sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Emocionante diz Walter Salles sobre ato contra general envolvido na morte de Rubens Paiva * Comissão Nacional da Verdade

Emocionante diz Walter Salles sobre ato contra general envolvido na morte de Rubens Paiva
Protesto ocorreu na segunda (24)

O cineasta Walter Salles, diretor de "Ainda Estou Aqui", diz ter aprovado o ato realizado em frente à casa de José Antônio Nogueira Belham, ex-general acusado de participação no assassinato do ex-deputado Rubens Paiva durante a ditadura militar. O protesto ocorreu na segunda (24), na zona sul do Rio de Janeiro.

"Que importante e emocionante essa manifestação. A sociedade civil se manifestando livremente contra aquilo que é inaceitável e se fortalecendo, algo fundamental", afirma ele à coluna. "Vou enviar para a família Paiva", diz ainda.

Cerca de 100 jovens do movimento Levante Popular da Juventude realizaram participaram do protesto.

A manifestação ocorreu às vésperas do Oscar. "Ainda Estou Aqui", que conta a história da família Paiva, concorre em três categorias: melhor filme, melhor filme internacional e melhor atriz para Fernanda Torres.

Os manifestantes usaram faixas e cartazes com a mensagem "Ainda estamos aqui!" e reivindicaram que a Lei da Anistia não seja aplicada a crimes como tortura e ocultação de cadáver.
"Estamos aqui para denunciar a impunidade de torturadores e assassinos", afirma Daiane Araújo, vice-presidente da UNE, que participou do protesto.

O grupo já havia realizado manifestação semelhante no mesmo local em 2012, quando pedia a instalação da Comissão Nacional da Verdade.
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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

MALCOLM X – LÍDER DA LUTA ANTIRRACISTA NO CORAÇÃO DO IMPERIALISMO * Organização Comunista Arma da Crítica/OCAC

MALCOLM X – LÍDER DA LUTA ANTIRRACISTA NO CORAÇÃO DO IMPERIALISMO

MALCOM X COM FIDEL EM NOVA YORK

Malcolm X foi assassinado há 60 anos, a 21 de fevereiro de 1965. Nascido no Nebraska em 1925, Malcolm se tornou órfão aos seis anos. Seu pai, um pregador batista ativista dos direitos civis, foi provavelmente assassinado por uma organização racista. 


Com a desestruturação familiar, Malcolm vive entre Boston e o Harlem e deixa a escola antes de completar o ensino médio, mesmo sendo um excelente aluno. Se envolve com consumo e tráfico de drogas, com lenocínio e assaltos. Em 1946 é preso e condenado a 11 anos de prisão, que cumpre no sistema penitenciário de Nova Iorque. Na prisão, Malcolm se cura do vício das drogas, devora livros na biblioteca prisional e se converte ao Islã. Sob a influência do irmão Reginald, se filiou à Nação do Islã, liderada por Elijah Muhammad, da qual se tornou um dos mais importantes porta-vozes.


A Nação do Islã pregava o separatismo entre negros e brancos, considerando os brancos como a fonte de todo o mal. A Nação do Islã cresceu, tendo em vista o extremo racismo e o verdadeiro apartheid a que eram submetidos os negros nos EUA.


Malcolm discordava de Martin Luther King, com suas ideias de não violência. O que era controversa, porque a visão de King sobre não violência implicaram resistência ativa e enfrentamento com o poder racista.


Com o tempo, Malcolm X identificou contradições e uma dupla moral na direção da Nação do Islã.  Inclusive um possível pacto de não-agressão com a Ku Klux Klan, desde que a Nação mantivesse o separatismo negro.


Malcolm X procura se aproximar do movimento dos direitos civis e critica a Nação do Islã por seu isolacionismo.

Em 1964, Malcolm X faz uma peregrinação a Meca. Lá vê crentes de todas as raças, unidos pela fé em Alah. Inicia seu amadurecimento político, no rumo do socialismo e do anti-imperialismo. Participa de congressos da Organização da Unidade Africana, se aproxima de Fidel Castro. Rompe com a Nação do Islã e funda a Organização da Unidade Afro Americana. 


Faz uma leitura de que o inimigo do povo negro é o racismo e não os brancos como um todo. Em um encontro público em Nova Iorque foi assassinado por membros da Nação Islâmica, com provável colaboração do FBI e da polícia de Nova Iorque. 

Malcolm X é um dos grandes nomes do movimento negro americano. Sua trajetória mostra que é preciso derrotar o capitalismo e o imperialismo para acabar com o racismo.

Para conhecer um pouco mais a história e a luta de Malcolm X sugerimos o filme Malcolm X, de 1992, dirigido por Spike Lee e que tem Denzel Washington no papel principal: https://www.youtube.com/watch?v=b09nrSfTAXs

Também indicamos o livro Malcolm X Fala: Os Últimos Anos de Vida de Malcolm X, publicado em 2021 pela Ubu Editora. Trata-se de coletânea de textos e discursos compilados por George Breitman e traduzido por Marilene Felinto.


MALCOM X / DUBLADO COMPLETO
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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

É URGENTE REVERTER AS PRIVATIZAÇÕES * Organização Comunista Arma da Crítica/OCAC

É URGENTE REVERTER AS PRIVATIZAÇÕES

Os preços de três grupos de produtos têm sido um verdadeiro tormento na vida das famílias trabalhadoras: alimentos, combustíveis e energia elétrica.

Nenhum desses gêneros deveria ser tão caro. O Brasil bate recorde atrás de recorde de safra de grãos. É autossuficiente em petróleo. E produz energia limpa, com o maior potencial hidroelétrico do mundo.

No que tange aos alimentos, a questão é que os produtos produzidos são, em sua maior parte, para a exportação, como é o caso do milho e da soja. Arroz e feijão perdem área plantada para o milho e a soja, bem mais rentáveis. A carne, o café, a agora até os ovos, encontram colocação no mercado externo.

As culturas de exportação recebem crédito barato no Plano Safra. E o governo não possui mais estoques reguladores, pois a Conab, estatal encarregada de gerir os estoques de alimentos, foi desmontada. Com isso, as empresas que controlam a safra, no caso da soja são 6 multinacionais e nas carnes 2 frigoríficos impõem o preço de exportação para os consumidores brasileiros. Isso não tem nada a ver com livre mercado, como querem dizer os comentadores do financismo.

