios democráticos, corroendo a confiança das pessoas nas instituições políticas.

A corrupção é outra preocupação grave em sistemas oligárquicos. Quando um pequeno grupo detém poder absoluto, o risco de corrupção aumenta, com decisões sendo tomadas em benefício próprio em vez de visar o bem-estar coletivo. Isso pode minar a justiça, criar um ambiente de impunidade e impedir o desenvolvimento equitativo da sociedade.

Combater a oligarquia muitas vezes demanda reformas profundas. É essencial fortalecer as instituições democráticas, garantindo a transparência e prestação de contas no governo. Medidas para limitar a influência do dinheiro na política, promover a igualdade de oportunidades e facilitar a participação cívica são passos cruciais na direção de uma sociedade mais justa e equitativa.

Entretanto, desmantelar estruturas oligárquicas não é tarefa simples. A resistência por parte dos grupos no poder pode ser feroz, e mudanças reais podem enfrentar obstáculos consideráveis. Educação cívica, mobilização social e um compromisso contínuo com os valores democráticos são essenciais para promover mudanças significativas e sustentáveis.

Diante do exposto, a oligarquia representa uma forma de governo onde o poder está nas mãos de poucos, criando desequilíbrios de poder, desigualdades e possíveis abusos. Superar os desafios impostos por esse sistema requer um esforço coletivo para fortalecer as bases democráticas, garantir a representação justa e construir uma sociedade mais inclusiva e igualitária.

CONFERINDO...
MERCADO FINANCEIRO
GRANDES EMPRESÁRIOS OLIGARCAS NO BRASIL
OLIGARQUIA PERUANA,
trabalho da Doutora Fabiola Gallegos.Peru
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segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Nubank, uma articulação que apoia a extrema direita brasileira * Sindicato dos Bancários de Brasília-DF

Nubank, uma articulação que apoia a extrema direita brasileira

As instituições bancárias servem aos interesses do grande capital, como é o caso da fintech, o Nubank, que busca preservar a estrutura social, evitando que as classes trabalhadoras adquiram a necessária consciência histórica de classe. São inúmeros os instrumentos utilizados pela classe dominante para manter a alienação e ignorância política das classes trabalhadoras, sendo as financeiras instrumentos que apoiam a extrema direita, que busca manter o status quo e garantir a alienação do povo.

Alguns dirigentes do Nubank têm circulado opiniões e replicado as produções da Brasil Paralelo, em claro apoio a propagação da extrema direita. O apoio ao Brasil Paralelo, um dos pilares de circulação da intensa propaganda de mentiras, ódio e desinformação, fundamentados na manipulação da história, negacionismo, defesa do status quo, manipulação das conquistas e lutas das classes trabalhadores, que sustentam o racismo, machismo, misoginia, xenofobia e violência é uma das causas dos retrocessos que a sociedade enfrenta. O Nubank ao apoiar o Brasil Paralelo atua contra quem questiona às injustiças sociais ou luta por direitos, pela dignidade humana e contra o poder econômico, que se utiliza do fascismo – a vanguarda da violência contra a classe trabalhadora, sendo parte dos propagadores das ideias da extrema direita e sustentadores das desigualdades impostas pelo Mercado.

Uma da fundadoras do Nubank, Cristina Junqueira, conforme matéria divulgada pela revista Veja, afirmou sua concepção racista durante entrevista no Programa Roda Viva, da TV Cultura, disse que a fintech “não podia nivelar por baixo no momento da contratação de negros”, assim mostrou publicamente a linha de contratações da startup. A declaração racista foi dita em outubro de 2020. Se não bastasse, Junqueira divulgou em sua conta no Instagram, como mostrou o site Intercept, um evento da produtora Brasil Paralelo. As posições em apoio a extrema direita não param por aí. Foram publicadas notas da direção do Nubank dizendo que erraram, mas em nenhum momento negaram o que a cofundadora do Nubank afirmou. David Velez, um dos três fundadores do Nubank, circulou uma nota para os funcionários da empresa em defesa de Junqueira, disse na nota que há uma campanha contra quem “promove pontos de vista diferentes”. Segue a mesma linha do Brasil Paralelo, manipula os fatos sobre quem propaga o negacionismo e discursos de mentira e ódio.

As posições reacionárias e de extrema direita relacionadas à política do Nubank não começaram por aí. Em 2016, o engenheiro de software do Nubank, Konrad Scorciapino, fez publicações xenofóbicas nas redes sociais, escreveu: “A Dinamarca tem um problema de estupro. O problema do estupro é causado por diversidade. #DiversidadeÉEstupro”. O Nubank tentou esconder e acobertou o seu engenheiro de software, que, após a publicação ainda continuou por dois anos na financeira. Scorciapino saiu do banco e se tornou dirigente do Brasil Paralelo, onde segue como um dos diretores. Importante ressaltar que o grupo gasta em torno de R$ 26,6 milhões com anúncios. É o que “mais gasta com publicidade em redes sociais do Meta (bem mais que o governo federal) e no Google”, aponta o Brasil de Fato.

A história da ligação de Scorciapino com a extrema direita é bem anterior. A matéria do Brasil do Fato mostrou que ele foi um dos fundadores do site 55chan, período em que era chamado de “herói” e dito por seus seguidores que “revolucionou a vida de várias pessoas”. O chan ficou conhecido do público devido a grande quantidade de conteúdo que se enquadra como criminoso no Código Penal. Quando cinco alunos e duas funcionárias foram assassinados, em março de 2019, em uma escola em Suzano (SP), a plataforma publicou “louvações aos atiradores, lamentando que não mataram mais, e colocou para tocar automaticamente no site uma música sobre um jovem que atira em colegas – Pumped Up Kicks, da banda Foster The People”. Durante o período de Scorciapino no chan divulgaram fotos manipuladas de uma das filhas da deputada Maria do Rosário (PT-RS), além de permanente difamação de quem eles apontam como inimigos. “Por isso os chans são frequentemente utilizados como espaços para planejamento de ataques na vida real, como aconteceu em Suzano, em São Paulo, e Christchurch, na Nova Zelândia, e em tantos outros episódios de tiroteios em massa.”