O caso dos combustíveis é parecido. As reservas de petróleo foram leiloadas para multinacionais do petróleo, que exportam o petróleo cru. O país não tem parque de refino capaz de processar todo o petróleo produzido. Desde a Lava-jato, os investimentos nas refinarias foram paralisado. Ao contrário, refinarias foram privatizadas e os novos donos reduziram a produção de gasolina, diesel, gás de cozinha e óleo combustível.

O ministro Paulo Guedes vendeu a BR Distribuidora na bacia das almas, retirando a Petrobras da distribuição. Entre a refinaria ao posto, a BR distribuidora, controlada por fundos financeiros, faz o que quer.

E por fim, a Petrobras não parou de todo com o Preço de Paridade Internacional, impondo aos brasileiros, os preços do mercado internacional de petróleo à vista para pagar juros e dividendos aos fundos financeiros que detém ações da Petrobras.

E o caso da energia elétrica. A Eletrobrás foi privatizada, com o governo perdendo o controle da matriz hidroelétrica de produção de energia. A transmissão de energia foi retalhada em empresas privatizadas. A distribuição foi toda privatizada, com serviço caro e precário, vide o exemplo da Enel em São Paulo.

Além de tudo, a expansão da matriz eólica e solar é cara, com tecnologia toda importada e controlada por fundos financeiros, em que se destaca o grupo Lehman, que levou a Eletrobrás a preço de ocasião.

A Aneel, a agência que regula o setor elétrico, não tem um mísero diretor nomeado pelo atual governo. Um deles, nomeado por Bolsonaro, fica até 2027. A diretoria tem mandato e é dificílimo remover um diretor. Essa diretoria atende os interesses do setor, pois seus dirigentes trabalharam nas empresas elétricas e para lá voltarão findos os seus mandatos.

Para resolver os problemas de abastecimento e preços de alimentos, combustíveis e eletricidade, são necessárias mudanças estruturais. Reverter privatizações, remontar a capacidade de intervenção do Estado e mudar a regulação e a governança. Eis o que é necessário.

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terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

TEM UM GOLPE NO MEIO DO CAMINHO * Frente Revolucionária dos Trabalhadores/FRT

TEM UM GOLPE NO MEIO DO CAMINHO
PASSAPORTE PARA A PAPUDA

"Golpe de 1964 foi precedido por tentativa frustrada. Estamos diante de uma nova ‘omissão estratégica’?

Em 1959 não havia apoio internacional e nem da caserna, mas os envolvidos não desistiram: só esperaram o momento certo.

Enfim a Procuradoria-Geral da República ofereceu denúncia contra Bolsonaro e seus 33 aliados. Para os que acompanhavam o caso de perto, não há grandes novidades: o texto não traz elementos realmente novos, mas expõe minúcias e detalhes que dão ainda mais robustez ao que já era evidente: Bolsonaro. Bolsonaro não apenas tentou ou articulou — ele executou um golpe.

A denúncia do PGR é cristalina quanto a isso.

Os mais conservadores afirmam que tudo não passou de uma “tentativa” pelo simples fato do golpe não ter perdurado, não ter alcançado a consistência necessária para se sustentar em público e, de fato, impedir a posse do presidente Lula. Para tanto, precisariam de mais aliados, aliados maiores, tanto dentro quanto fora do país. Especialmente fora!

E digo isso mirando no exemplo de 1964. O golpe não emergiu de forma espontânea naquele famigerado primeiro de abril, muito pelo contrário. O golpe militar foi gestado ainda durante o governo Getúlio Vargas e foi por – pelo menos – duas vezes adiado até o fatídico ano de 64, até o momento em que estava robusto o suficiente para ver a luz do dia.

Inclusive, nesse ínterim, entre a gestação e o nascimento, tivemos um episódio muito importante e pouco comentado nos dias de hoje, a chamada Revolta de Aragarças, uma tentativa de golpe militar contra o governo de Juscelino Kubitschek ainda em 1959.

Na ocasião, um grupo de militares autointitulado Comando Revolucionário, insatisfeito com os rumos da política, sequestrou cinco aviões repletos de armamentos e explosivos e sitiou o aeroporto de Aragarças, na divisa entre Goiás e Mato Grosso. Apesar de modesta, a cidade tinha um papel crucial na logística aérea da época. O plano dos revoltosos incluía bombardear o palácio do Catete e assassinato do então presidente Juscelino Kubitschek.

A revolta fracassou, ao menos aparentemente. Boa parte da classe política e setores influentes da sociedade civil rechaçaram publicamente a tentativa de golpe, dando ao governo de JK amplo apoio para organizar uma contraofensiva armada digna de cinema, com direito a utilização de tropas de elite que saltaram de paraquedas sobre a cidade de Aragarças para sabotar os aviões dos rebeldes.

Acuados, os amotinados terminaram fugindo para países vizinhos e terminariam anistiados em 1960, retornando para o país já no governo de Jânio Quadros.

Fim da história? Não. Muito pelo contrário, é aqui, justamente, que ela se torna importante para o presente.

É consenso entre os historiadores que, a despeito da ampla rejeição da classe política e da sociedade brasileira, o fator realmente decisivo para o fracasso da Revolta de Aragarças foi, justamente, a falta de apoio entre os próprios militares.

Melhor dizendo – e esse é o detalhe que faz toda a diferença –, falta de um apoio público da caserna. Pois também é consenso de que havia uma sinfonia golpista entre militares da época, especialmente os do alto escalão. Pelo menos desde Vargas se organizavam e articulavam para um golpe de estado: estavam apenas em busca ou a espera do momento que consideravam mais adequado.

Os amotinados de Aragarças, impacientes, buscavam justamente antecipar esse momento, organizando um movimento que, imaginaram, daria origem a uma reação em cadeia, inspirando e contagiando praças e obrigando os oficiais a saírem de sua inércia.

O que só aconteceria, sabemos, anos depois. Em 1964.

A não adesão das Forças Armadas à Revolta de Aragarças não foi uma questão de ideologia, foi uma omissão estratégica. Tanto que alguns dos principais personagens do motim também estariam envolvidos na construção e na condução da Ditadura Militar. Entre eles, João Paulo Moreira Burnier, na época um tenente-coronel da Aeronáutica – acusado, entre outras coisas, de estar envolvido no desaparecimento do estudante Stuart Angel –, e ninguém menos do que o general do Exército Humberto Castelo Branco, o mesmo que viria assumir a presidência da república em 1964.