O Nubank, mesmo com todas essas informações públicas, tentou esconder a prática criminosa do seu engenheiro de software. Scorciapino ficou até 2018, período em que era conhecido como o “Santo K”.

A postura do Nubank esconde seus verdadeiros compromissos

Com a propagação crescente de denúncias da relação dos dirigentes do Nubank com estruturas da extrema direita, a direção tentou esconder ou tergiversou sobre os atos praticados pela cofundadora, Cristina Junqueira, e seu ex-engenheiro de software, Scorciapino. Isso provocou uma debandada de clientes cancelando suas contas no banco. A nota divulgada por Davi Veléz aos funcionários diz que é preciso revisar as políticas de comunicação, chegou a dizer que a empresa está em “modo de crise ativado, ao mesmo tempo que saiu em defesa de Cristina Junqueira.

Vélez minimizou o post pró-Brasil Paralelo compartilhado por Junqueira, alegou a importância da pluralidade de ideias e liberdade de opinião, “ideias ruins são combatidas com ideias melhores, não com censura ou intolerância”. Para Velez vale combater a verdade dos fatos com a propagação de mentiras, segundo ele “ideias melhores”, isso significa combater a realidade com a difusão de inverdades, ou seja, um discurso paralelo à realidade, a especialidade dos propagadores de fakenews e do negacionismo. Este é o papel do Brasil Paralelo, uma fábrica de propaganda política e ideológica contra os progressos da sociedade e as conquistas da classe trabalhadora, um instrumento que atua para formar um pensamento antiprogressista, de negação de direitos e da diversidade da sociedade brasileira.

O Nubank em 11 anos conseguiu fazer seu capital crescer de forma vertiginosa, utilizando-se da tecnologia para ter ganhos, aplicando taxas de juros estratosféricas, praticando verdadeira agiotagem, o que tem levado milhares de correntistas a buscar auxílio jurídico contra a financeira e o apoio de órgãos de proteção ao cliente. As ações, como mostrado pela advogada Michele Rodrigues crescem, com o aumento de ações judiciais, denunciando o que vai além da permanente prática da usura e agiotagem. O Nubank tem sido parceiro de setores mais atrasados e agressivos contra os trabalhadores, negros e mulheres, com seus diretores reforçando a difusão das mentiras e sustentação do fascismo, como faz o Brasil Paralelo. É preciso ficar atento, acompanhar o que ocorre e esperar que o Estado brasileiro atue para barrar esses crimes de difusão do ódio e intolerância, além de punir a prática ilegal da agiotagem.

Michele Rodrigues alerta que a enorme quantidade de ações contra o Nubank “está prejudicando a tramitação de processos no Poder Judiciário, o que poderia ser evitado pelo Banco Central, caso baixasse uma normativa para disciplinar o banco, impondo regras claras para evitar o abuso contra os clientes, também caberia multas com valores elevados, o que evitaria tantas irregularidades”. A imensa maioria das ações que foram julgadas tem condenado o banco a ressarcir os clientes lesados.

Ivan Amarante, diretor do Sindicato dos Bancários de Brasília, diz que “em novos tempos, a avaliação de uma empresa vai além do desempenho econômico. A forma como a empresa realiza suas atividades, suas escolhas de investimentos e as maneiras de divulgação revelam seu verdadeiro objetivo”. Continuando diz que, “no caso do Nubank, observamos que suas escolhas servem a grupos não democráticos e a veículos de disseminação de fakenews. Por isso, é fundamental que as pessoas avaliem a empresa como um todo, considerando suas ações e seus valores, e se perguntem: “É esse tipo de empresa que eu quero apoiar e com a qual quero me associar?”

Não à toa, milhares de pessoas tem cancelado suas contas no Nubank, depois da postagem de Cristina Junqueira, uma resposta concreta à política de agiotagem e de apoio aos setores mais reacionários e retrógrados da sociedade brasileira representado pelo Brasil Paralelo.

CONFERINDO...
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sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

A Internacional - Garotos Podres/Youtube

A INTERNACIONAL
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GAROTOS PODRES/YOUTUBE

Clandestina: A Coragem e a Resistência Feminina na Ditadura Brasileira * Paulo Canabrava Filho/Youtube

Clandestina: A Coragem e a Resistência Feminina na Ditadura Brasileira

O livro Clandestina, de Ana Corbisier, é uma obra única que ilumina a participação feminina na resistência à ditadura militar no Brasil, uma história frequentemente esquecida ou obscurecida.

Para falar sobre o lançamento desse livro que ocorreu no último dia 10,no Armazém do Campo do MST, o jornalista _*Paulo Cannabrava Filho*_ conversa com a autora do livro, _*Ana de Cerqueira César Corbisier.*_

Você acompanha essa conversa no “ _*Dialogando com Paulo Cannabrava”*_ especialmente nessa *quarta-feira (18), às 17h,* na *TV Diálogos do Sul Global.*

O livro Clandestina, de Ana Corbisier, é uma obra única que ilumina a participação feminina na resistência à ditadura militar no Brasil, uma história frequentemente esquecida ou obscurecida. Em contraste com as inúmeras memórias publicadas por homens, o relato de Ana destaca a presença ativa e decisiva das mulheres na guerrilha e na clandestinidade. A autora narra suas experiências com autenticidade, desde os treinamentos em Cuba até os desafios enfrentados no Brasil, oferecendo um olhar sincero e vibrante sobre a luta por liberdade em tempos de repressão. É uma história de coragem e aprendizado, contada com intensidade e alegria, mesmo em meio às adversidades. A trajetória de Ana é marcada por eventos de grande impacto, como sua atuação logística na ALN (Ação Libertadora Nacional) e a fuga que a levou a viver uma década no exílio, inicialmente em Paris. Com episódios como o resgate de um companheiro ferido durante um tiroteio e os desafios de estar desconectada da organização após deixar o país, Clandestina revela o lado humano e resiliente da militância. Mais do que uma memória, o livro é um convite para refletir sobre o papel das mulheres na luta contra a opressão e o peso do esquecimento histórico que recai sobre elas. Para falar sobre o lançamento desse livro que ocorreu no último dia 10,no Armazém do Campo do MST, o jornalista Paulo Cannabrava Filho conversa com a autora do livro, Ana de Cerqueira César Corbisier. Em sua história de vida Ana, nascida em São Paulo, capital, relata como na década de 60 trabalhou como assistente de produção na TV Cultura e passou a integrar a ALN (Ação Libertadora Nacional) atuando no GTA (Grupo Tático Armado). Como exilada Ana morou na França e em Cuba onde fez treinamento de Guerrilha e viveu algumas das mais enriquecedoras experiências de sua existência. Além de exilada, precisou viver por muitos anos na clandestinidade.

CLANDESTINA
PAULO CANABRAVA FILHO

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

LEGADO DO GOLPISMO NO BRASIL * Bruno Fabricio Alcebino da Silva/Le Monde Diplomatique

LEGADO DO GOLPISMO NO BRASIL
Bruno Fabricio Alcebino da Silva/Le Monde Diplomatique

Finalmente, o inevitável aconteceu: o ex-presidente Jair Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado, acompanhado de um séquito de 36 indivíduos, muitos deles militares de alta patente, os “fardados”. Entre os acusados, destacam-se os generais da reserva e ex-ministros do governo Bolsonaro — Walter Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. O caso, que já é considerado um dos mais graves ataques à democracia brasileira desde o fim da ditadura militar, contanto com o infame 8 de janeiro, e expõe não apenas as ambições golpistas do grupo, mas também as feridas históricas ainda abertas no Brasil em relação à presença dos militares na política.

O relatório da Polícia Federal, recentemente divulgado e remetido ao Supremo Tribunal Federal (STF), descreve com riqueza de detalhes as articulações de um plano que incluía o assassinato de líderes democráticos como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes. No vácuo de poder gerado por esses atos, o governo seria assumido por uma junta militar comandada por Braga Netto e Heleno.

Além dos “fardados” citados, a lista dos indiciados inclui uma ampla rede composta por militares de diferentes patentes, policiais federais e civis ligados a Bolsonaro. A maioria possui uma ligação direta com a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), o berço da formação militar que moldou várias gerações de líderes castrenses, incluindo o próprio ex-presidente.

A arquitetura do golpe

A tentativa de golpe revelada pela Polícia Federal, não foi fruto de improviso ou espontaneidade, mas uma operação cuidadosamente planejada e estruturada em torno de seis núcleos com funções bem definidas. Esses grupos, articulados de maneira estratégica, operaram com o objetivo de minar o sistema democrático brasileiro e consolidar uma ruptura institucional entre o final de 2022 e início de 2023. Conforme o relatório da PF (p.179), o golpe visaria impedir um cenário de ameaça a qual “em suposta defesa da democracia, (objetivaria) controlar os 3 poderes do país e impor condições favoráveis para apropriação da máquina pública em favor de ideologias de esquerda ou projetos escusos de poder”.

O Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral seria central para deslegitimar o processo eleitoral. Através de uma campanha massiva de fake news sobre as urnas eletrônicas, buscava-se criar um ambiente de desconfiança e instabilidade, alicerçando a narrativa golpista. Paralelamente, o Núcleo de Incitação Militar tentaria mobilizar o apoio dentro das Forças Armadas, instrumentalizando-as como peça-chave para a concretização do golpe.

No campo jurídico, o Núcleo Jurídico desempenharia um papel crucial ao elaborar pareceres e documentos que buscavam conferir um verniz de legalidade à ruptura institucional. Já o Núcleo Operacional de Apoio seria responsável pela logística, coordenando recursos e movimentações necessárias para sustentar as ações golpistas.

A estrutura também contava com o Núcleo de Inteligência Paralela, que realizou espionagem ilegal e monitorou clandestinamente opositores, e com o Núcleo Operacional de Medidas Coercitivas, encarregado de planejar atos de violência extrema, incluindo os assassinatos de líderes democráticos.

Essa organização, meticulosa e sustentada de forma ilegal pelo aparato do Estado, utilizou redes de comunicação clandestinas e contou com o envolvimento de figuras do alto escalão do governo anterior. A operação evidencia não apenas a gravidade da ameaça à democracia, mas também a sofisticação de um plano que, embora frustrado, deixa marcas profundas na política brasileira.

Os golpistas: entre fardas e gabinetes

O envolvimento das Forças Armadas no esquema golpista é evidente e alarmante. Dos 37 indiciados pela Polícia Federal, 25 possuem vínculos diretos ou carreiras iniciadas nas Forças Armadas, destacando a centralidade dos militares na articulação do plano. Generais de alta patente, como Braga Netto e Augusto Heleno, que desempenharam papéis estratégicos no governo Bolsonaro, foram apontados como os principais arquitetos da tentativa de ruptura democrática. O almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, e o coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, também representam outros exemplos notórios da extensão do comprometimento militar com o esquema.

Um aspecto crítico é a conexão de muitos desses envolvidos com a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), o principal centro de formação de oficiais do Exército Brasileiro. Essa ligação lança luz sobre a cultura e os valores disseminados na instituição, que tradicionalmente enfatiza um patriotismo rígido e, por vezes, enviesado. Tal formação pode ter reforçado uma visão deturpada de que as Forças Armadas teriam um papel legítimo como árbitro das crises políticas, alimentando ideias intervencionistas e antidemocráticas. É crucial afirmar que o papel das Forças Armadas é de defesa da soberania nacional e da integridade do Estado, e não de interferir nas questões políticas internas, muito menos de promover ou apoiar ações que atentem contra a ordem democrática.