O que mudou entre 1959 e 1964? Nas Forças Armadas pouca coisa. No contexto geral, o ideário golpista passou a contar com o amplo apoio de setores da sociedade civil e dos Estados Unidos. E isso, sabemos, especialmente para aquele cenário, não é um detalhe trivial.

Mas voltamos para o presente, para a denúncia oferecida pela PGR.

Chama atenção para a maneira como o documento, apesar de denunciar militares de alta patente pela conspiração, preserva a caserna, especialmente os generais que, mesmo sabendo do planejamento ativo de um golpe de estado, pouco ou nada fizeram para efetivamente impedi-lo.

Supostamente, apenas afirmaram que não compactuariam com o movimento. A mesma caserna que se recusou a investigar e efetivamente punir militares suspeitos de participar da insurgência golpista do Oito de Janeiro.

Um dos casos mais notórios é o do ex-comandante Militar do Planalto, Gustavo Henrique Dutra de Menezes, que teria impedido a Polícia Militar de desmobilizar acampamentos de golpistas na véspera do ataque terrorista. De forma sintomática, o ministro da Defesa, José Múcio, imediatamente deu declarações que circunscreviam a participação da caserna na trama totalitária à uma espécie de “banda pobre” do oficialato.

Perceba, não que eu esteja dizendo que ver generais denunciados por tramarem um golpe de estado seja algo trivial, mas não te parece pouco, muito pouco, diante do que vimos nos últimos anos?

Você realmente acredita que uma eventual punição dos supostos líderes do movimento golpista será capaz de modificar a própria estrutura das Forças Armadas brasileiras que, tem anos, vem desafiando e até ameaçando publicamente a combalida democracia brasileira? Lembram do que ocorreu às vésperas do julgamento de Lula pelo STF, da mensagem explícita do general Villas Boas? Essa não é uma história que começa e termina no governo Bolsonaro.

E por isso mesmo, não te parece perigoso que isso seja tratado dessa forma? Especialmente no cenário mundial atual, onde Donald Trump é novamente o presidente dos Estados Unidos, um sujeito que tranquilamente reconheceria o governo golpista de Jair Bolsonaro. Será que não foi justamente isso que faltou para a alta cúpula militar para aderir ao movimento encabeçado pelo ex-presidente, a falta de um apoio internacional? Será que não estamos diante de uma nova “omissão estratégica” da cúpula militar, como ocorreu em 1959?

Nesse sentido, é importante lembrar que o próprio ex-vice-presidente, o general Hamilton Mourão, escreveu em seu perfil no Twitter, ainda em 2022, durante o auge da conspiração, que os golpistas defendiam um golpe que colocaria o Brasil em uma “situação difícil perante a comunidade internacional”.

Será que o mesmo aconteceria agora?

Mais uma vez, não que eu ache que a denúncia e eventual prisão dos supostos líderes da conspiração não seja importante, apenas me pergunto se isso será o suficiente para impedir uma nova trama golpista."

ORLANDO CALHEIROS

CONFIRA MAIS GOLPES
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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

CRIMES DA CIA VALE DO RIO DOCE * Frente Revolucionária dos Trabalhadores/FRT

CRIMES DA CIA VALE DO RIO DOCE
"Lucro líquido da companhia em 2024 atingiu R$ 31,6 bilhões

A Vale, uma das maiores mineradoras do mundo, fechou 2024 com lucro líquido de R$ 31,6 bilhões, como resultado de um faturamento expressivo de R$ 203 bilhões. Do lucro total serão distribuídos R$ 9,14 bilhões de dividendos, enquanto as vítimas pelos crimes ocorridos na mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), e na barragem de Fundão em Mariana (MG), de propriedade da mineradora Samarco, controlada pelas empresas Vale e BHP Billiton, aguardam por indenização justa.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ficou em R$ 80,1 bilhões. As informações foram anunciadas na quarta-feira (19). A data para pagamento dos dividendos será no próximo mês de março tanto para os detentores de ações de emissão da Vale negociadas no Brasil, quanto aos detentores de American Depositary Receipts (ADRs), negociados na Bolsa de Nova York.

Os lucros gordos da companhia continuam acontecendo ano após ano, assim como os dividendos distribuídos aos acionistas, no entanto, reparações pelos crimes que vitimou dezenas de brasileiros, seus familiares e dezenas de municípios, continuam com pendências e sofrimento.

O rompimento da barragem de Brumadinho, que matou 270 brasileiros em 25 de janeiro de 2019, configurou-se na maior tragédia ambiental e humanitária do Brasil. Na época, a Agência Nacional de Mineração (ANM) divulgou relatório atestando que a tragédia poderia ter sido evitada se a Vale tivesse prestado informações corretas ao Sistema de Integrado de Gestão de Segurança de Barragens de Mineração (SIGBM).

JUSTIÇA!!
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domingo, 23 de fevereiro de 2025

DITADURA MILITAR ENTREGUISTA * Frente Revolucionária dos Trabalhadores/FRT

DITADURA MILITAR ENTREGUISTA
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VIRA-LATAS COMPLEXADOS ABANAM A CAUDA PARA TRUMP * Emerson Barros de Aguiar/PB

VIRA-LATAS COMPLEXADOS ABANAM A CAUDA PARA TRUMP
Emerson Barros de Aguiar/PB


Quando trato de viralatismo é importante dizer não estou me referindo ao nosso querido e respeitável “cão caramelo”, oficialmente reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Brasil por meio do Projeto de Lei 1897/23. O verdadeiro “vira-lata” é o direitista e o extremo-direitista que se envergonham da sua brasilidade, do seu povo e de sua história.
O fenômeno viralatista já foi cantado por Beth Carvalho em sua interpretação da canção “Corda no Pescoço”, de autoria de Adalto Magalha e Almir Guineto. “(...) morde o osso, mas da fruta que eles gostam, come até o caroço...”, dizia nossa afinada diva sambista, referindo-se ao cordão de puxa-sacos da gringaiada rica. Em sua composição “O Patrão Mandou”, Paulinho Soares tratou do mesmo tema: “O patrão mandou cantar com a língua enrolada. Everybody, macacada! Everybody, macacada! E também mandou servir uísque na feijoada. Do you like this, macacada? Do you like this, macacada? E ainda mandou tirar o nosso samba da parada. Very good, macacada! Very good, macacada!”

Jackson do Pandeiro, apesar do nome próprio anglo-saxão, também defendeu a nossa cultura frente ao “viralatismo”, ao cantar o primeiro verso da canção “Chiclete com Banana”: “eu só ponho be-bop no meu samba quando o Tio Sam pegar no tamborim..."

A expressão nelsonrodriguiana "complexo de vira-lata" sintetiza o sentimento de inferioridade e autodepreciação que a direita e a extrema-direita brasileiras nutrem em relação à sua própria cultura e identidade. O termo sugere que, diante de modelos estrangeiros considerados superiores, há uma tendência de minimizar ou desvalorizar as qualidades e realizações nacionais.

Os nazipobres, bonecos de ventríloquo da plutocracia rentista, acusaram injusta e falsamente o Ministro Haddad de aumentar impostos. Contudo, diante da tributação voraz de Trump, que anunciou a imposição de tarifas de até 25% sobre as importações, comemoraram.

Desde sua posse em janeiro de 2025, o presidente Donald Trump, implementou uma série de medidas tarifárias com o objetivo de proteger a economia americana e reduzir o déficit comercial, num conjunto de ações que incluem majorações brutais nas tarifas de importação e a introdução de novas taxas sobre produtos de diversos países.
Ao impor tarifas elevadas sobre produtos importados, Trump provoca os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos, que tendem a retaliar com medidas semelhantes, numa escalada que cria um ciclo de represálias que torna o ambiente de comércio internacional cada vez mais tenso, imprevisível e instável. O aumento das tarifas encarece os produtos para os consumidores, induz à inflação, diminui o volume de comércio e gera incerteza no mercado, o que desestimula investimentos e afeta as cadeias de suprimentos globais. A adoção de tais medidas não só impacta negativamente a economia dos países envolvidos, mas também pode desencadear uma série de retaliações que só agravariam a já delicada situação econômica global.

O isolamento da economia norte-americana estimula retaliações de outros países, gera instabilidade e incerteza, prejudica a cooperação econômica e aprofunda crises em economias mais vulneráveis. Trump tenta favorecer a economia norte-americana de maneira artificial, sem resolver seus problemas estruturais de produtividade e competitividade. Em vez de promover um desenvolvimento sustentável, a sobretaxação sobre as importações apenas transfere os custos para consumidores e empresas que dependem do aço estrangeiro, resultando em aumento de preços e perda de eficiência. Esse tipo de barreira comercial também intensifica as desigualdades globais, prejudicando países fornecedores, como o Brasil, que têm no setor siderúrgico uma importante fonte interna de empregos e exportações. Trata-se de uma ação de imperialismo econômico, que impõe dificuldades para nações que competem no mercado internacional enquanto favorecem grandes corporações domésticas.

A cegueira imposta pelo viralatismo é tão grande que os pobres de direita saúdam as medidas trumpistas que prejudicam as exportações nacionais. O aumento das taxas sobre a importação de aço brasileiro, anunciado por Trump, afeta negativamente o Brasil ao encarecer os seus produtos no mercado norte-americano, reduzindo sua competitividade. Com a elevação dos custos, as exportações de aço ficarão menos atrativas, o que provocará uma queda acentuada na demanda por parte dos compradores. Essa redução nas vendas afetará a produção e os empregos no setor siderúrgico e nas indústrias que dele dependem, além de desequilibrar a balança comercial do país.

O paradoxo de celebrar o seu algoz, transcende o mero complexo de vira-lata e já ingressa no campo das enfermidades psicológicas. Quem desenvolve um vínculo afetivo com o seu agressor sofre de “síndrome de Estocolmo”, o fenômeno assim batizado pelo criminologista e psiquiatra sueco Nils Bejerottor, em que a vítima passa a demonstrar simpatia por quem a ataca. Comemorar medidas que só prejudicam o Brasil, é um ato patológico que confirma uma mentalidade de submissão e de comemoração do próprio prejuízo.

Os vira-latas direitistas admiradores de Trump se inspiram na invenção de Thomas Adams, o chiclete, que apesar de só levar dentada, ainda gruda no dente.

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sábado, 22 de fevereiro de 2025

DOSSIÊ REFORMA AGRÁRIA * Frente Revolucionária dos Trabalhadores/FRT

DOSSIÊ REFORMA AGRÁRIA
*II JORNADAS NACIONALES DE EDUCACIÓN RURAL – COLOMBIA*
Retos contemporáneos y nuevas desigualdades en educación Rural
15 y 16 de mayo - 2025
Universidad Surcolombiana Neiva-Huila
MODALIDAD DE PARTICIPACIÓN
Ponencias.
Prácticas educativas rurales .
Experiencias solidarias.
EJES TEMÁTICOS
- El campesinado en la educación rural.
- Arte, juego e identidades en la educación.
- Memoria, paz y educaciones rurales.
- Nuevos y viejos conflictos territoriales.
- Interculturalidad y educación propia.
- Docentes rurales: retos y perspectivas.
- La investigación y la sistematización educativa.

FECHAS IMPORTANTES:

Registro resumen: hasta 28 de febrero de 2025: https://forms.gle/8x6cGJYuXmegnq7h9
Registro ponencia: hasta 14 de marzo de 2025
Mayor Información en:
Contactos:
(57)3127860956
(57)3192752480

CADERNO DE TEXTOS

AGRO JOGA FORA MAS NÃO DÁ NEM VENDE MAIS BARATO
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REFORMA AGRÁRIA NA MARRA

João Pedro Stédile, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), me disse certa vez que a maioria dos países já fizeram, desfizeram e refizeram a reforma agrária, enquanto que no Brasil até hoje não saiu do papel. Governos de diferente cor política se sucedem uns trás outros e nada acontece.

A redistribuição fundiária aconteceu na Europa com a Revolução Francesa (1789) que deu início aos grandes movimentos políticos pela reforma agrária na Modernidade. Já no século XIX, ocorre a reforma agrária nos Estados Unidos da América do Norte, de forma lenta e sem profundas influências políticas ideológicas. No México, a reforma agrária só aconteceu após a Revolução de 1910, liderada pelos camponeses Emiliano Zapata (1879 - 1919) e Pancho Villa (1878 - 1923), confiscando e redistribuindo propriedades de mais de dois mil hectares. No Brasil, após a implantação da Lei de Terras (1850), prática de apropriação e anexação de terras através de falsificação de documentos imobiliários (grilagem) por grandes proprietários, a concentração fundiária perdura até hoje.