O envolvimento de civis no esquema complementa o quadro sombrio. Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, e Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), desempenharam papéis fundamentais na execução de operações clandestinas. Ambos foram acusados de liderar a chamada “Abin Paralela”, uma estrutura de espionagem ilegal que visava monitorar opositores, coletar informações privilegiadas e desestabilizar o sistema democrático. Esse aparato clandestino foi denunciado como um dos instrumentos mais sofisticados do plano golpista, evidenciando a integração entre civis e militares na tentativa de subverter a ordem institucional.

Essa colaboração entre militares e civis expõe as ramificações do esquema, que se alimentou de redes de influência, recursos públicos e um aparato ideológico consolidado. Mais do que uma conspiração isolada, tratou-se de um projeto articulado que uniu diferentes setores em torno de uma agenda autoritária, cujo objetivo final era corroer os alicerces da democracia brasileira.

O relatório da PF será encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirá se prossegue com as denúncias contra os envolvidos. Caso sejam aceitas, as acusações podem resultar em penas severas, variando de 4 a 12 anos de prisão para cada crime, como tentativa de golpe de Estado, organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Esse episódio, entretanto, não se limita ao campo jurídico; ele acende um debate crucial sobre a persistência de práticas autoritárias no Brasil e o papel das Forças Armadas na democracia.

O Golpe de 1964 e o legado militar

As tentativas de golpe em 2022-2023 ecoam as sombras de 1964, quando o Brasil viu sua democracia ser derrubada por um regime militar que governaria o país por mais de duas décadas. Assim como naquele período, a narrativa de instabilidade institucional e a “ameaça comunista” foram usadas como justificativas para a intervenção.

Após a redemocratização, a Constituição de 1988 buscou limitar a atuação política das Forças Armadas, reafirmando seu papel restrito à defesa da soberania nacional. Contudo, a anistia ampla e irrestrita concedida aos militares responsáveis por crimes durante a ditadura deixou marcas profundas, permitindo que a influência castrense permanecesse latente nas estruturas do poder civil. Essa presença, em vez de ser gradualmente desfeita, foi reforçada durante o governo Bolsonaro, que trouxe dezenas de oficiais para postos estratégicos, consolidando uma militarização preocupante da administração pública e reavivando práticas autoritárias que deveriam ter sido definitivamente superadas.

Esse fortalecimento das forças militares e o discurso de extrema direita encontram terreno fértil na polarização política e no descrédito em relação às instituições democráticas. Durante o governo do ex-presidente, o incentivo ao negacionismo, a militarização de cargos civis e a retórica golpista contribuíram para criar um ambiente favorável a ações como as investigadas pela PF.

A ascensão da extrema direita e a militarização da política

O apoio de segmentos das Forças Armadas e da polícia à extrema direita não é um fenômeno isolado. Ele reflete uma tendência global em que forças conservadoras e autoritárias encontram respaldo em grupos armados para contestar processos democráticos. No Brasil, essa aliança foi fortalecida por Bolsonaro, que exaltava símbolos militares e discursos antidemocráticos.

A relação estreita entre os militares e a extrema direita brasileira transcende uma mera afinidade ideológica, configurando-se também como uma aliança pragmática de interesses mútuos. Muitos dos indiciados por envolvimento nas tentativas golpistas estavam diretamente associados a escândalos de corrupção, incluindo o desvio de recursos públicos e a venda ilegal de bens do governo. O golpe, nesse contexto, não era apenas um ataque à democracia, mas uma estratégia desesperada para blindar esses grupos de investigações e de uma eventual responsabilização judicial, especialmente diante da ascensão de um governo progressista comprometido com a transparência e o combate à corrupção.

Uma janela de oportunidade para o Brasil

O indiciamento de Jair Bolsonaro e seus aliados representa mais do que a responsabilização individual por atos golpistas: é uma oportunidade histórica para que o Brasil enfrente, de uma vez por todas, sua relação problemática e ambígua com o militarismo. A consolidação da democracia brasileira exige que as instituições encarem esse momento com firmeza, garantindo que tais crimes não apenas sejam punidos, mas que sirvam de alerta contra a perpetuação de práticas autoritárias. A resposta institucional a esses eventos será um divisor de águas: definirá se o país permanecerá refém das sombras do passado ou avançará rumo a um futuro pautado pela justiça, igualdade e respeito às liberdades fundamentais.

O período turbulento de 2022-2023, com a recente descoberta da arquitetura de golpe e o infame 8 de janeiro, já deixou marcas na história, mas seu legado ainda está em disputa. O Brasil tem a chance rara de transformar essa crise em um marco de resistência democrática, reafirmando o compromisso com os valores republicanos e a ordem constitucional. O futuro de nossa democracia será escrito por aqueles que, com coragem e clareza, decidirem que o Brasil deve ser governado pelo povo e para o povo, e não pela sombra de um regime autoritário e dos “fardados” golpistas. Não à anistia!

Bruno Fabricio Alcebino da Silva é bacharel em Ciências e Humanidades e graduando em Ciências Econômicas e Relações Internacionais pela Universidade Federal do ABC, pesquisador do Observatório de Política Externa e Inserção Internacional do Brasil (OPEB), em mobilidade-acadêmica na Universidad de la República (UDELAR) em Montevidéu, Uruguai.
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quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

GLAUBER BRAGA FICA! FASCISTAS NÃO PASSARÃO!! * Frente Revolucionária dos Trabalhadores/FRT

GLAUBER BRAGA FICA! FASCISTAS NÃO PASSARÃO!!

NÓS, TRABALHADORES, MILITANTES, AMIGOS E SIMPATIZANTES DA FRENTE REVOLUCIONÁRIA DOS TRABALHADORES/FRT,

manifestamos a nossa irrestrita solidariedade ao Deputado Federal Glauber Braga, frente às ameaças que vem sofrendo dos bandos fascistas, bolsonaristas ou não, inclusive de ser cassado o seu legítimo mandato parlamentar, dada a sua consequente atuação política antifascista em defesa dos oprimidos e explorados.