As Ligas Camponesas, organização surgida em 1945, formadas pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi um movimento de fundamental importância da luta pela terra “a quem nela trabalha”. Após um interregno durante o governo Vargas, ressurgem em 1954, no início em Pernambuco e em seguida na Paraíba e outros estados, atuando de forma contundente até a derrocada do governo João Goulart (1919 - 1976) pela ditadura militar em 1964. Os seus líderes proeminentes foram Gregório Bezerra (1900 - 1983) e Francisco Julião (1915 - 1999), este último autor da célebre frase “reforma agrária na lei ou na marra”. E em 1984, após inúmeras lutas é fundado o MST, organizado em 24 estados da federação com 450 mil famílias que conquistaram a terra, produzindo alimentos de qualidade. Mas a reforma agrária, apesar desse intenso percurso histórico de lutas no campo, com centenas de mortos pela repressão policial (exemplos: Massacres de Corumbiara, Rondônia,1995 e Eldorado do Carajás, Pará, 1996) e a infinita papelada no labirinto jurídico/político dos órgãos do estado burguês, ainda não foi conquistada no Brasil.

Símbolo da resistência no campo, Elizabeth Teixeira - viúva do líder camponês João Pedro Teixeira, assassinado em 1962 - fez cem anos no dia 13 de fevereiro, quando teve início o Festival Cultural da Memória Camponesa em Sapé, Paraíba. Camponeses, movimentos sociais e autoridades participaram do evento na cidade e no Memorial das Ligas e Lutas Camponesas. O ministro do Desenvolvimento Agrário lhe foi apresentado: “Este é o Paulo Teixeira que vai fazer a reforma agrária” ao que ela respondeu “E é?”.

Carlos Pronzato
Cineasta, diretor teatral, poeta e escritor
Sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB)
*
REFORMA AGRÁRIA DE PETRO
*
AGRO NO PERU

Lei Climper 2.0: Mais exploração para os trabalhadores e lucros multimilionários para os agroexportadores

Por Cesar Zelada*

Apesar das severas críticas técnicas, a Comissão de Agricultura do Congresso da República acaba de aprovar uma Lei escandalosa chamada Climber 2.0. Até José Arista, ex-ministro da Economia e Finanças (MEF), questionou, indicando que, “…o custo fiscal desta proposta ascende a S/1.850 milhões anuais…”, (Infobae, 24/11/24). Além disso, apenas 18 empresas poderosas seriam beneficiadas. Segundo o pesquisador do GRADE Eduardo Zegarra, “…em 10 anos, que é o período de vigência da proposta do Congresso, o custo para os cofres públicos seria próximo de S/20.000 milhões…”, (AE, 28/11/24).

É verdade que a agroexportação criou mais de meio milhão de empregos. Mas os benefícios fiscais estaduais (redução do imposto de renda de 30% para 15%, depreciação acelerada, redução antecipada do IVA, etc.) não eram gratuitos. Os lucros tinham que ser reinvestidos em nosso país e criar empregos decentes. E não estamos falando de uma pequena quantia de dinheiro. O PIB dos poderosos agroexportadores aumentou de S/. 9,5 bilhões (anos 90) para S/. 33.000 milhões (2023). Estima-se que somente em 2023 os lucros dos agroexportadores foram de 74% e as vendas de 3% (LR, 24/11/24).

Para o renomado jornalista Paolo Benza, apesar de estar ciente dos enormes lucros e da deslealdade dos patrões, por causa de sua posição como jornalista corporativo, ele tenta justificar que a Petroperú gasta muito mais, etc. O que isso não indica é que os lucros multimilionários da agroexportação foram obtidos às custas da exploração fenomenal da classe trabalhadora agroexportadora (sem direitos trabalhistas), que nem sequer lhes permite estudar ou passar tempo adequado com suas famílias.

Justamente essas razões da semiescravidão foram as que produziram a revolta operária de novembro de 2020, quando Francisco Sagasti e Mirtha Vásquez eram presidentes do Executivo e do Legislativo, respectivamente. Após uma greve geral vitoriosa e inspiradora (com bloqueios de estradas) e o assassinato policial de jovens trabalhadores (Kanuner Rodríguez e Reynaldo Reyes), o Congresso foi forçado a revogar a Lei Climper.

Foi assim que surgiu a Lei Agrária 31310, que conseguiu algumas reivindicações limitadas como “mobilidade e alimentação… um bônus não remuneratório de 30% de 279 soles. O salário diário básico passaria assim de 39,19 para 48,48 soles…” No entanto, “…a remuneração diária e o CTS continuam a ser diluídos…os contratos de trabalho são mantidos…e o direito à negociação coletiva por ramo de atividade é negado…”, escrevemos na época (Prensa obrera, Tres obreros muertos, 04/01/21). Cabe destacar que existem “…2,2 milhões de unidades agrícolas, mas apenas 25.703 estão registradas na SUNAT, das quais apenas 3.511 estão abrangidas pelo Regime Agrário da Lei nº 31110…”, (Infobae, 24/11/24).

Em meio à crise política da época, foi aprovada a equalização do Imposto de Renda (IR) em até 25% e o aumento da contribuição patronal para o plano de saúde para 9% até 2025. No entanto, a nova lei Climper 2.0, que envolve um pacote de 15 medidas, reduz a contribuição do seguro para 6% e o IR para 15%. Para o dirigente Andy Requejo, "...a Lei é antidemocrática porque foi aprovada sem a participação dos diretamente afetados e por isso avaliarão as respectivas medidas de luta como Federação Regional de Trabalhadores Industriais e Agroexportadores de La Libertad, em coordenação com a FENTEAGRO e os trabalhadores do sul...", (19/02).

E de fato, em meio a um novo cenário onde a ditadura impôs um refluxo aos movimentos sociais, o elemento surpresa, uma declaração combativa das bases da CGTP (e outros sindicatos), um Plano de luta e uma Reunião Operária e Popular serão fundamentais para conseguir a unidade do movimento operário e derrotar esta nova ofensiva dos patrões abusivos que na época clamavam por "atirar nos trabalhadores".

*Diretor da revista The Worker Bee. Escritor e colaborador de vários meios de comunicação populares e da classe trabalhadora.
*
O QUE É QUESTÃO AGRÁRIA

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

O FASCISMO ODEIA LEIS * Frente Revolucionária dos Trabalhadores/FRT

O FASCISMO ODEIA LEIS
Frente Revolucionária dos Trabalhadores/FRT

NO CAMINHO COM MAIACOVSKI

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nota: Trecho do poema "NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI", muitas vezes erroneamente atribuído a Vladimir Maiakóvski. O poeta Eduardo Alves da Costa garantiu que Maiakóvski nada tem a ver com o poema, na Folha de São Paulo, edição de 20.9.2003.
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DONALD TRUMP E O FASCISMO
A violência do Chega é estratégica
CHEGA, PARTIDO FASCISTA PORTUGUÊS.

domingo, 16 de fevereiro de 2025

STF ESTÁ REVISANDO A ANISTIA * Cezar Xavier/Portal Vermelho

STF ESTÁ REVISANDO A ANISTIA
Cezar Xavier, do portal 

STF debate validade da Anistia em crimes da ditadura, como ocultação de cadáver.
Ministro Flávio Dino propõe tese de que o desaparecimento forçado – em casos como na Guerrilha do Araguaia – é crime permanente. Historiador Romualdo Pessoa analisa os impactos do julgamento.

O ministro Flávio Dino, relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF), apresentou em dezembro a tese de que o crime de ocultação de cadáver, como ocorreu em casos de desaparecimento de militantes na Guerrilha do Araguaia, é um delito permanente que não pode ser perdoado pela Lei de Anistia de 1979. O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria, na terça-feira (11), para decidir que a Corte vai analisar se a aplicação da Lei da Anistia ao crime de ocultação de cadáver no período da ditadura militar é constitucional.

“O sumiço dos corpos, sem que as famílias possam sepultá-los dignamente, configura uma dor irreparável e um crime que transcende o tempo”, afirmou Dino, defendendo que tais condutas devem ser excluídas dos benefícios da anistia.

O caso em questão surge a partir de um recurso do Ministério Público Federal, que busca a condenação dos militares Lício Maciel e Sebastião Curió – o Major Curió, que faleceu em 2022 – por crimes cometidos durante a Guerrilha do Araguaia. O MPF argumenta que, embora esses crimes tenham início durante a ditadura militar, seus efeitos permanecem vivos, causando sofrimento contínuo às famílias dos desaparecidos.

Repercussão geral e os ecos da ditadura

A discussão sobre a aplicação da Lei de Anistia a crimes que se estendem até os dias atuais ganhou força após a maioria dos ministros – entre eles Flávio Dino, Luiz Fux, Luís Roberto Barroso, Cármen Lúcia, Edson Fachin e Alexandre de Moraes – reconhecer a existência de matéria constitucional com repercussão geral. Essa decisão, se confirmada, terá efeito vinculante em casos semelhantes por todo o país, abrindo caminho para uma reavaliação dos limites da anistia em contextos de crimes permanentes.

Casos emblemáticos, como o desaparecimento de militantes na Guerrilha do Araguaia e a não localização do corpo do ex-deputado Rubens Paiva, continuam a simbolizar a dor de famílias que jamais puderam realizar um sepultamento digno. O impacto emocional e social desses eventos, exemplificado pelo filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, reforça a necessidade de se repensar os benefícios da Lei de Anistia.
História em movimento

O historiador Romualdo Pessoa Campos Filho, autor de livros sobre a Guerrilha do Araguaia, avaliou a relevância da decisão do STF. Em entrevista ao Portal Vermelho, ele destacou que o crime de ocultação de cadáver não perde sua validade com o passar do tempo e que a própria história está em constante movimento.
Romualdo Pessoa Campos Filho, historiador

“Isso não fecha a história, ela permanece aberta. A falta de resposta sobre o destino desses corpos é um crime que persiste e continua a afetar as famílias há mais de quatro décadas”, afirmou Romualdo.

Ele comparou a situação com a tragédia de Mariana, onde a busca pelos corpos perdurou mesmo anos após o desastre.

“Se os corpos fossem entregues às famílias, a comprovação seria clara. Mas o desaparecimento intencional e o acobertamento – com relatos de execuções frias, torturas e até queima de restos mortais – foram estratégias para ocultar a violência. Isso não pode ser ignorado nem perdoado”, completou o historiador.

Romualdo também ressaltou que decisões judiciais anteriores, como aquelas promovidas pela Corte Interamericana de Direitos Humanos e por procuradores de São Paulo, sempre demonstraram a necessidade de se retomar as investigações sobre esses crimes.

“Uma decisão do STF, mesmo que não resolva definitivamente a questão, reabrirá o debate e pressionará o Estado a prestar contas, garantindo que as famílias tenham o direito de encontrar e sepultar seus entes queridos”, enfatizou.

Ele ainda apontou que, historicamente, o desaparecimento forçado é reconhecido internacionalmente como um dos crimes mais graves, justamente por impedir que se confirme o que o Estado autoritário fez com as vítimas.

“Não se pode encerrar uma investigação se o corpo da vítima não for encontrado. Isso é uma marca indelével dos regimes autoritários e deve ser objeto de punição, para que não se repita”, concluiu Romualdo.

O desafio de revisitar a Anistia

A análise do STF se concentrará inicialmente na existência de repercussão geral, sem adentrar imediatamente no mérito da questão. Se reconhecida a relevância constitucional, o tribunal poderá rever a extensão da Lei de Anistia, questionando se crimes que continuam a causar dor – como a ocultação de cadáver – devem ser abrangidos pela legislação que concedeu perdão a delitos políticos entre 1961 e 1979.

Além do recurso envolvendo os militares da Guerrilha do Araguaia, o Ministério Público Federal busca que o STF revise a aplicação da anistia em processos relacionados à morte do ex-deputado Rubens Paiva, cujos restos nunca foram localizados, como tantos outros.

Expectativas e impactos futuros

Com a conclusão do julgamento prevista para sexta-feira (14), o país aguarda uma decisão que poderá redefinir os limites da impunidade para crimes cometidos durante o período da ditadura militar.
O resultado deste julgamento tem implicações profundas não só para a memória e os direitos das vítimas, mas também para a forma como o Brasil confronta seu passado autoritário e busca justiça e reparação.

A expectativa é que, ao reabrir a discussão sobre a validade da Lei de Anistia para crimes permanentes, o STF force o Estado a agir de maneira mais transparente e a dar respostas às famílias que, há décadas, aguardam a localização e o sepultamento de seus entes.

Esta decisão pode marcar um ponto de inflexão na história brasileira, reafirmando a importância de revisitar e corrigir os legados de um passado de violência e repressão.