Quem precisa ser cassado são os corvos da corrupção política, serviçais do capital, estrangeiro e apátrida, que se lançam sobre o nosso país para sugar nossa economia, nossos recursos naturais, nossas divisas internacionais e nossas forças produtivas. E, para isso, compram os "centrões da vida", os arthur liras, os rodrigos pachecos etc, para transformar em leis os seus interesses.

Nós acreditamos e propomos a defesa do mandato de Glauber Braga, mas com muita organização dos trabalhadores, estudantes e demais oprimidos pelo capitalismo no Brasil, para que possamos contar com o seu apoio às nossas lutas por um Brasil dos Trabalhadores, solidário e socialista, sem explorados nem exploradores.

GLAUBER FICA, FASCISTAS NÃO PASSARÃO!!
FRENTE REVOLUCIONÁRIA DOS TRABALHADORES/FRT

DOCUMENTÁRIO "BRASIL PARASITA" * Renata Nagamine/InterceptBrasil/Frente Revolucionária dos Trabalhadores/FRT

DOCUMENTÁRIO "BRASIL PARASITA"

O Intercept conversou com ela para entender o atual papel da Brasil Paralelo, uma produtora fundada no Rio Grande do Sul, e

conhecida por grandes produções como o documentário “Cortina de fumaça”, de 2021. O filme coloca em xeque as mudanças climáticas, a relação entre as atividades do agronegócio e a devastação ambiental, espalhando mentiras sobre suposto ‘interesses de ongs estrangeiras na Amazônia’, e já tem quase 2,5 milhões de visualizações só no YouTube.

Hoje, após as enchentes, além de negar a eficiência do estado, pedir pix e creditar aos voluntários a solução dos problemas, a explicação para a catástrofe na visão da Brasil Paralelo é o “excesso de chuvas”, em uma narrativa que é reproduzida em outros setores ligados à direita, como o agro.

Com peças bem acabadas, um forte apelo nas redes sociais e com tática massiva de anúncios para dominar as buscas do Google, a produtora tem tido êxito em ser fonte para a construção de narrativas negacionistas utilizadas pela extrema direita – mas com verniz científico.

Leia a entrevista na íntegra:

Intercept Brasil – Em que momento a produção da Brasil Paralelo tomou uma proporção importante para a extrema direita?

Renata Nagamine – Eu analiso o material da Brasil Paralelo para pensar as disputas pela democracia no Brasil contemporâneo. Então, eu tomo a produtora como uma plataforma pela qual passam atores de um espectro político à direita, mas também do centro, em programas específicos, por exemplo, o Panorama apresentado por Luiz Filipe D’Avila, do partido Novo. Ali é um espaço onde discursos diferentes circulam.

Discursos em torno de algumas pautas ganham uma forma mais acabada na produção da Brasil Paralelo, por exemplo as séries históricas, que têm ampla circulação no YouTube.

Hoje a BP também tem um site próprio com toda sua produção audiovisual, programas e cursos. Nesses oito anos, a produtora passou a ser um ator importante na política brasileira, ao mesmo tempo que é um espaço para circulação de diversos atores políticos. Em algumas peças nós temos ministros dos governos Lula e Dilma, por exemplo. Isso empresta uma certa credibilidade para a BP, que se diz um espaço plural.

Você pode citar os nomes de quem que aparece nessas peças?

Os ex-ministros Aldo Rebelo e Xico Graziano aparecem em produções da BP. Além da Damares Alves. Embora a BP seja apresentada como sendo da extrema direita, ela consegue atrair para suas produções pessoas que emprestam uma certa credibilidade à possibilidade da própria produtora se determinar como um espaço plural.

Qual o papel da Brasil Paralelo na construção das narrativas da extrema direita?

A produtora tem uma circulação muito grande entre a direita e a extrema direita. A minha pesquisa é construída a partir da Antropologia. Eu trabalho com as auto declarações. Eu percebo que a Brasil Paralelo tem um público que não se declara como de extrema direita.

Claro, raramente no Brasil alguém vai se declarar de extrema direita. Mas são pessoas que se autodeclaram de direita. E isso pode sinalizar uma reconfiguração da direita no Brasil, um processo de radicalização da direita.

A identificação nos ajuda a captar a percepção das pessoas. São pistas importantes para pensar um processo de reconfiguração da direita no Brasil.

Eu entendo o enquadramento da Brasil Paralelo e outros atores como extrema direita. Mas dou um passo atrás porque o que me interessa é entender porque é plausível que um público amplo, que se identifica como direita, seja consumidor dessas peças. Porque tem sentido para essas pessoas? Elas se conectam com ele.

Queria trazer o tema do conteúdo desinformativo sobre diversos temas científicos. Qual o papel da Brasil Paralelo no negacionismo climático? O filme “Cortina de Fumaça” é um sucesso de audiência.

“Cortina de fumaça” é um filme em que a Brasil Paralelo disputa uma determinada construção sobre as relações entre agronegócio, meio ambiente e direitos dos povos indígenas. Eu tomo essa peça como parte da construção de um discurso alternativo sobre a relação entre esses três elementos do mundo contemporâneo.

É uma peça que se constrói se valendo de um determinado repertório científico, mas não é um discurso tal como ele se articula no mainstream científico, ou seja, não é o conhecimento mais compartilhado e mais aceito sobre ciência climática.

No entanto, o documentário usa informações do repertório científico das margens da ciência do clima. Isso para construir uma relação entre agro, meio ambiente e direitos dos povos indígenas, muito afinada com um discurso corrente no Brasil há muitos anos sobre a importância do agronegócio para o país.

No filme tem, por exemplo, um ex-ativista do Greenpeace, ministros de vários governos, jornalistas e outros políticos que dão depoimentos.

O discurso é muito corrente há muito tempo, passando pela boca de presidentes diferentes, economistas. Segundo esse discurso, o agro tem tecnologia aplicada e por isso que ele é ativo e tão produtivo e competitivo, representando provavelmente a nossa melhor alternativa para o ter ganhos nas cadeias globais de produção de alimentos.

Uma outra frente que a produtora tem conseguido entrar é em material didático. Vimos recentemente que slides de aulas nas escolas estaduais de São Paulo continham indicação de vídeo da BP. Qual o perigo disso?

Isso não é novidade. No governo Bolsonaro a série da Brasil Paralelo sobre história, “Brasil: a última cruzada” foi usada pela TVE. Essa é uma série que tem alguns episódios e reconta a história do Brasil. Constrói essa história sobre uma outra matriz.

A BP se apresenta como uma produtora de entretenimento e educação, ela tem essa pretensão, ela organiza cursos sobre temas variados. Desde língua portuguesa até pensamento liberal, os clássicos do liberalismo.

A pretensão de participar na educação dos cidadãos brasileiros já está posta desde o início, na própria apresentação da produtora.

Nesse aspecto especificamente, o governo Tarcísio dá um espaço que ela já teve, por exemplo, no governo federal. Eu vejo isso como um novo capítulo de uma relação assim que a Brasil Paralelo tenta estabelecer com poder público. Ganhando espaço e pleiteando como apta a participar desse processo.

A BP também uma atuação na política institucional. Temos um exemplo que agora está no holofote, que é o Ricardo Gomes, vice-prefeito de Porto Alegre. Você pode falar um pouco sobre ele e o papel dela na produtora?

O vice-prefeito de Porto Alegre, Ricardo Gomes, tem um programa semanal na Brasil Paralelo que se chama Magna Carta. Nesse espaço ele elabora sobre temas específicos e polêmicos do momento, tentando articular uma posição liberal clássica e conservadora, e pensando com autores do liberalismo político. Gomes também foi entrevistado em várias peças da Brasil Paralelo, também deu cursos sobre pensamento liberal.

Ele trata tanto de política nacional quanto de política internacional. Já falou sobre a dificuldade da esquerda em condenar os atentados do Hamas.

Eu achei particularmente interessante um dos últimos episódios do Magna Carta antes da crise humanitária da crise humanitária no Rio Grande do Sul. Era sobre uma pesquisa que mostrava que a minoria dos brasileiros se identifica como esquerda, e uma maioria se identifica como de centro e direita. Ele afirmou que não é uma identificação ideológica, é sobretudo com pautas, e tentava explicar qual o sentido disso.

Acho que há um esforço de construção e de reflexão sobre a própria direita no programa do Ricardo Gomes. E eu acho que esse é um traço de algumas produções da Brasil Paralelo: pensar a construção da direita, as fragilidades, os erros, os acertos da direita nacional.

Nesse mesmo programa, ele aponta que, usando os termos dele, a direita domina melhor a comunicação nas redes sociais. Em alguns programas eu percebo que esse esforço ganha uma forma mais radical, mas em outros programas têm a participação de nomes do mainstream econômico, por exemplo.

Você mencionou que o Ricardo Gomes chegou a falar em um programa dele que as pessoas se identificam com as pautas da direita e não com a ideologia. Quais são essas pautas?

Eu gosto de trabalhar com a percepção dos atores, suspendendo a minha opinião sobre os temas, porque eu quero entender o que as pessoas estão fazendo e como elas estão pensando.

Isso me chamou atenção no programa do Ricardo Gomes, quando ele fala que é identificação com as pautas. Porque o que ele está chamando de pauta é a enunciação do reconhecimento de problemas sociais.

E os problemas que ele indica são criminalidade ou segurança, corrupção e ineficiência do estado. Então, essas três essas três pautas seriam, na percepção dele, elementos de conexão entre a direita e os brasileiros ao responder a pesquisa.

No seu pós-doutorado, você analisa as peças audiovisuais da produtora Brasil Paralelo que abordam as relações de minorias raciais e sexuais com a liberdade religiosa e de opinião. Pode nos explicar mais sobre sua análise?

Eu estou interessada em pensar as disputas pela democracia a partir da percepção da emergência de atores. Entendi que a eleição do ex-presidente de Bolsonaro era antes um efeito de um determinado processo, do que a causa dele.

A peça “Cortina de fumaça” foi importante para mim porque eu entendi, é claro que a eleição de um presidente muda um processo, que a eleição era efeito de um processo. Isso me convidou a reconstruir esse processo para dar um sentido.

Eu comecei a tentar investigar o que conecta o agro com determinados segmentos cristãos, por exemplo, muito presentes nas periferias das grandes cidades.

Há uma eficiência em comunicar alternativas e o que eles percebem como bons caminhos para construção do Brasil que eles desejam para um público mais amplo.

E a Brasil Paralelo é uma instância pela qual passam muitos atores, de economistas a atores religiosos, passando por políticos, e que entrega produtos discursivos muito bem acabados.

Qual é a dimensão da produção deles na política brasileira?

Eles recebem muitos atores, tem um acabamento muito bom das peças, tratam de muitos temas e problemas sociais, oferecem produtos muito diferentes como cursos, textos, formações sobre diversos assuntos, documentários.

São desde humor até programas como do vice-prefeito de Porto Alegre, que se propõe elaborar um discurso mais acabado interagindo com um repertório ilustrado.

Acho que essa diversidade ajuda a gente a entender, em parte, o êxito da Brasil Paralelo. Eles reconhecem que são bons em se comunicar nas mídias sociais, e aqui entra uma questão de algoritmo das plataforma também. No que me diz respeito, eu acho que eles têm um certo domínio das formas para se comunicar nesse novo ambiente.