Leia os principais trechos da entrevista com o historiador Romualdo Pessoa Campos Filho, autor de Guerrilha Do Araguaia A Esquerda Em Armas e Araguaia. Depois da Guerrilha, Outra Guerra:

Vermelho: Estamos acompanhando este julgamento no STF, em que o ministro Flávio Dino propôs essa tese dos crimes contínuos da ditadura, como a ocultação de cadáver. Sabendo que você acompanhou de perto a trajetória do pós-guerrilha da Araguaia, que repercussão uma decisão dessa pode ter?

Romualdo Pessoa Filho: Olha, César, essa questão já vinha sendo debatida por alguns procuradores de São Paulo. O crime de ocultação de cadáver não perde sua validade, é algo que permanece. Em termos históricos, a história nunca se fecha; ela está em constante movimento justamente pela falta de resposta sobre o destino desses corpos. Eu costumo comparar com a tragédia de Mariana, onde mais de 200 pessoas morreram e, dois anos depois, ainda se busca os restos mortais. Se, por exemplo, o penúltimo corpo foi encontrado recentemente, por que se recusa a indicar os locais onde foram depositados? Isso perpetua a angústia das famílias por mais de quatro décadas.

Já houve decisão judicial pedindo que o Exército liberasse arquivos sobre esses casos, mas nada foi cumprido. Você acha que, com um resultado positivo nesta sexta-feira, a maioria que está se formando no STF, algo vai mudar?

Não, mas… nunca foi pelo STF. Sempre foi tratado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, por uma juíza de Brasília – se não me engano, a doutora Solange Salgado – e por alguns trabalhos de procuradores de São Paulo. Essas questões sempre ficaram retidas no STF, sem discussão ampla. Acho que se o STF decidir agora, pelo menos reabrirá essa discussão e pressionará o próprio Estado a dar respostas.

Então, não significa uma solução, mas sim uma reabertura das investigações, certo?
Exatamente. Houve até uma tentativa de apagamento durante o governo Bolsonaro, e agora o governo Lula reconstituiu a Comissão de Mortos e Desaparecidos. Essa decisão do STF é importante, pois já há reação no meio militar; alguns veem isso como revanchismo. Mas, se temos um crime não solucionado, a busca pela justiça exige que os corpos sejam entregues às famílias. É, afinal, uma questão de justiça e da própria história – uma ferida que permanece aberta.

Parece que esse tipo de crime, a ocultação de cadáver ou o desaparecimento forçado, é considerado internacionalmente como um dos mais graves, pois é uma prática típica de regimes autoritários. Você concorda?

Sim, exatamente. Não se pode encerrar uma investigação se o corpo da vítima não é encontrado. Em casos de sequestro e execução, é natural buscar onde esses cadáveres foram escondidos. Do ponto de vista histórico, essa decisão é não só natural, mas já bastante tardia. É uma questão que nunca se fecha, e, para a história, é fundamental que isso aconteça.

Romualdo, que diferença faria se a ditadura tivesse matado essas pessoas e liberado os corpos para as famílias? Isso impactaria o processo de anistia?

Bom, se os corpos fossem entregues, a comprovação seria mais objetiva e clara. Poderiam ser exumados e verificada a forma das execuções. E é justamente por isso que os corpos não são entregues: para mascarar os fatos.

Então, o desaparecimento dos corpos serve para dizer que não houve violência, certo?
Isso mesmo. Eles desapareceram, muitos foram executados com tiros na nuca, torturados. Há depoimentos de ex-soldados, como o relato da execução de Valquiria, a última guerrilheira presa, que foi morta friamente. Esses corpos foram sumidos, levados para a Serra das Andorinhas ou queimados, muitas vezes envoltos em pneus, exatamente para não deixar marcas. Essa decisão do STF pode reabrir todas essas questões.

E quanto ao filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, que trata desses desaparecimentos – como ele influencia a conceituação da Lei de Anistia após um julgamento como esse? A atriz Fernanda Torres tem denunciado o fato da Lei da Anistia ter sido elaborada pelos próprios perpetradores dos crimes.
São situações diferentes. O crime de sequestro e execução não pode ser acobertado pela Lei de Anistia, que foi feita para proteger os executores. Tudo vai passar pelo crivo das decisões judiciais, mas depende da pressão das famílias e da sociedade organizada para que esses executores sejam punidos. Caso contrário, eles poderão sempre justificar suas ações, inclusive exigindo proteção legal. O filme já chama atenção para isto ao reabrir a discussão, e uma decisão do STF reforçaria a necessidade de revisão dessa lei.

Esse julgamento pode gerar repercussões futuras, criando um receio de como o Estado possa praticar esses crimes?

Sim, certamente. Uma decisão do STF nesse momento vai reabrir toda a discussão. O filme já fez isso de certa maneira, e o STF agora reforça a questão. Além disso, é importante que a juventude, que muitas vezes sofre um apagamento histórico, conheça verdadeiramente nossa história. Precisamos que as feridas sejam reabertas para que as novas gerações entendam as injustiças cometidas e lutem para que isso não se repita.

Por fim, Romualdo, que diferença faria se os corpos tivessem sido entregues às famílias? Isso mudaria o julgamento da anistia?

Sim, haveria uma diferença crucial. Se os corpos fossem entregues, a evidência da execução seria mais objetiva, permitindo uma comprovação clara dos fatos. A entrega dos corpos traria uma dimensão palpável da violência e eliminaria a possibilidade de se argumentar que os desaparecimentos não ocorreram. É exatamente essa recusa em entregar os corpos que perpetua a impunidade e a dor das famílias.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

COP 30 INCLUSIVA NA LEI OU NA MARRA * ERALDO PAULINO/BRASIL DE FATO

COP 30 INCLUSIVA NA LEI OU NA MARRA
Governo Barbalho recua e vai revogar lei que instituiu educação remota em comunidades indígenas
Após 23 dias de ocupação na Secretaria da Educação do Pará e bloqueios em rodovias, povos tradicionais venceram.

Em reunião realizada nesta quarta-feira (5), o governo de Hélder Barbalho (MDB) recuou e propôs acordo para revogação da lei 10.820/24, que institui o ensino à distância em comunidades indígenas. A mudança de postura do governo acontece após 23 dias de ocupação multiétnica da Secretaria de Educação do Pará (Seduc), de bloqueio parcial do quilômetro 83 da BR 163, no município de Belterra, região do Baixo Tapajós, e greve da rede pública estadual de educação.

O acordo foi firmado no início da tarde, na Secretaria de Planejamento do Pará (Seplad), em documento assinado por representantes governamentais, deputados, representantes de nações indígenas, quilombolas, ribeirinhos, comunidades tradicionais e do membros do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação Pública do Pará (Sintepp).

O acordo prevê, da parte do governo, enviar à Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) ainda nesta quarta um projeto de lei que revoga integralmente a lei 10.820, bem como desistir da ação judicial que pede abusividade da greve. Também aceita não punir e nem cortar ponto de grevistas, além de publicar decreto para criação de um Grupo de Trabalho para elaboração de uma nova lei para a educação pública do Pará, com participação de representantes do Sintepp.

Do lado dos manifestantes, fica firmado o compromisso de desocupação da Seduc, do desbloqueio de vias, além do encerramento da greve e da desistência do processo movido pelo Sintepp, cobrando revisão da lotação de professores.

Segundo a liderança indígena Poró Borari, da região do Baixo Tapajós, a desocupação da Seduc está condicionada ao envio do referido PL à Alepa. "Nós viemos aqui para o Palácio do Governo acompanhar o processo de envio do projeto de lei que vai revogar a lei 10.820, para aí sim decidirmos pela desocupação. Nós consideramos essa uma vitória, mas seguiremos vigilantes", avaliou o indígena. Segundo ele, a força das populações tradicionais foi mais uma vez demonstrada e a luta segue. "Caso o Hélder não cumpra com a palavra, não vai ter COP, porque nós vamos ocupar aeroportos, rodoviárias e portos", enfatizou.

"A assinatura do acordo, porém, pode se tornar sem efeito se a assembleia que pretendemos realizar amanhã (6) não aprovar os termos do documento", explica Beto Andrade, diretor do Sintepp. Segundo ele, se a categoria aprovar o documento, isso também significará o encerramento do movimento paredista, com uma vitória histórica da categoria e dos povos tradicionais do Pará. "Obviamente, o governo não aceitou colocar no acordo a exoneração do secretário de educação, Rossieli Soares, mas ele sai desse processo com a imagem desgastada e derrotado politicamente. E nós seguiremos cobrando a saída dele", conclui.

A professora Lidia Borari, que também faz parte da ocupação, reforça que, independente do prédio, a mobilização continua até que a revogação seja publicada no Diário Oficial do Estado do Pará. "Pelo termo de compromisso, a gente está verificando para onde vai essa ocupação agora. Porque no termo está que nós desocuparemos o prédio da Seduc. A gente está vendo se vai para o Palácio do Governo ou vai para Alepa".

Segundo a direção do Sintepp, o presidente da Alepa, deputado Chicão (MDB) explicou que o PL da revogação deve ser votado dia 18 de fevereiro, período após a recomposição das comissões temáticas e da apreciação do projeto por elas, que devem ocorrer na próxima semana. Enquanto isso, a primeira minuta da lei que vai propor a nova política de educação indígena seguirá o processo de consulta nas aldeias, com lideranças da ocupação se inserindo no GT que está discutindo essa proposição e no debate em si da minuta.

Da agressão a professores à ocupação

O governador Hélder gozava de uma recente vitória bastante significativa nas eleições municipais de 2024, quando o MDB, partido liderado pela família Barbalho, conseguiu ajudar a eleger 58% dos 144 mandatários municipais no estado, além de ter maioria aliada em boa parte nas Câmaras Municipais e na Alepa, onde, no último dia do funcionamento do calendário legislativo daquele ano aprovou, sem qualquer debate, o PL que revogava o antigo Estatuto do Magistério, tornando sem efeito várias conquistas da categoria, de pessoas com deficiência, de populações tradicionais. Isso incluia políticas públicas que foram frutos de décadas de luta, como o Sistema de Organização Modular de Ensino (Some), que beneficia comunidades com acessos mais complexos, incluindo comunidades quilombolas e aldeias indígenas.

Contudo, a mesma COP30, usada por Hélder como um grande capital político, fortaleceu os indígenas e impediu o uso da polícia, da mesma forma que se naturalizou fazer com outros manifestantes. Assim, os guerreiros indígenas, que deram várias lições de combatividade e de uso da comunicação popular, mantiveram a ocupação da Seduc, que chegou ao 23º dia ganhando apoio e solidariedade a nível internacional, sendo um dos principais fatores que provocaram o recuo do governo. "Quando nós chegamos, cortaram água, luz, colocaram gás lacrimogênio nos banheiros, mas não conseguiram nos tirar", recorda Alessandra Kroap, liderança Munduruku.

Ela recorda que, após a repercussão negativa, o governo tentou criar narrativas para desqualificar a luta da categoria da educação e dos indígenas. Tentou desatrelar a luta dos indígenas da categoria dos trabalhadores em educação, dividir os povos indígenas, e até acusou formalmente a ocupação de depredação do patrimônio. A indústria de desinformação montada por ele, porém, não apenas foi infrutífera, como resultou numa denúncia da Defensoria Pública da União (DPU) contra as fake news espalhadas pelo governo contra os povos originários.

"Tentaram dizer que somos massa de manobra do Sintepp, mas nós viemos pra cá [para a ocupação] convictos de que a educação não indígena também beneficia nosso povo. Também temos parentes professores, alunos da educação não indígena. E não aceitamos que só os aliados do governo falem por nós. Se quer fazer política pra indígena, tem que ouvir todos os indígenas", argumenta Alessandra. Ela também avalia que a não saída do secretário Rossieli causa revolta, mas considera que a ocupação, o bloqueio de BRs, a solidariedade dos movimentos sociais, a greve e toda repercussão das manifestações já manchou a imagem do governo Hélder, que sai menor dessa briga, "e com a certeza de que os povos indígenas são independentes e não se vendem."

Nesta segunda, vários protestos foram realizados pelos povos tradicionais, em diferentes regiões do estado, contra as ações do governo Barbalho na educação. Confira a reportagem em vídeo:

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Manifestações pela revogação da Lei 10.820 crescem apesar do governo
No Pará, aumentam as manifestações dos povos indígenas pela revogação da Lei 10.820, que retirou do texto a educação indígena e apresentou uma série de retrocessos para os trabalhadores da rede pública estadual. Segundo os manifestantes, o governador Hélder Barbalho tenta dividir o movimento.
Veja na reportagem de Eraldo Paulino, com colaboração da Agência Carta Amazônia.
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