AQUI TEM MAIS
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DOCUMENTÁRIO "BRASIL PARASITA"
O que a Brasil Paralelo não quer que você saiba? 

a face oculta paralela: a brasil paralelo vai tentar derrubar este vídeo. Mas ele é fruto de algo maior: mais de 50 criadores estão mostrando o tamanho da desinformação paralela. Não precisa concordar comigo, mas busque a verdade. Olhe as fontes. Questione. Temos temas de todos os tipos:

Quer assistir todos os vídeos do projeto?
Acesse o site: brasilparasita.com

domingo, 15 de dezembro de 2024

SEMINÁRIO 60 ANOS DO GOLPE MILITAR 1964 * Caderno de Resumo/UFJ.GO

SEMINÁRIO 60 ANOS DO GOLPE MILITAR 1964
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SEMANA CHICO MENDES 2024 * Victor Manoel/AC

SEMANA CHICO MENDES 2024
Victor Manoel
dos varadouros de Rio Branco

Entre 15 a 22 de dezembro, 
Semana Chico Mendes celebra o legado do líder seringueiro e o mantém vivo para as próximas gerações 
(Foto: Brenda Spinosa).

Começa nesta 15 de dezembro e se estende até o próximo dia 22 a 35o Edição da Semana Chico Mendes, que celebra o 80º aniversário do líder seringueiro, sindicalista e ambientalista Chico Mendes, figura que transformou a luta pela Amazônia em um símbolo de resistência e justiça social para o mundo. As datas marcam o dia de nascimento de Chico Mendes (15/12/1944) e de seu assassinato, ocorrido em 22 de dezembro de 1988, na cidade de Xapuri.

Com o tema “Chico 80 Anos: A Luta Continua”, a programação acontecerá entre eventos em Xapuri e em Rio Branco. Serão promovidas rodas de conversa, atos culturais, exposições fotográficas e exibições de filmes sobre a Amazônia. A edição de 2024 convida os participantes a reviver o espírito dos “empates” de Chico, momentos em que seringueiros se uniram para impedir a destruição da floresta, e que seguem como exemplo inspirador de resistência pacífica.

Em um momento crucial para a Amazônia, que enfrenta desafios ambientais e sociais sem precedentes — como cheias e secas históricas, aumento do desmatamento e um cenário alarmante das queimadas —, a Semana Chico Mendes destaca a urgência de defender o legado de Chico como um símbolo de resistência diante da destruição e da violência que ameaçam o campo, a floresta e os espaços urbanos.

Mobilização para o futuro

A Semana Chico Mendes 2024 busca mobilizar jovens, lideranças, ambientalistas e a comunidade para refletir sobre os rumos da Amazônia e do planeta. Além de um encontro, onde se fala de clima e meio ambiente, a Semana tem uma importância para, além do social, se trata de um viés humanístico, que conversa com o ideal de união levantado por Chico em diversos momentos de sua história.

Organizado pelo Comitê Chico Mendes, a programação se estende por diferentes formatos, com atividades que abordaram temas como justiça climática, comunicação popular e juventude.

Programação

O Festival Varadouro, uma celebração da diversidade artística do Acre, esquenta para o começo da programação com apresentações culturais que representam o espírito e a criatividade da região.

A partir do dia 15 de dezembro, as atividades em Xapuri incluem o credenciamento dos participantes e a abertura oficial da Semana Chico Mendes, que também celebra a economia local com a Feira da Economia Solidária, de 15 a 17 de dezembro. Neste mesmo dia, a Copa Chico Mendes reúne a comunidade no tradicional torneio de futebol.

A programação também traz uma experiência inovadora com a exibição do filme de realidade virtual “Amazônia Viva”, da Iniciativa Inter-religiosa pelas Florestas Tropicais (IRI), que apresenta uma nova forma de imersão na floresta e seus desafios.

Uma das ações mais aguardadas da Semana Chico Mendes é o Prêmio Chico Mendes de Resistência. Com o objetivo de homenagear aqueles que se destacam na luta pela preservação ambiental e defesa dos direitos dos povos da floresta, o prêmio reconhece ativistas, líderes comunitários e organizações que continuam a trabalhar em prol das causas defendidas por Chico.

As homenagens continuam no dia 16 com a tradicional Caminhada Solene até o túmulo de Chico Mendes, partindo de sua casa. A comunidade se reúne em um ato simbólico de memória, seguido de um café da manhã regional no Sindicato dos Trabalhadores Rurais.

No mesmo dia, o Seminário “Memória e Legado” apresenta o documentário de mesmo nome, celebrando os 80 anos de Chico Mendes e abordando a importância de seu trabalho para o movimento socioambiental no Brasil. Em continuidade, ocorre a mesa de debate sobre as juventudes e o legado de Chico, com um episódio da websérie “Empate pela Amazônia de Pé” e a simulação de uma negociação da COP-30.

Após o encontro em Xapuri, a programação segue para Rio Branco, onde as atividades se encerram com uma série de mobilizações culturais e educativas, como o encontro “Fé e Clima”, no dia 15 – data importante, que marca o nascimento de dois grandes mestres acreanos, Chico Mendes e Mestre Irineu -, e o “Samba pelo Clima”, no dia 20 de dezembro. O encerramento simbólico da Semana Chico Mendes acontece em 22 de dezembro com a atividade “Legado de Luz”. 


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sábado, 14 de dezembro de 2024

Leitura do manifesto da AAPR - Associação de Ativistas Por Reparação

Manifesto AAPR - Associação de Ativistas Por Reparação
contra a impunidade das violações cometidas desde a ditadura

"Sem ódio. Sem rancor, mas com a firmeza de quem não se perde nas sutilezas dos meandros traçados pelas classes dominantes de ontem e de hoje. Que venhamos a ser respeitados pelos demais povos do mundo. Não podemos continuar sendo uma ilha isolada, mesmo em nossa pobre América Latina. Uma ilha de impunidade."

Antônio Pinheiro Salles, preso político por nove anos e torturado pela Ditadura Empresarial-Militar, em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, publicado no livro Ninguém Pode se Calar.

Aos 60 anos do golpe, o Brasil carrega a mácula de não ter punido os agentes militares e civis responsáveis pelo financiamento e efetivação de graves violações de Direitos Humanos durante a Ditadura (1964-1988) e por seus atos preparatórios.

A cumplicidade das grandes corporações com o regime foi objeto de silêncio por muito tempo. O processo de resgate e construção da memória, sobretudo no âmbito das comissões da verdade, foi tardio e parcial; mas ele é a necessária ponta de um novelo que começa na aliança de militares com empresários para a articulação do golpe e se estende por mais de duas décadas de terrorismo de Estado, com um sistema repressivo projetado para a coerção dos trabalhadores, indígenas, quilombolas, camponeses, com vistas à maximização dos lucros das empresas, às custas da espoliação destes grupos.

Apesar das fartas provas da colaboração entre empresas e a Ditadura, até o momento apenas a Volkswagen do Brasil foi constrangida a assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em razão da colaboração em crimes de lesa-humanidade. Hoje, outras 14 companhias são objeto de inquérito.

Nosso país, de uma forma geral, carece de uma cultura jurídica acerca da Justiça de Transição. Assim, juristas e ativistas vinculados historicamente à defesa da democracia e dos Direitos Humanos e sociais se unem no esforço de elaborar parâmetros teóricos e práticos, a fim de incidir sobre os inquéritos e futuros procedimentos judiciais ou extrajudiciais. Garantir a responsabilização das empresas e empresários cúmplices da Ditadura, bem como os processos de reparação completa, adequada, coletiva e efetiva, são o ponto-chave deste esforço.

Quebrar os parâmetros da impunidade corporativa pelos crimes do passado é uma tarefa de enorme relevância histórica e diz respeito a cada cidadão e cidadã. Em primeiro lugar, pela importância do passado, ao se construir coletivamente a memória política de um capítulo deplorável de nossa história. Mas também em relação ao futuro, para que se criem parâmetros legais que contribuam com a quebra de um ciclo de repetição do autoritarismo, que continuamente assombra o Brasil. A violência das polícias é realidade constante nos bairros pobres e favelas desde a Ditadura e, particularmente, com o povo negro.

Permanece um ranço antidemocrático em nossa sociedade, que tem na tutela militar o seu maior expoente, como as repetidas tentativas golpistas demonstraram, tal qual foram o 08 de janeiro de 2023 e os planos de assassinato de personalidades, inclusive do presidente da República, com vistas à insubordinação do poder militar contra a nossa frágil democracia.

Pela falta de apuração e condenação pelos crimes cometidos por empresas, predomina também na sociedade uma cultura que vigora até hoje, em que os casos mais perversos são normalizados e corriqueiros. Até hoje, os maus tratos, a discriminação, a vigilância, o controle e a submissão são naturalizados. Se houve um avanço democrático na sociedade após a Constituinte, ele não entrou nas fábricas, nas fazendas, nos locais de trabalho em geral.

O lançamento desta associação de ativistas, cujo objetivo é o apoio aos vitimados das empresas cúmplices da ditadura, é ancorada neste contexto. A partir da constituição de um corpo jurídico interessado no estudo e aplicação dos processos de reparação, esta associação deve se aproximar dos advogados e advogadas das entidades de vitimados e dar o suporte necessário aos diversos casos, por meio de atividades formativas, produção de materiais de subsídio e acompanhamento dos inquéritos hoje abertos pelo Ministério Público no caso das empresas cúmplices da Ditadura, bem como em futuros procedimentos judiciais ou extrajudiciais, nacional ou internacionalmente.

Para garantirmos o melhor acompanhamento dos inquéritos, é fundamental, após a formalização e constituição da associação, a sua habilitação nos inquéritos, em conjunto com as entidades de vitimados. Ao mesmo tempo, contribuiremos para que se criem ferramentas visando à autonomia das entidades de vitimados na defesa dos interesses dos seus representados, de forma que lhes seja garantido um processo de escuta amplo, qualificado e especializado, inclusive em espaços coletivos e deliberativos.

Essa associação também almeja atuar no apoio a pesquisas, que tenham como objetivos a revelação das graves violações de direitos cometidas pela cooperação das empresas com o regime militar e a busca por reparação. Concomitantemente, iremos incentivar e pautar a abertura dos arquivos das empresas, um passo fundamental para incentivar novas perspectivas à pesquisa histórica e, sobretudo, impulsionar as reivindicações por Memória, Verdade, Justiça e Reparação. 

As empresas cúmplices da Ditadura estão espalhadas por todo o território brasileiro. São privadas, estatais, nacionais, multinacionais, localizadas em ambiente urbano e rural. Para garantir o efetivo acompanhamento dos casos das empresas que possuem inquérito civil em andamento, ou que possuem indícios, registros ou testemunhos de cooperação, esta associação apoia a articulação das entidades de vitimados com o Fórum por Verdade, Justiça e Reparação, que já atua em algumas regiões do país. O Fórum atua para contribuir com a coesão das iniciativas por Memória, Verdade, Justiça e Reparação no país no âmbito das empresas cúmplices da Ditadura, somando-se a todos os lutadores e lutadoras que historicamente se empenham para a reparação dos malfeitos cometidos. Esta é a defesa dos interesses e autonomia dos trabalhadores, sindicalistas, indígenas, quilombolas, camponeses, ribeirinhos, populações removidas, familiares de vitimados que foram vitimados pela articulação orgânica dos interesses dos empresários com os militares e agora reivindicam reparação coletiva às violações cometidas.

A apresentação pública de um estatuto é o próximo passo a ser dado para avançarmos na busca por reparação para a sociedade brasileira e especialmente para aqueles e aquelas que foram diretamente vitimados pela ganância autoritária das empresas em cumplicidade com os militares.

Seguir com Memória e Verdade!

Avançar com Justiça e Reparação! 

Manifesto AAPR - Associação de Ativistas Por Reparação: contra a impunidade das violações cometidas desde a ditadura


AAAPR